Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Encontrei na web o uso de «as/umas druidas» e consultei vários dicionários para verificar o feminino de druida". Só no Priberam online encontrei druidesa ou druidisa, e o de José Pedro Machado regista druidisa. Nem no da Academia das Ciências nem no Houaiss encontrei referências.

Assim, a minha questão é a seguinte: qual é o feminino de druida, e, no caso de se aceitar "druidesa" e "druidisa", alguma destas formas é preferente?

Muito obrigado!

Resposta:

Druida, «nome dos antigos sacerdotes gauleses e celtas que exerciam ainda funções pedagógicas e judiciais», tem como feminino, em português, as formas druidesadruidisa (sacerdotisa dos gauleses e bretões), segundo os dicionários Houaiss, Michaelis, AuletePriberam e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Línguas. Nada indica que há preferência por uma ou outra forma do feminino para nos referirmos a estas sacerdotisas, pelo que podem usar-se as duas grafias.

 

Nota: O dicionário em linha Infopédia, o Portal da Língua Portuguesa e o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa não atestam o feminino de druida.  

Pergunta:

Qual a regência verbal de observar-se? É correto dizer-se «ele observa-se no espelho», ou só poderemos dizer «observa-se ao espelho»?

Obrigado!

Resposta:

Há uma questão preliminar a ter em conta, que é a de estar em causa não a regência do verbo observar, mas as expressões adverbiais, ou melhor, os grupos preposicionais, «ao espelho» e «no espelho».

Feito o esclarecimento, refira-se que, no Dicionário Prático de Regência Verbal, de Celso Luft, ocorre apenas a expressão «no espelho», ou seja, parece dar-se entender que a forma correta é «observar-se no espelho». Por seu lado, o Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintático de Énio Ramalho parece contrariar esta conclusão, quando somente regista «ver-se ao espelho».

No entanto, ambas as expressões – «no espelho» e «ao espelho» – estão corretas e são usadas como sinónimas, conforme se pode verificar no Corpus do Português de Mark Davies. Ainda assim, é possível distinguir uma diferença semântica nas expressões «no/ao espelho» com verbos de visão/perceção. Com efeito, «observar-se ao espelho» marca  a maneira como se vê – «Depois, aliviado, olhei-me ao espelho» (David Mourão Ferreira, Tal e Qual o Que Era). Já «observar-se no espelho» pode ter um sentido locativo mais marcado – «Simão olhava-a...

Pergunta:

Gostaria de saber se, conforme o Acordo Ortográfico de 1945, se deveria gravar "antifé" ou "anti-fé".

Obrigado

Resposta:

Escreve-se antifé tanto na norma mais antiga como na que está em vigor.

Segundo o 3.º ponto da base 29 do Acordo Ortográfico de 1945 (AO45) os compostos formados com o prefixo anti são separados por hífen se o segundo elemento tiver vida à parte e começar por h, i, r e s, como por exemplo anti-higiénico, anti-ibérico, anti-religioso e anti-semita. Assim sendo, a grafia correta do exemplo apresentado é antifé, sem hífen. 

Já no Acordo Orotográfico em vigor (AO90), o emprego do hífen com o prefixo anti é diferente, ou seja, emprega-se o hífen quando o segundo elemento começa por h – anti-higiénico  e nas formações em que o segundo elemento se inicia por i  anti-ibérico. Ao contrário do AO45, se o segundo elemento se iniciar com s ou r não se coloca hífen, o procedimento a ter é duplicar-se a consoante  antirreligioso e antissemita. Também nas formações em que o segundo elemento se inicia com vogal, à exceção do 

Pergunta:

Qual é a transitividade do verbo pugnar? Na elaboração de uma frase é correto dizer: «Pugnou pelo indeferimento» ou «Pugnou o indeferimento»?

Resposta:

O verbo pugnar é atestado nos dicionários portugueses como transitivo  indireto, ou seja, ocorre com complemento preposicional. Neste caso, é precedido pelas preposições porcontra. Veja-se os exemplos:

1. «Ele pugnou pelo indiferimento»

2. «Ele pugnou contra a injustiça cometida»

Apesar deste uso como verbo transitivo indireto, que, segundo o Corpus do Português de Mike Davies, é o mais frequente, este verbo pode também ser transitivo direto, ou seja, ocorre com complemento direto. Com efeito, segundo o Dicionário Michaelis, o verbo pugnar , no sentido de tomar a defesa de alguém/alguma coisa», pode ocorrer sem preposição e com complemento direto: «Ele pugnou a escolha da sua irmã de ser atriz de teatro».

Os exemplos apresentados estão pois corretos, mas apresentam significados ligeiramente diferentes. Por um lado «pugnou pelo indeferimento» significa que alguém lutou pelo indeferimento;  por outro lado «pugnou o indeferimento» significa que defendeu o indeferimento. 

Só se fosse um <i>crustáceo</i>... e  bem gigante!...

Como (não) confundir uma baleia com uma lagosta ou um caranguejo...