Quando se trata de comparar línguas diferentes quanto às regências (isto é, em línguas que tenham complementos introduzidos por preposições, como a maior parte das originárias da Europa), não tem de se esperar que haja perfeita equivalência semântica entre essas regências, estejam elas associadas a verbos, nomes ou adjectivos. Basta lembrar que em francês se diz penser à quelque chose/quelqu´un (tradução literal: «pensar a alguma coisa/alguém»), com recurso à preposição à, enquanto em português o verbo pensar selecciona um complemento introduzido pela preposição em («pensar em alguma coisa/alguém»).
Deste modo, é natural que em inglês se use making fun of, com preposição of, geralmente traduzida por de, mas que a expressão possa ser globalmente traduzida em português por brincar com e gozar com, no sentido de «troçar».1 Apesar disso, note-se, making fun of encontra outras traduções que incluem a preposição de, que é a tradução mais usual de of: troçar de, fazer troça de, fazer pouco de. Mas não se deve esperar tal equivalência na maioria dos casos, pelo que convém não projectar as regências do português no estudo de línguas estrangeiras.
1 A respeito de brincar, o seu significado mais saliente é «entreter-se», seguido de um complemento introduzido pela preposição com: «o gato/a criança brinca com a bola». Pode também ser seguido da preposição a, em Portugal, e de, no Brasil, quando é o mesmo que «distrair-se com jogos infantis» («brincar aos médicos», no português europeu, e «brincar de médico», no português do Brasil). Gozar quando significa «fruir, beneficiar» («gozar de boa saúde), pode ter a preposição de.