O facto de certas palavras estarem dicionarizadas não significa que se usem efetivamente. É o que acontece com invitar, invitação ou invitamento, que o Dicionário Houaiss regista com a observação «pouco usado»:
«invitar. Estatística: pouco usado. Transitivo direto: Requisitar a presença, o comparecimento de; convidar»;
«invitação. Estatística: pouco usado. O mesmo que invitamento»;
«invitamento. Estatística: pouco usado. Ato ou efeito de invitar, de convidar; invitação, convite.»
As formas realmente usadas em português são convidar e convite.
Em falantes que tenham o espanhol por língua materna, afigura-se óbvio que, ao aprenderem português, o uso de invitar se faça por interferência. Contudo, pode supor-se que, do ponto de vista histórico, a disponibilidade de invitar seja, afinal, um castelhanismo, hipótese que choca com a posibilidade de corresponder a um latinismo diretamente introduzido na língua, como pretende o Dicionário Houaiss, que filia o verbo no latim invito, as, avi, atum, are, «convidar (para jantar, banquete, pousar); encorajar». Isto também não significa, mesmo assim, que o contacto com espanhol não tenha contribuído para a adoção de invitar por via dos intensos contactos culturais e literários entre portugueses e espanhóis nos séculos XVI e XVII.* Nesta perspetiva, o verbo em causa seria um arcaísmo, ou seja, uma palavra sem uso na norma atual. Mas não se pense que o verbo já teve emprego significativo: quem pesquise o Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira, depressa verifica que, em comparação com convidar, que tem 40 ocorrências em documentos do século XVI, a forma invitar figura só uma vez.
* «Foi importantíssima a influência "latinizante" do espanhol sobre o português renascentista», Fernando Venâncio, "Lusismos e galeguismos em espanhol. Uma revisão dos dados", Phrasis, 2008.