Nas aceções de «no âmbito de», «no domínio de», e seguida de expressão nominal, o uso atestado em Portugal favorece a expressão «ao nível de», pelo que, em princípio, se pode considerar «ao nível da informática» melhor que «a nível da informática». No entanto, não é fácil emitir um parecer sobre este tópico, pelas razões que a seguir exponho.
Deve, em primeiro lugar, assinalar-se que, em certos contextos, o uso destas expressões tem a desaprovação da tradição normativa, quer do Brasil quer de Portugal, países onde se considera tratar-se de formas palavrosas e inúteis de dizer o mesmo que de. Nesta perspetiva, considera-se que «uma reunião a nível do parlamento» é expressão substituível por «uma reunião parlamentar», muito mais económica. Observe-se, porém, que nem sempre a rejeição de «a/ao nível de» se justifica pelos mesmos motivos, consoante a crítica provenha do Brasil ou de Portugal.
A respeito do uso brasileiro, Maria Helena de Moura Neves, no Guia de Uso do Português (São Paulo, Editora Unesp, 2003, s. v. nível) faz o seguinte comentário:
«1. A expressão a nível de tem sido muito usada como equivalente dos simples de, como, em, e esse uso vem sendo condenado nas lições normativas. Na verdade, nesses casos, ela não acrescenta nada ao enunciado. Avalie-se a inconveniência que haveria se se substituíssem, nas frases seguintes, de, como e no pela expressão a nível de. O único inconveniente seria a presença do sócio minoritário nas reuniões de diretoria. [...] Terá ela essa coragem? Posso desejá-la, como romancista. Mas, como cristão, peço a Deus que ela não a tenha. [...] É sabido que o fenômeno urbano se manifestou no Brasil, muito tardiamente. [...]
«Entretanto, a expressão é bastante usada, e nos diversos tipos textuais. Pode ser feita A NÍVEL DE CAMPO, dispensando-se o uso das duas lonas [...]
«2. A expressão ao nível de corresponde a no mesmo nível de, à altura de. O cemitério surge de pouco em pouco, AO NÍVEL DE meus olhos [...].»
Em Portugal, a condenação de «a nível de» ou «ao nível de» é já antiga, apoiando-se no argumento de se tratar de galicismo espúrio; é o caso de Rodrigo de Sá Nogueira, em Dicionário de Problemas de Linguagem (Lisboa, Clássica Editora, 1989, pág. 41). Contudo, Énio Ramalho, no seu Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintáctico da Língua Portuguesa (Livraria Chardron de Lello e Irmão Editores, 1985), apresenta as duas formas, verificando-se que «a nível» surge associado a um adjetivo («a alto nível», «a nível regional/ministerial/internacional/interno/local/nacional/oficial»), enquanto «ao nível» se combina com uma expressão introduzida pela preposição de («ao nível das pequenas e médias empresas»). Quer num caso quer no outro, o significado veiculado é equivalente a «no domínio, na esfera, no âmbito de»). Também o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa regista só com este sentido a locução «ao nível» como subentrada de nível.
Em suma, é possível usar tanto «a nível de» como «ao nível de» na aceção de «no âmbito de». Em Portugal, as fontes consultadas sugerem uma preferência pela forma «ao nível de», enquanto no Brasil a forma «a nível de» é a que surge descrita.