DÚVIDAS

A pronominalização de «ser leal/fiel a alguém»

Em frases como as seguintes:

«Eu te sou leal.»

«Ela era-lhe fiel.»

as formas dativas te, lhe são consideradas como dativo ético, dativo de interesse ou complemento indireto?

Nesse contexto, o verbo ser é dito copulativo? O dativo ético é o mesmo que dativo de interesse?

Desde já grato ao vosso trabalho.

Resposta

Nos casos em apreço, as formas dativas do pronome desempenham a função de complemento do adjetivo.

Nas frases, o sintagma adjetival, composto por um núcleo adjetival, leal e fiel, poderia ser acompanhado por constituintes como os apresentados em (1) e (2):

(1) «Eu sou leal aos meus amigos

(2) «Eu sou fiel ao meu colega

Os constituintes «aos meus amigos» e «ao meu colega» desempenham a função de complemento do adjetivo e podem ser substituídos por um pronome clítico:

(1a) «Eu sou-lhes leal.»

(2a) «Eu sou-lhe fiel.»

Nas frases apresentadas pelo consulente, verifica-se a mesma situação. 

Por sua vez, o dativo ético e o dativo de interesse integram os chamados “dativos éticos”. Estes constituem termos que «aparecem sob forma de objeto indireto, nominal ou pronominal […] [e] não estão direta ou indiretamente ligados à esfera do predicado» (Bechara, Moderna Gramática Portuguesa. p. 350). Neste âmbito, o dativo de interesse indica quem beneficia da ação verbal:

(3) «Vive para os filhos

(4) «Abriu-me o livro na página certa.»

O dativo ético é comum na oralidade e é expresso por um pronome que fica fora do espaço do complemento indireto, como se observa na frase (5), na qual «às crianças» desempenha a função de complemento indireto:

(5) «Não me deem bolo às crianças»

O dativo ético, representado pelo pronome me, evidencia uma estratégia de captar a atenção do interlocutor e de o levar a concretizar a solicitação do locutor (cf. ibidem)

 

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