Em nome da equipa do Ciberdúvidas, agradeço as palavras de apreço que nos dirigiu, esperando continuar a corresponder às expectativas dos nossos consulentes.
Após a consulta de vários dicionários1, apercebemo-nos de que a palavra efeito (do latim effectu-, «efeito; sucesso»), tanto no singular como na forma plural, não abrange o sentido de «objecto», de «pertences», de «bens» ou «coisas» materiais.
Associado, sobretudo, à ideia de «consequência», o valor de efeito inclui uma vasta gama de realidades: 1. «resultado produzido por uma causa»; 2. «realização concreta; concretização; execução»; 3. «intenção; intuito»; 4. «objectivo; finalidade»; 5. «aplicação (da lei, medida, etc.) com resultado prático»; 6. «eficácia; eficiência»; 7. «impressão; sensação»; 8. «prejuízo», sem se entrar nos domínios específicos da física, da economia, do cinema e da televisão («efeitos especiais») nem da farmácia («efeitos secundários).
Numa pesquisa Google encontra-se a locução «efeitos pessoais» enquanto sinónimo de consequências de um contrato que pode incidir sobre bens.
Por sua vez, «efeitos comerciais», «efeitos públicos» e «circulação de efeitos» são referidas como expressões do âmbito das finanças para designar, respectivamente, «valor; letra; livrança, títulos… representativos de um crédito a curto prazo», «títulos e valores emitidos e garantidos pelo Estado, departamentos ou estabelecimentos estatais e cotados na bolsa» e «valores negociáveis, nomeadamente, letras, promissórias, cheques».
Deve, decerto, ter sido o facto de a palavra efeito representar a ideia de «resultado» ou de «concretização» que levou a consulente a associar esta palavra a «bens», a «pertences» ou a «objectos», uma vez que os bens pessoais são, muitas vezes, fruto/resultado de uma opção de vida. Mas é também possível que se trata de influência do inglês, língua em que effects significa bens pessoais (cf. Oxford Advanced Learner´s Dictionary).2
1 Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (2004); Dicionário da Língua Portuguesa, da Verbo (2006); Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa (2001); Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001).
2 Agradecemos a Luciano Eduardo Oliveira a identificação deste anglicismo.