Não se encontra registado em nenhum dos recentes vocabulários ortográficos (AO 90) — Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (2009), da Academia Brasileira das Letras, Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (2009), da Porto Editora, e Vocabulário Ortográfico Português (2010), da responsabilidade do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) — qualquer termo como feminino de apóstolo, surgindo, neste último, a indicação para «apóstola»: «não registada; palavra não encontrada», o que nos leva a depreender que não está atestada.
Na mesma linha, os gramáticos Cunha e Cintra, em Nova Gramática do Português Contemporâneo (13.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 1997, p. 196), assim como Silveira Bueno, na sua Gramática Normativa da Língua Portuguesa (São Paulo, Ed. Saraiva, 1968, p. 164), colocam apóstolo — a par de algoz, cônjuge, indivíduo, criança, pessoa, testemunha, vítima — na lista dos substantivos sobrecomuns, «os que «têm um só género gramatical para designar os sexos».
Por sua vez, Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 2009), sem mencionar o caso de apóstolo, faz referência à «presença, cada vez mais acentuada, da mulher nas atividades profissionais que até bem pouco eram exclusivas ou quase exclusivas do homem, [o que] tem exigido que as línguas — não só o português — adaptem o seu sistema gramatical a estas novas realidades, [razão pela qual] já correm vitoriosos faz muito tempo femininos como mestra, professora, médica, advogada, engenheira, filóloga, juíza, entre tantos outros» (p. 134). No entanto, alerta, também, para o facto de «não haver [em muitos casos] uma regra generalizada na denominação para mulheres nas profissões» tidas como masculinas, como é o caso da hierarquia militar, pois «as convenções sociais e hierárquicas criaram usos particulares que nem sempre são unanimamente adotados na língua comum» (idem). Sobre a formação de femininos nas profissões, Bechara tem o cuidado de assinalar que «algumas formas femininas podem não vingar por se revestirem de sentido pejorativo: chefa e caba, por exemplo», o que é reiterado por Silveira Bueno ao focar a particularidade irónica de tais ocorrências em textos literários: «Em estilo humorístico encontramos nos mais abalizados mestres, tais como Castilho, Camilo e Rui Barbosa, femininos que não são o uso geral da língua: oficiala, frada, […], monstra, tipa, rapaza, capataza, indivídua, sujeita, verduga, membra, anjinha, bem como masculinos igualmente desusados: crianço, criaturo, pulgo, mariposo, modistos, etc.» (p. 163).
No entanto, apesar de nem as gramáticas, nem os dicionários, nem os vocabulários ortográficos indicarem uma forma feminina de apóstolo, o Dicionário dos Masculinos e Femininos (Rio de Janeiro, Liv. Freitas Bastos, 1960, de Aldo Canazio, regista apóstola como feminino de apóstolo, apresentando as seguintes abonações: «"Maria Madalena, apóstola de Nosso Senhor Jesus Cristo"(Marcos de Lisboa, apud Dic. Acad. de Lisboa); "A uma Santa Maria Madalena chama a Igreja Apóstola dos Apóstolos" (Sousa, ib.); "Caminhava uma hora o Senhor à cidade de Sicar na Província de Samaria, pera converter uma mulher ocasionada, e reduzi-la a melhor vida, fazendo-a apóstola de sua pessoa e doutrina, que assim lhe chama Orígenes" (Manoel Fernandes, ib.).»
Trata-se, portanto, de um exemplo de um dos casos que parecem não ter vingado, de que nos fala Bechara.