Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
100K

Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora
<i>Brain rot</i>: o neologismo que reflete <br>os desafios da era digital
Podridão cerebral

Brain rot foi a expressão escolhida como Palavra do Ano de 2024 pela Oxford University Press e descreve o efeito negativo associado do consumo excessivo e contínuo de conteúdo digital. Em português, tem prevalecido o uso da expressão inglesa, mas será que é facilmente traduzido para português? A esta pergunta responde a consultora Sara Mourato, num texto à volta de mais um neologismo. 

Pergunta:

Os nascidos na Malásia são malaios, e não malásios...

Ou também se pode usar "malásio"?

Resposta:

Os gentílicos correspondentes aos habitantes da Malásia é, de acordo com o Portal da Língua Portuguesa, malaio e malásio. A primeira é a forma mais corrente (cf. Código de Redação Interinstitucional), mas a segunda também encontra registo nos dicionários e está correta.

Nesse sentido, ao referir-nos a um grupo de habitantes desse país, usamos: «os malaios» ou «os malásios». Por outro lado, ao  referir a um único habitante, o gentílico surge no singular: «o malaio» ou «o malásio».

Pergunta:

Diz-se «a sorte grande e determinação» ou «a sorte grande e a terminação»?

Sempre pensei que fosse a primeira, mas hoje ouvi a segunda e fiquei com esta dúvida...

Obrigada!

Resposta:

A expressão em apreço vem do vocabulário das lotarias, mais especificamente da Lotaria Clássica portuguesa. No contexto do sorteio, o prémio principal era chamado de «sorte grande», enquanto os números que compartilhavam os últimos dígitos do bilhete premiado (mas não o número completo) recebiam um prémio menor, conhecido como «a terminação».

Com o tempo, a expressão passou a ser usada de forma figurada, significando obter o melhor resultado possível numa situação, ou alcançar tudo e mais alguma coisa com enorme sorte.

Pergunta:

Quando uma sigla cujo significado inclui um substantivo deve concordar com o artigo correspondente no/na.

Essa regra também é aplicada no caso de «com base em»? Por exemplo: «Elaboração própria com base no IBGE».

Ou deveria ser: «Elaboração própria com base em IBGE»?

Resposta:

IBGE é a sigla correspondente ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e, como a consulente corretamente aponta, quando a sigla representa um substantivo subentendido (neste caso, Instituto) que exige um artigo definido, deve-se utilizar o artigo correspondente: «o IBGE». Assim, a locução «com base» rege a preposição em, e, ao combinar-se com o artigo definido, resulta em «no IBGE». Portanto, a forma correta é: «Elaboração própria com base no IBGE».

Pergunta:

Quando dizemos que uma pessoa, que consideramos feia, é um camafeu (objeto de extrema beleza), qual é a figura de estilo que estamos a empregar?

Obrigado pelo vosso excelente trabalho.

Resposta:

Camafeu é uma «pedra preciosa de duas cores sobrepostas em que se esculpiu uma figura em alto-relevo» (Infopédia), mas este nome, como o consulente indica, usado de forma popular e pejorativa para nos referirmos a uma pessoa muito feia. Neste caso, a figura de estilo empregada é a ironia. 

A ironia ocorre quando se utiliza uma palavra ou expressão para dizer o contrário do que se quer realmente expressar, gerando um efeito de humor ou crítica. Nesse caso, o uso de camafeu para descrever uma pessoa feia é irónico, porque o termo carrega uma conotação de beleza e preciosidade, contrastando com a avaliação (negativa) feita da pessoa.