Eu manteria temporigrófilo, porque o Acordo Ortográfico de 1990 (AO) é omisso sobre o uso de hífen neste tipo de compostos, chamados eruditos ou morfológicos. Os radicais intervenientes nestes compostos ocorrem sempre aglutinados, suprimindo-se, se for caso disso, o h inicial do segundo elemento (cf. Rebelo Gonçalves, Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, Coimbra, Atlântida Editora, 1947, págs. 250-252): cefalematoma < «cefal(o)- + hemat(o)- + -oma, com perda do h em hemat(o)-» (Dicionário Houaiss).
Outra coisa é falar de pseudoprefixos (também chamados falsos prefixos e prefixóides), usados na chamada recomposição, conforme se lê na Base XVI do AO. Estes elementos decorrem da truncação de compostos eruditos; por exemplo, telenovela apresenta o prefixóide tele-, alusivo ao que se transmite pela televisão e resultante da análise de um híbrido como televisão ou de um composto de origem totalmente grega como telegrama, em que tele- significa «longe». Um pseudoprefixo tem, portanto, uma génese diferente de um radical ou de outro elemento de origem grega e latina, e adquire assim uma significação própria (cf. Margarita Correia e Lúcia San Payo de Lemos, Inovação Lexical em Português, Lisboa, Edições Colibri/Associação de Professores de Português, 2005, pág. 88).
Contudo, no n.º 2 da Base XVI, parece não haver grande distinção entre recomposição e composição erudita quando se fala em duplicação de letra consonântica e aglutinação ao segundo elemento, quando este começa por vogal diferente da que termina o pseudoprefixo:
«2 Não se emprega, pois, o hífen:
a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia.
b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada também para os termos técnicos e científicos. Assim: antiaéreo, coeducaçao, extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.»
De qualquer modo, no que se refere aos compostos eruditos, o AO nada diz quanto ao uso ou não-uso de hífen, pelo que me parece de inferir que este sinal não se aplica a este tipo de compostos, mantendo-se a prática decorrente dos códigos ortográficos anteriores, no caso de Portugal, a do Acordo de 1945. Por outras palavras, não acho que aos compostos eruditos se tenha de aplicar o que se lê no n.º 1 a) da Base XVI do AO, a não ser que, entre as entidades responsáveis pela elaboração dos novos vocabulários ortográficos, se defina um critério segundo o qual os chamados compostos eruditos são tratados como casos de recomposição. Ora, não é isso que acontece, porque, retomando o exemplo de cefalematoma (ver acima), constata-se que a palavra não é tratada como um caso de recomposição, ou seja, não se escreve "cefalo-hematoma", mas, sim, cefalematoma nos três vocabulários actualmente disponíveis. Por conseguinte, é de esperar que se conserve a grafia eletroidráulico1, assim como é de supor que o neologismo em discussão tenha a forma temporigrófilo.
Mesmo assim, e porque os exemplos de pseudoprefixos apresentados na citação se podem confundir com radicais gregos e latinos (hidro- em hidroelétrico é mencionado como pseudoprefixo, mas é também radical), em situação de dúvida, convém sempre consultar um dos referidos vocabulários ortográficos.
1 Este exemplo não deixa de ser ambíguo, porque interpretável como um composto morfossintáctico com estrutura de coordenação. Se é assim, isto é, se a palavra for entendida como «eléctrico e hidráulico», não é de rejeitar a grafia eletro-hidráulico, não à luz da Base XVI do AO mas de harmonia com a Base XV do mesmo (sobre o hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares), a qual apresenta hifenizada uma palavra com estrutura semelhante: afro-asiático.