Vejamos algumas funções da partícula se.
1. Pronome reflexivo (ex.: «Ele lava-se.»)
2. Função apassivadora («Fazem-se casas.» → «Casas são feitas.»)
3. Palavra indeterminante do sujeito («Faz-se casas.» → «Alguém as faz.»; «Dar-se alguma coisa.» → «Alguém a dá.»; «Abrir-se alguma porta.» → «Alguém a abre.»)
Começamos normalmente pela gramática para nos situarmos no raciocínio linguístico. Em Ciberdúvidas e no nosso lema, as regras gramaticais são as margens entre as quais fluem as palavras. Mesmo quando nos libertamos pela estilística, as margens não podem ser ignoradas, para evitar erros grosseiros.
Ora, considerando as margens acima, pensamos que as expressões em causa se integram no último caso. Claro que estamos em presença do mito. Então diremos que se trata de Alguém, a Providência, Deus, que dá, abre:
«Pedi, e Deus dar-vos-á (o que pedis)».
«Batei, e Deus abrir-vos-á (a entrada)».
Mas, ainda no mito, também se pode supor que a dádiva é mesmo de Deus, que a abertura é para Deus. Então, sentimos que a função é reflexa:
«Pedi, e Deus dar-se-vos-á.»
«Batei à sua porta (sentido figurado), e Deus abrir-se-vos-á.»
Escolha-se dependendo daquilo com que se sonha. Estas parábolas, que já atravessaram vinte séculos, têm muitas vezes um infinito de interpretações.