Dizer que uma língua é um organismo vivo é uma metáfora. Sobre esta questão, Ernesto d'Andrade (História de Palavras — do Indo-Europeu ao Português, A. Santos, Lisboa, 2007, pág. 19) faz o seguinte comentário:
«[...] ao contrário de algum bom senso insensato, as línguas não são organismos vivos, que se desenvolvem e morrem. Não, a língua não é um organismo, não é uma vegetação que existe independentemente do homem, não tem vida própria que implique nascimento ou morte. A língua não é um ser organizado, não morre por si própria, não desfalece por si, não cresce, no sentido em que não tem infância nem idade madura ou velhice e, enfim, não desce. Nunca se assinalou na terra o nascimento de uma nova língua.»
Se são as pessoas que fazem a língua, então muito depende delas e da forma como se organizam. Uma nova palavra pode ser introduzida no léxico de qualquer língua como empréstimo de outra ou existir em potência: é o caso de certas palavra derivadas que os dicionários se dispensam de registar, como os adjectivos deverbais em -vel e os advérbios em -mente. Contudo, no caso do português, língua institucionalizada, isto é, língua oficial de Estados independentes, que constitui veículo de comunicação na administração, no ensino, na política, entre outras áreas de actividade, a dicionarização de palavras é considerada popularmente a entrada oficial da palavra no léxico.
Quanto a quem declara e aceita essa "entrada", existem, no conjunto dos países de língua portuguesa, duas instituições aparentemente com esse papel: a Academia das Ciências de Lisboa (ACL) e a Academia Brasileira de Letras (ABL), cuja influência ou autoridade é reconhecida na actividade lexicográfica. No caso da ACL, será preciso referir que a sua intervenção nem sempre é considerada relevante e nem sempre é aplaudida; por exemplo, a publicação do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea foi seguida de grande controvérsia quanto a certos critérios seguidos. Mas a ABL tem-se revelado actuante na normalização do idioma no Estado brasileiro.
É difícil afirmar que o trabalho destas instituições seja sistemático. Para alguns, o trabalho da ACL tem sido muito pouco significativo no processo de aplicação do Acordo Ortográfico de 1990; e, neste momento, ainda se aguarda uma nova edição do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. No caso da ABL, a sua actividade lexicográfica parece ter ganhado ímpeto nos últimos decénios, como demonstram as várias edições do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP): a 1.ª edição data de 1977; a 2.ª, de 1998; a 3.ª, de 1999; a 4.ª, de 2004; e a 5.ª, de 2009.
Sobre todos os aspectos aqui aflorados, recomendo a leitura de Dicionários Portugueses (Lisboa, Editorial Caminho, 2009), de Margarita Correia.