A palavra ilha não é resultado direto da evolução do latim ĪNSŬLA para o português.
Com efeito, os dicionários referem que o vocábulo terá origem noutro, de origem catalã – illa – o qual terá alcançado esta forma a partir do latim ĪNSŬLA. Diz o Dicionário Houaiss:
«[Do] laim insŭla, ae 'ilha, quarteirão cercado de ruas que o isolam do resto da cidade como o mar isola a ilha do resto das terras', por extensão [semântica] 'casa para alugar, ger[almente] uma pequena ilha pertencente a um mesmo proprietário que residia em seu centro', pelo catalão illa [...]
A mesma fonte acrescenta:
«[H]á a forma divergente "ínsua" (sXIII) mais consentânea com o étimo e documentada um século antes de ilha, mas o elemento inicial in-/i- faz supor que se trate de semicultismo; atribui-se à influência do espanhol e do catalão sobre o português a fixação da forma ilha e, nos derivados, uma equiparação dos radicais espanhol isl(a)- e português ilh(a)-.»
Sobre a palavra ilha, importa também saber o que se diz sobre a palavra correspondente no galego, no qual se escreve geralmente illa (há também quem escreva à portuguesa, ilha). Um linguista galego (Manuel Ferreiro, Gramática Histórica Galega, Edicións Laiovento, 1996, p. 165, n. 186), confirma a etimologia atribuída no Dicionário Houaiss:
«A forma illa (<ĪNSŬLA), seguramente importada do catalán, está especializada semanticamente ('do mar') fronte a insua ('do río').»
Quer isto dizer que a palavra chegou ao português (e ao galego) já com uma configuração muito semelhante, se não idêntica, à moderna. Então, como se passou do latim ĪNSŬLA ao catalão illa (o grafema ll representa um segmento fónico idêntico ou semelhante ao lh do português)? O linguista catalão Juan Corominas (ou Joan Coromines), no seu Diccionario Crítico Castellano y Español, propõe a seguinte explicação:
«[...] illa sólo puede salir de *iĭla < *isla (tal como almoina ‘limosna’, raima ‘resma’, vailet = fr. ant. vaslet, etc.); por otra parte, el port. ilha deberá explicarse de la misma manera, y difícilmente puede concebirse que esta tan evolucionada forma luso-catalana, también muy extendida en tierras occitanas, tenga nada de cultismo, tanto más cuanto que a poco que la síncopa de la U de INSULA se hubiese retrasado, el resultado portugués habría sido ciertamente *ísua.» [tradução livre: «illa só pode vir de *iĭla < *isla (tal como almoina ‘limosna’, raima ‘resma’, vailet = francês antigo vaslet, etc.); por outro lado, o português ilha deverá explicar-se da mesma maneira, e dificilmente pode conceber-se que esta tão evoluída forma luso-catalã, também muito difundida em terras occitanas, tenha alguma coisa de cultismo, tanto mais que, se a síncope do U de INSULA se tivesse atrasado um tanto, o resultado português teria sido certamente *ísua.»]
O linguista catalão explica, portanto, illa pela síncope do Ŭ de ĪNSŬLA, pela semivocalização do S e pela palatização da sequência ĭl, de acordo com o esquema: ĪNSŬLA > *isla > *iĭla > illa. No entanto, contrariando o que Corominas parece sugerir, estes fenómenos são estranhos à evolução dos dialetos galego-portugueses e, portanto, é duvidosa a possibilidade de ilha/illa ter surgido em português e em galego independentemente de illa, em catalão. Mas, se ilha tem efetivamente origem catalã, como pôde esta forma atravessar a Península Ibérica, sem sofrer a concorrência do castelhano isla, e passar ao galego e ao português? Trata-se de uma questão que fica aqui sem resposta