Relativamente a hidropisia, a palavra já era grafada desta forma antes do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) e não encontrámos qualquer registo da forma hidrópsia (cf. Portal da Língua Portuguesa, dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, Dicionário Houaiss, Priberam, Infopédia, entre outros).
Quanto a oligoâmnios ou oligâmnios, o AO90 também não vem alterar nada, uma vez que as alterações preceituadas no novo acordo dizem respeito à manutenção ou queda de hífen nas formações por prefixação, recomposição ou sufixação1.
Não conseguimos determinar se a forma correta é com ou sem a vogal final do prefixo; as duas formas são utilizadas na produção científica da área da medicina, embora pareça haver uma preponderância da opção oligoâmnio. O Dicionário Médico da Climepsi Editores, com adaptação e revisão da edição portuguesa por João Alves Falcato (3.ª edição, de março de 2004), apresenta a opção oligoâmnio («presença de menos de 200 ml de líquido amniótico na cavidade amniótica intacta durante os últimos meses da gravidez»). Por sua vez, o Dicionário de Termos Médicos de Manuel Freitas e Costa, da Porto Editora (edição de 2005), apresenta a opção oligâmnio («diminuição patológica de líquido amniótico»), referindo que este termo é sinónimo de oligoidrâmnio (também neste caso, além da elisão do h, esta fonte prevê uma queda da vogal final do prefixo grego hidro).
Assim, verifica-se que, por um lado, noutras palavras que exibem o prefixo oligo e ao qual se junta um vocábulo com a vogal [a] ou [ɐ] inicial, há uma queda da vogal, como em oligacanto («que tem poucos espinhos»)2. Por outro lado, a sequência oligoâmnio não oferece resistências aos falantes e parece ser, numa análise superficial das ocorrências em artigos médicos, a forma preferencial.
Tudo indica estarmos perante um caso de dupla grafia que não é alterado pelo AO90 e cuja definição passará, eventualmente, pela preponderância de uma forma, fruto do uso dos falantes.
1 Neste caso, e seguindo o texto do ponto 2, alínea b) da Base XVI do AO de 1990, visto que o prefixo oligo — antepositivo do gr. olígos,ê,on significando «pouco, em pequeno número ou em quantidade insuficiente», segundo o Dicionário Houaiss — termina em vogal e o segundo elemento âmnio (membrana em torno do embrião; saco ou cavidade amniótica) começa por vogal diferente, não se emprega hífen (situação diferente do termo oligo-hidrâmnio, em que o segundo termo se inicia por h).
2 O caso de oligarquia será diferente, visto ser um dos termos formados no próprio grego e que entraram depois no vocabulário português (cf. Dicionário Houaiss).