Susana Ramos - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Susana Ramos
Susana Ramos
7K

Licenciada em Estudos Clássicos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e pós-graduada em Ensino do PLE/L2 pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi docente de Português L2/LE no Instituto Camões em Paris entre 2009 e 2010 e professora estagiária de PLE/L2 na Faculdade de Letras da Universidade do Porto entre 2010 e 2011.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual é a diferença entre termo e término?

Resposta:

A forma termo, pronunciada com o e fechado e proveniente do latim termĭnus, -i,1 é geralmente sinónimo de término, vocábulo que tem origem na mesma palavra latina. Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, termo significa «1. limite em relação ao espaço ou ao tempo; 2. período, época em que se deve efetuar qualquer coisa», e término significa «1. momento ou local em que algo acaba; 2. marca que limita um espaço ou uma propriedade». Ambos os vocábulos exprimem, portanto, a ideia de «fim» e «limite», seja em relação a um momento, seja em relação a um espaço.

Exemplos:

«Aquela mulher levou a gravidez a termo

«O término da Primeira Guerra Mundial deu-se em 1918.»

Contudo, ao contrário de término, o vocábulo termo pode ter outros significados conforme o contexto em que ocorre, como «palavra», «vocábulo» ou «registo escrito».

Exemplos:

Pergunta:

Com o novo acordo ortográfico, as notas musicais ainda levam acentos agudos? Em quais?

Obrigada!

Resposta:

Com a entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990, os nomes das notas musicais não sofreram alterações.

Como estamos perante monossílabos e palavras oxítonas (agudas) terminadas em vogais abertas -a, -e e -o, o acento agudo recai sobre estas, tal como se define na base VIII, "Da acentuação gráfica das palavras oxítonas":

«1. Acentuam-se com acento agudo:

«a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas abertas grafadas -a, -e ou -o, seguidas ou não de -s: está, estás, , olá; até, é, és, olé, pontapé(s); avó(s), dominó(s), paletó(s), só(s)

Sendo assim, em relação às denominações das notas musicais, continuam a escrever-se com acento agudo os substantivos , , e .

Pergunta:

Quando se usa a expressão quão?

Resposta:

O advérbio quão (do latim quam), seguido de adjetivo ou advérbio, ocorre em frases interrogativas diretas e indiretas, com os seguintes valores:

1. Grau (em interrogativas diretas)

Ex.: «Quão cansada estás?»

2. Intensidade (em contexto exclamativo)

Ex.: «Não imaginas quão feliz eu estou!»

3. Comparação

Ex.: «É tão bela quão inteligente.»

Note-se que o advérbio quão, numa interrogativa direta, pode ser substituído pela expressão «a que ponto»: «A que ponto estás cansada?». Em contexto exclamativo, como interrogativa indireta, pode ser substituído pelo advérbio como: «quanto»: «Não imaginas como eu estou feliz!» Finalmente, numa construção comparativa, é substituível por como e quanto: «É tão bela como/quanto inteligente.»

Pergunta:

[...] [D]eparei-me com esta questão:

«A palavra resmungar é derivada por: prefixação; sufixação, ou prefixação e sufixação?»

Já agora, qual é o radical desta palavra?

Obrigado.

Resposta:

O verbo resmungar não é uma palavra derivada, pois não resulta de um processo de sufixação nem de prefixação. Trata-se de vocábulo atestado desde o séc. XIII, que evoluiu do latim remussicare, «rosnar» ou «falar por entre os dentes», e significa hoje «dizer ou falar por entre os dentes» ou «falar em voz baixa e com mau humor» (cf. Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora – Infopédia, e Dicionário Eletrónico Houaiss da Língua Portuguesa). O seu radical é resmung-.

Pergunta:

Diz-se «estão 17 graus de temperatura», ou «está 17 graus de temperatura»?

Resposta:

Na frase «estão 17 graus de temperatura», o verbo copulativo estar deve apresentar-se na 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo, concordando com a expressão «17 graus de temperatura».1 Considera-se que o verbo estar é usado impessoalmente, e o sintagma nominal, em que figura o numeral cardinal dezassete a quantificar uma medida referida pelo substantivo graus, na forma plural, tem a função sintática de predicativo do sujeito. É legítima a concordância do verbo estar com o predicativo do sujeito; podemos dizer: «está 1 grau de temperatura», mas «estão dois graus de temperatura». Este comportamento reflete o que ocorre com o verbo ser, quando este é empregado impessoalmente, isto é, sem sujeito, nas designações de horas, datas e distâncias (Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, 37.ª edição, 2009, p. 673):

«São dez horas? Ainda não o são

«Hoje são 15 de agosto.»

«Da estação à fazenda são três léguas a cavalo.» [M. Said Ali.]

1 Não sendo impossível em Portugal, sente-se como típica do português do Brasil a construção com o verbo  fazer: «faz 17 graus». Neste caso, o verbo fazer é usado impessoalmente, e a expressão que refere a temperatura («17 graus», «frio», «calor») tem a função de complemento direto (cf. Dicionário UNESP do Português Contemporâneo, 2004, s.v. estar e fazer).