Sobre a consoante vibrante simples – ou seja, um rótico, termo usado nos estudos especializados para referir as consoantes vibrantes1 – do português de Portugal, sabe-se, de facto, que há variação na sua pronúncia. Contudo, parecem escassas as descrições que apontem para a articulação aspirada ou assibilada dessa vibrante – sem isto querer dizer que não existam.
Geralmente, trata-se de uma consoante que pode ocorrer em quatro posições:
– entre vogais: nora;
– depois de consoante oclusiva ou fricativa (labiodental)2 e antes de vogal: cruel, gruta, dentro, medronho, sempre, abrir, fresco, livre;
– entre vogal e outra consoante: corta;
– ou, ainda, a fechar palavra – mar.
Em Portugal, esta consoante tem correspondido geralmente a uma vibrante alveolar simples (símbolo fonético [ɾ]), igual ou muito semelhante à que se ouve em espanhol, quando o r é intervocálico (para, ahora). Mas regionalmente – e, com maior frequência, entre falantes mais jovens –, esta consoante é produzida como vibrante simples retroflexa (símbolo fonético [ɽ]), a qual soa próxima do r mais corrente na língua inglesa (o que não tem de interpretar-se como anglicismo no contexto do português). Tem, no entanto, sido assinalado um desvozeamento do -r em final de palavra3, fenómeno que parece ir ao encontro da prolação aspirada que o consulente menciona.
1 O termo rótico é a «designação extensiva às unidades fonológicas simbolizadas no alfabeto latino pela letra r» (Infopédia).
2 As consoantes oclusivas são representadas pelos símbolos [k], [g], [p], [b], [t], [d]. As fricativas labiodentais são [f] e [v]. Sobre as consoantes do português, ler "O sistema fonético português".
3 O r simples pode, «[...] quando sucedid[o] por uma pausa, receber à sua direita a vogal [ɨ] ou ser, alternativamente, desvozeada e elidida» (Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013-2020, p. 3366).