DÚVIDAS

Mais mal ou pior?
No domingo, dia 28 de Setembro [de 2003], lia-se em título no jornal “Público”: «Trabalho faz cada vez mais mal à saúde». Ora, considerada a minha aprendizagem já um pouco antiquada, eu usaria o adjetivo pior em substituição de mais mal. No entanto, e depois de consultar a vossa página, ainda fiquei mais confusa! Pergunto: será que, também neste exemplo, poder-se-á dizer/escrever das duas formas? (tenho plena consciência da evolução da língua, mas não se estará a cair em laxismos linguísticos?) Grata pela vossa ajuda/esclarecimento.
De novo o ter que ver/ter a ver/ter a haver, etc.
Antes de mais, parabéns à ilustre consultora dra. Edite Prada, que, com a humildade que só a grandeza e a competência permitem, se dignou responder – de forma, aliás, brilhante –, a uma pergunta recorrente no Ciberdúvidas e já aqui demasiadas vezes contornada sem honra nem mérito. O meu sincero aplauso, Senhora Doutora! Mas...há um "mas"! Com todo o respeito, parece-me haver um vício de pensamento que presidiu a todo o excelente trabalho de justificação do verbo ver: é a certeza, que não se ousou questionar, de que o verbo a empregar é este mesmo. Se bem repararmos, houve que fazer uma "ginástica de quebrar os ossos da razão" para que o verbo ver tenha lugar na frase em questão. A tal ponto que, para o efeito, nem ter nem ver podem significar o que significam (como é afirmado) para que, juntos, dêem à frase o sentido que "queremos" que ela tenha. Por outro lado, parece que, afinal, "nada ter a ver" não significará – de certeza, sem dúvidas – «estar relacionado», pelo menos a avaliar pelos exemplos apontados no final da resposta. Se assim é, não nos obrigará a racionalidade cartesiana a admitir, nem que seja como mera hipótese, que há duas frases parecidas a significar coisas distintas? E que uma terá tomado o lugar das duas (no caso, terá prevalecido a que emprega o verbo ver)? Será completamente descabido tentar encontrar justificação para o emprego do verbo haver em «isto nada tem que (ou a) haver com aquilo»? É que me parece dar bastante menos trabalho e ser bastante mais lógica e convincente do que a formulada para emprego de ver! Correndo o risco de ser impertinente pela insistência, volto à minha argumentação inicial: 1 – Haver significa, em primeira linha, «ter». 2 – A frase «isto nada tem que ver com aquilo» é sempre redundante, já que se limita a reforçar a frase «isto nada tem com aquilo», que significa o mesmo. Nesta frase, o emprego do verbo ter não oferece dúvidas. 3 – Na "não frase" «isto nada tem "a ter" com aquilo», o verbo ter seria utilizado exactamente com o mesmo significado as duas vezes, mantendo-se o sentido da frase. 4 – Porque a frase seria foneticamente (e não só...) impraticável, o verbo ter deu lugar a haver, que também significa «ter», para além de «receber», assim se mantendo e mesmo consolidando o sentido da mesma. 5 – Seria indiferente emprego do que ou do a, já que o sentido da frase se manteria em qualquer os casos. 6 – Nesta hipótese, ter e haver continuam a significar o que significam, sem necessidade de ter de os "perverter" para que a frase tenha o sentido que, de facto, tem – porque os verbos utilizados a esse mesmo sentido conduzem (ao contrário do que é, dignamente, admitido com o emprego de ver)! Tentei demonstrar, esforçadamente como se constatará, que, a não existir uma ideia ou regra fixa e incontornável que "obrigue" à rejeição liminar do haver em proveito do ver, a "justificação" para o emprego daquele seria bem mais simples e facilmente aceitável do que a elaborada à volta do uso deste. Desta forma se entenderia que o dicionário citado atribua a «nada ter que ver» significado completamente diferente de «estar relacionado», pela simples razão de que a frase que tal sentido terá é outra, ainda que outros também tenha: «nada ter que (ou a) haver». Em face do desenvolvimento que o assunto já teve, não ouso "exigir" uma "resposta" do Ciberdúvidas. Aqui fica, apenas, o registo das minhas dúvidas que, apesar de tudo, se mantêm. Obrigado à dra. Edite Prada.
Dois litros, duas moles, dois gramas...
Pesquisei o tema “Euro e euros” e obtive a resposta que procurava restando-me apenas uma dúvida para a qual solicito esclarecimento. Estou a fazer locução do seguinte texto: «O indivíduo atingiu uma taxa de alcoolémia de 2g/l às 20 horas.» Neste caso como devo ler? «2 gramas por litro» ou «2 grama por litro»? O facto de estar escrito com o símbolo e não por extenso obriga-me a ler «2 grama por litro»? Grato pela atenção.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa