Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

A palavra acarta está errada na seguinte frase? Deveria ser acarreta?

«Escrevo-lhe sobre um tema que tem estado em agenda e que necessita de clarificação e algumas elucidações, na vertente das repercussões que o mesmo acarta para a privacidade de cada um de nós.»

Obrigada!

Resposta:

O verbo acartar tem uso informal e, portanto, não é o mais adequado ao contexto em questão.

O uso do verbo acartar, na frase apresentada – «Escrevo-lhe sobre um tema que tem estado em agenda e que necessita de clarificação e algumas elucidações, na vertente das repercussões que o mesmo acarta para a privacidade de cada um de nós» – não está errado. Este verbo é sinónimo do outro sugerido – acarretar –, e, tal como este, poderá supor-se que tem entre as suas aceções a de «ter consequências, implicar», conforme o exemplo em apreço.

No entanto, é de salientar que o verbo acartar tem um uso mais popular e, por isso, é de uso mais informal. Assim sendo, e considerado que o exemplo foi retirado de e-mail, carta ou documento escrito com alguma formalidade, sugere-se o uso de acarretar: «[...]  na vertente das repercussões que o mesmo acarreta para a privacidade de cada um de nós.»

 

N. E. – Foram feitas alterações em 07/04/2020.

O ponto abreviativo... sempre tão esquecido
Obrigatório em qualquer abreviação

Mais um exemplo em que a omissão do obrigatório sinal abreviativo numa ordenação classificativa  – 1.º, 2.º, 3.º, 4.º...– faz (a)parecer um quadro da meteorologia com os respetivos graus da temperatura...

A bomba atómica e o combate científico e da medicina...
... com a confusão entre dois nomes japoneses

À volta da covid-19, muitos são os termos, as doenças e síndromes emergentes no espaço público. É o caso aludido na imagem ao lado –   uma doença inflamatória pouco comum que afeta principalmente crianças até aos cinco anos de idade –, com o nome confundido com uma das cidades japonesas bombardeadas com o único ataque nuclear perpetrado na História da Humanidade, realizado pelos  Estados Unidos  na II Guerra Mundial, em agosto de 1945.

Pergunta:

Qual o plural de «par de jarras», significando esta expressão «duas pessoas que andam sempre juntas» (linguagem coloquial)?

«O par de jarras» ou «os par de jarras», sendo que em cada uma das expressões nos queremos referir a apenas e só duas pessoas: qual é a forma correcta?

Possíveis usos:

a) «Desde que começou a quarentena, estou sempre a ver o par de jarras a deambular por aí»; ou b) «Desde que começou a quarentena, estou sempre a ver os par de jarras a deambular por aí»?

c) «O par de jarras vai ao baile»; ou d) «Os par de jarras vão ao baile»?

Obrigado!

Resposta:

O substantivo masculino par, no singular, refere-se a um conjunto de duas pessoas ou dois objetos. Por isso, quando nos referimos a duas pessoas em deambulação, como no exemplo apresentado, falamos de «um par de jarras».  Assim, nos exemplos apresentados o correto será «desde que começou a quarentena, estou sempre a ver o par de jarras a deambular por aí» e «o par de jarras vai ao baile». 

O consulente apresenta-nos, nos outros exemplos, a hipótese de o artigo estar pluralizado. Ora, para o artigo que antecede par ocorrer no plural, também o substantivo par o deve estar: «os  pares de jarras». Neste caso, não nos referimos a um grupo de duas pessoas, mas sim a dois ou mais grupos de duas pessoas cada um. 

Refira-se ainda que, pela expressão coloquial «par de jarras», quando nos referimos a pessoas, entendemos duas pessoas que andam sempre juntas. 

Pergunta:

Como se escreve: "sináptica", ou "sinática"?

Resposta:

O adjetivo relativo à sinapse e que tem origem no grego synapsé (e que chegou até nós pelo francês synapse) grafa-se sináptico/sináptica, pois este p pronuncia-se (não é um caso de consoante muda, conforme a definição da anterior ortografia, a do acordo de 1945, Base V). Veja-se a sua transcrição fonética: [siˈnaps(ə)]. Esta grafia é comum às duas variantes do português – português europeu e português do Brasil.