Estará correta a expressão «mandato de captura»? Não, claro, mas, devido à aproximação fonética entre mandato e mandado, a pivô da CNN Portugal usou a palavra errada, não uma, mas quatro vezes.
Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.
Estará correta a expressão «mandato de captura»? Não, claro, mas, devido à aproximação fonética entre mandato e mandado, a pivô da CNN Portugal usou a palavra errada, não uma, mas quatro vezes.
Gostaria de saber se os verbos adiar e agradecer se regem por alguma preposição. Consultei várias fontes e não consegui encontrar. Desta forma, deve dizer-se:
(I) Não faças ainda o relatório. Acho que o podes adiar uma hora.
ou:
(II) Não faças ainda o relatório. Acho que o podes adiar por uma hora.
Quanto ao verbo agradecer:
(III) Com amabilidade, o empregado de mesas levou-lhe a fatura e agradeceu-lhe a generosa gratificação.
ou:
(IV) Com amabilidade, o empregado de mesas levou-lhe a fatura e agradeceu-lhe pela generosa gratificação.
Obrigada!
De acordo com o Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses (editado sob a direção do professor João Malaca Casteleiro), os verbos adiar e agradecer apresentam regências diferentes que devem ser respeitadas na norma-padrão.
O verbo adiar é transitivo direto, ligando-se, portanto, ao complemento direto sem necessidade de preposição. Assim, a frase correta é:
(1) «Não faças ainda o relatório. Acho que o podes adiar uma hora.»
Em (1), adiar não rege preposição, visto que é verbo transitivo e seleciona um complemento direto realizado pelo pronome o.
É de realçar que, na mesma frase, ocorre uma expressão adverbial de valor durativo sem preposição – «uma hora» –, a qual pode também ser corretamente introduzida por preposição – «podes adiar por uma hora». Neste caso, tanto «uma hora» como «por uma hora» são modificadores do grupo verbal, e, sendo assim, a preposição por, quando ocorre, não configura regência e não introduz um complemento verbal (complemento oblíquo).
Já o verbo agradecer é transitivo direto e indireto. Na frase apresentada, «a generosa gratificação» é complemento direto e, por essa razão, não é antecedido de preposição. Assim, aceita-se:
(2) «Com amabilidade, o empregado de mesas levou-lhe a fatura e agradeceu-lhe a generosa g...
Deve dizer-se «consolidação de conhecimentos» ou «solidificação de conhecimentos»?
Ambas as opções estão corretas, mas apresentam ligeiras diferenças de uso.
No dicionário Houaiss, consolidação é definido como o ato ou efeito de tornar(-se) sólido, firme, estável, aplicando-se por metáfora ao processo de estabilizar uma característica, uma instituição ou algo semelhante, como em «a consolidação da democracia» ou «a consolidação do caráter». Solidificação, segundo a mesma fonte, pode referir-se, também por metáfora, à passagem de uma fase de instabilidade e insegurança a uma situação estável, como em «a solidificação das conquistas sociais» (ibidem). Por outras palavras, os nomes em questão são praticamente sinónimos, e, em princípio, «consolidação de conhecimentos» e «solidificação de conhecimentos» são expressões equivalentes e corretas.
Contudo, uma consulta do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e do Corpus do Português confirma que consolidação aceita como complemento uma expressão nominal cujo núcleo é realizado por nome de significado abstrato (democracia, caráter, conhecimentos). Por seu lado, solidificação ocorre sobretudo literalmente, na aceção de «passagem do estado líquido ao estado sólido» («solidificação de água/magma/platina»).
Recomenda-se, por isso, o uso de consolidação quando se pretende referir a estabilização ou fixação de conhecimentos, pelo que «consolidação de conhecimentos» é mais corrente do que a expressão «solidificação de conhe...
Nos últimos anos, o termo athleisure tem ganhado popularidade na moda, refletindo a fusão entre roupas desportivas e estilo casual. Assim como outros neologismos, esta expressão em inglês tem sido adotada no português sem adaptação, levantando questões sobre os estrangeirismos na língua. A consultora Sara Mourato explora o significado do termo e a possibilidade de encontrar uma alternativa em português.
Pode-se dizer antiguíssimo, ou só antiquíssimo é correto?
E o superlativo de bom, pode ser boníssimo?
A forma antiquíssimo é tradicionalmente considerada a forma correta do grau superlativo absoluto sintético de antigo. A formação do superlativo tem por base o radical da palavra em latim clássico (antiqu-, de antiquus), como outros superlativos transmitidos por via erudita (frigidíssimo, nobilíssimo). Antiquíssimo é, portanto, a forma clássica e normativa. No entanto, a forma antiguíssimo também pode ser usada, pois segue o padrão mais produtivo e regular de formação de superlativos em português – acrescentando o sufixo -íssimo ao radical do adjetivo antigo. Essa flexibilidade ocorre porque a língua permite, especialmente em contextos menos formais, o uso de variantes que sigam as regras gerais de derivação. Apesar disso, antiquíssimo é a forma mais consagrada e geralmente preferida em contextos formais ou literários.
Relativamente ao superlativo absoluto sintético de bom, é ótimo, uma forma irregular que também vem do latim (optimus). Assim, em contextos normativos e formais, ótimo é a forma correta e aceite. Contudo, à semelhança de antiguíssimo, a formação de boníssimo não está errada, uma vez que segue também as regras gerais de derivação em português, com o acréscimo do sufixo -íssimo ao radical do adjetivo. Embora pouco usada, essa forma pode ocorrer em situações informais ou até em usos literários.
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