O adjetivo capaz exige qual preposição?
O Dicionário Prático de Regência Nominal de Luft diz que o adjetivo capaz pode exigir a preposição para:
«Para: Cidadão capaz [apto] para algo, para o trabalho. 'Vários tratantes e algumas pessoas capazes para intermédios'". (Garrett: Cruz)
Porém, achei apenas a preposição de em todos os dicionários consultados por mim (Priberam, Aulete...).
Desde já, agradeço-lhes a atenção.
Eis o que se encontra no Dicionário prático de regência nominal (1997, p. 90), de Celso P. Luft:
«CAPAZ a.
de: Capaz de algo. Homem capaz de tudo. "Todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil" (CCB, a. 2). Sala capaz de conter uma dezena de pessoas, "cinema capaz de receber 2.000 pessoas" (Aurélio). Medidas capazes de resolver um problema. "Gaitas, é capaz de chover [é possível que chova] qualquer dia" (Namora, TJ, 162).
para: Cidadão capaz [apto] para algo, para o trabalho. "Vários tratantes e algumas pessoas capazes para intermédios" (Garrett: Cruz). "Casa capaz [à altura] para receber tão grandes hóspedes" (Morais).»
A mesma lição é encontrada noutra obra de referência da área, a saber: o Dicionário de regimes de substantivos e adjetivos (2001, p. 76), de Francisco Fernandes:
«Capaz de, para:
"Há de mostrar-se (a monarquia) tão compatível com a democracia, tão capaz da liberdade, quanto a república, se não quer que esta acabe varrendo-a do continente republicano." (Rui, Queda do Império, I, 111.) "Torna-se de novo a alma capaz de receber impressões que a alegrem, e sente secreta satisfação." (Mário Barreto, Cartas Persas, 69.) "Verdugos capazes dum infanticídio, se necessário fosse." (Camilo, A Enjeitada, 129.) "Casa capaz para receber tão grandes hóspedes." (Morais.) "Nesta reincidência os médicos certificaram estar capaz Sua Majestade para as relações da coroa com o parlamento, mediante o uso do grande selo." (Rui, Queda do Império, II, 523.) "Ora, este acontecimento — capital na história da campanha e de que parecia decorrer o seu termo imediato, contra o que era de esperar, aviventou a insurreição.” (E. da Cunha, Os Sertões, 551.)»
No Corpus do Português (em linguagem jornalística, de 2012 a 2019), encontra-se mais de uma centena de usos de "capaz para". No Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, também se registra "capaz para".
O fato de ser pouco usado "capaz para" não implica inexistência. Assim, ambas as regências (capaz de, capaz para) são próprias da norma culta da língua portuguesa.
Sempre às ordens!
