A análise feita na resposta A função de se na frase «Um ruído se fez ouvir» não se aplica às frases que apresenta, uma vez que o pronome se apassivante ocorre unicamente em estruturas passivas:
1. «Vendem-se casas.» = «Casas são vendidas.»
2. «Ouviu-se um ruído.» = «Um ruído foi ouvido.»
Em frases como «eu me fiz entender»; «nós nos fizemos entender», não estamos perante construções passivas, pelo que os pronomes me e nos não podem ser considerados morfemas passivos. Estes pronomes parecem comportar-se, sim, como partículas inerentes, ou seja, constituindo parte integrante do verbo fazer.
Segundo a gramática de Maria Helena Mateus, o se inerente é uma propriedade lexical do próprio verbo e distingue-se do se reflexo por não poder ser redobrado, ou seja, não poder coocorrer com expressões como «a mim/ti/si próprio(a)»:
3. * «Tu te ris a ti próprio.»
4. * «Eu me zango a mim própria.»
5. * «Eu me fiz entender a mim própria.»
6. * «Nós nos fizemos entender a nós próprios.»
Além do verbo pronominal fazer-se, encontramos também os pronomes inerentes em verbos como queixar-se, zangar-se, rir-se, arrepender-se, suicidar-se, entre outros.
Nota 1: o diacrítico * indica que a estrutura é agramatical.
Nota 2: no português do Brasil, com o se em posição de próclise. No português europeu, com o se em posição de ênclise.