Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora
Falar (mal) em direto
Problemas linguísticos das transmissões ao vivo

A  diferença entre transmissões ao vivo e programas gravados, é que os primeiros não oferecem a flexibilidade de edição e correção que os últimos proporcionam. Por isso, por vezes ouve-se, como foi caso numa transmissão da CNN Portugal, que «Israel está sobre ameaça», «todas as casualidades» e «West Bank».

Pergunta:

Quais são os respetivos gentílicos das capitais da Argentina e do México?

Isso no idioma português. Sabem me dizer na realidade?

Muitíssimo obrigado e um grande abraço!

Resposta:

Os naturais de Buenos Aires, capital da argentina, são denominados: bonaerenses (com origem no espanhol bonaerense, natural de Buenos Aires, Argentina), buenairenses (com origem no topónimo Buenos Aires + -ense) ou portenhos (com origem no espanhol porteño, natural de Porto de Santa Maria, designação atribuída a Buenos Aires), de acordo com o Portal da Língua Portuguesa e o Dicionário Houaiss1.

Relativamente aos naturais da Cidade do México, de acordo com o Diccionario del Español del Mexico, são, em espanhol, capitalinos. Note-se que este mesmo dicionário atesta capitalino como: «pertencente à capital, especialmente a de um país, ou relacionado a ela; em particular, é natural ou habitante da Cidade do México».

Acresce que os dicionários consultados2 não atestam a forma capitalino em português, mas na Wikipédia também se atesta esta palavra como gentílico referente aos naturais  de Buenos Aires.

 

1 No Dicionário da Real Academia Espanhola afirma-se que portenho  (porteño) é o natural de Buenos Aires, enquanto bonaerense é...

Pergunta:

Aluísio Azevedo, em Casa de Pensão, pág. 233, diz: «Qual, nhô, ele está assim "a" um 'ror de dias!»

Não deveria ser «há» ou «faz um ror de dias»?

Muitíssimo obrigado!

Resposta:

À epoca em que o romance Casa de Pensão foi escrito, 1884, a grafia do verbo haver já estava incorreta. À semelhança daquilo que se pratica hoje, o correto seria «Qual, nhô, ele está assim há um ror de dias!»

Entenda-se que a expressão, em que ror significa «uma grande quantidade de» (Dicionário da Língua Portuguesa), constitui uma expressão de tempo, em que se indica a duração de tempo decorrido até ao momento presente e, por isso, é precedida pelo verbo haver ou, em alternativa, o verbo fazer: «faz um ror de dias».

Pergunta:

Escrevemos numa ficha «lê o texto e copia-o» ou «copia-lo para o computador»?

Resposta:

Analisemos a pergunta em dois cenários diferentes.

Se, num primeiro cenário, analisarmos os exemplos isoladamente, então é possível afirmar que ambas as formas estão corretas. Os tempos verbais e os modos são distintos em cada uma delas, daí ter de se colocar um -l antes do clítico numa das frases. Veja-se os exemplos dados:

(1) «(Tu) lê o texto e copia o texto» = «(Tu) lê o texto e copia-o»

(2) «(Tu) copias o texto para o computador?» = «(Tu) copia-lo para o computador?»

Em (1) a frase está no imperativo e o verbo, que corresponde à segunda pessoa do singular, termina em vogal. Quando substituímos o complemento direto pelo pronome o, não há nenhuma regra que deva ser aplicada.

Contudo, em (2), a situação é outra: o verbo copiar, que corresponde também à segunda pessoa do singular, está no presente do indicativo e termina em -s. Nestes casos, em que os verbos terminam em -s (assim como em -z-r), a consoante cai e acrescenta-se um -l ao pronome do complemento direto. 

Num segundo cenário, podemos assumir que a o enunciado completo seria:

(3) «(Tu) lê o texto e copia-o para o computador».

Neste caso, e dado o exposto acima, não se acrescenta o -l ao pronome clítico.

Para o fazer, o enunciado seria diferente:

(4) «(Tu) lês o texto e copia-lo para o computador.»

Por fim, repare-se num outro exemplo que também tem um tratamento especial:

(3) «(Vocês) copiam o texto para o computador?» = «(Vocês) copiam-no para o computador?»

Em (3) o verbo, no presente do indicativo, na terceira pessoa do plural, termina em -m, e, nestes casos, assim como em casos em que os verbos terminam em -ão-õe, ...

O neologismo <i>pele-limpa</i>
Agentes secretos e anglicismos

Na época atual, caracterizada por rápidas mudanças e um clima de conflito, surge mais um neologismo que reflete uma nova preocupação no âmbito da defesa: peles-limpas. A consultora Sara Mourato explora a origem e o significado por trás dessa expressão num apontamento que realça a adaptação da linguagem às mutações da política internacional.