Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

No manual de Português de 9.º ano Focus, o quadro que explica a perifrástica é um pouco ambíguo. Não consigo perceber a diferença entre os seguintes significados: realização prolongada da acção e realização progressiva da acção. Se puderem ajudar-me, agradeço.

Resposta:

As designações que refere inserem-se no âmbito do aspecto, que é uma categoria gramatical que nos dá informação acerca do início, do curso e do fim da acção expressa pelo verbo.

O valor aspectual pode ser expresso por diferentes processos, e, por isso, podemos distinguir o aspecto lexical e o aspecto gramatical.

O aspecto lexical diz respeito ao conteúdo semântico transmitido pelo verbo, ou seja, ao significado intrínseco ao próprio verbo. Por exemplo:

(1) «O bebé dormiu a sesta.»

(2) «O treinador jantou com os jogadores.»

(3) «A Constança dançou a valsa com o André.»

Nestes três exemplos, estamos perante a realização prolongada da acção, uma vez que cada um dos verbos exprime, por si só, situações às quais está associada uma determinada duração.

A realização progressiva da acção, por sua vez, insere-se no âmbito do aspecto gramatical, que diz respeito ao valor expresso por certos tempos verbais e também por elementos externos ao verbo: advérbios, locuções adverbiais, verbos auxiliares, etc. Por exemplo:

(4) «A Alzira está a fazer uma deliciosa tarte de maçã.»

(5) «Todos os dias durante as férias, o Pedro enviou postais à namorada.»

(6) «Quando a Catarina era mais nova, faz...

Pergunta:

Gostaria de saber a função sintáctica da expressão destacada: «A rapariga, entusiasmada, sorriu.»

Sei que o aposto é um nome que se junta a outro nome para o caracterizar e coloca-se separado por vírgulas, enquanto o atributo é um adjectivo ligado directamente a um nome.

Obrigada.

Resposta:

A expressão entusiasmada desempenha a função sintáctica de aposto (ou modificador do nome apositivo, de acordo com a nova terminologia linguística).

O aposto surge sempre separado por vírgulas, normalmente à direita do nome que modifica e tem por função dar-nos uma informação adicional acerca do mesmo.

Numa perspectiva tradicional, o aposto era uma função sintáctica exclusiva de um nome ou grupo nominal; contudo, estudos de sintaxe contemporâneos assumem que o aposto pode ser igualmente representado por:

— Um adjectivo ou grupo adjectival:

(1) «A rapariga, entusiasmada, sorriu.»

— Um grupo preposicional:

(2) «A rapariga, de rosto corado, sorriu.»

— Uma frase — oração subordinada relativa explicativa:

(3) «A rapariga, que temia as câmaras fotográficas, limitava-se a sorrir.»

O atributo (ou modificador do nome restritivo, de acordo com a nova terminologia linguística), por sua vez, surge directamente ligado ao nome que modifica (i. e., sem estar separado por vírgulas), tem por função restringir a referência desse nome e pode ser representado por:

— Um adjectivo ou grupo adjectival:

(4) «Ele conheceu a rapariga misteriosa

— Um grupo preposicional:

(5) «Ele conheceu a rapariga de c...

Pergunta:

Qual a origem da palavra calmeirona?

Resposta:

Toda a bibliografia que consultei refere que a palavra calmeirona provém de calmeiro + -ão (que, por sua vez, resulta de calma + -eiro), e significa «pessoa que é muito calma, serena» ou «pessoa molengona, preguiçosa».

Esta palavra assumiu posteriormente, num registo popular, o significado de «pessoa corpulenta».

Disponha sempre!

Pergunta:

Agradeço a muito circunstanciada explicação, de 06/Fev./2008, à questão que colocara em 29/Jan./2008.
Ainda assim, permita-se-me um exercício, relativamente ao qual não fico inteiramente seguro.
Suponhamos o seguinte diálogo:

— Quem foram os vencedores, eles ou os outros?

— Foram eles, os vencedores foram eles!

Se não estou equivocado, a frase da resposta — enfática, explicativa, é certo — contém duas orações: 1.ª oração, «Foram eles»; 2.ª oração, «os vencedores foram eles!».

A minha dúvida: é aceitável, se bem entendo a explicação da Dra. Sandra Duarte Tavares, que o sujeito da 1.ª oração seja «eles» (eu sustentaria que o sujeito, subentendido, não é outro senão «os vencedores»), enquanto, na 2.ª, o sujeito é «os vencedores», sendo «eles» nome predicativo do sujeito? Ou será que «eles» é sujeito nas duas orações? Não me parece... Intuitivamente, diria que «eles» constitui nome predicativo do sujeito tanto na 1.ª como na 2.ª oração.

De resto, não veria qualquer diferença de sentido se, naquele diálogo, a resposta, em vez da que foi dada, fosse «Foram eles, foram eles os vencedores!». Do mesmo modo, não veria qualquer alteração nas funções sintácticas dos elementos em presença.

E se, por acaso, os vencedores tivessem sido «os outros»?...

Onde está o vício no meu raciocínio?

Muito obrigado e desculpem a insistência.

Resposta:

O sujeito de uma oração é definido como a expressão nominal que desencadeia a concordância verbal e que pode ser substituído por um pronome pessoal nominativo (eu, tu, ele, nós, vós, eles).

No entanto, quando estamos perante um verbo predicativo, nomeadamente o verbo ser identificacional, a concordância, por vezes, é feita com o predicativo e não com o sujeito:

(1) «A vida não são rosas

(2) ?? «A vida não é rosas.»

Se, neste caso, o teste da concordância não nos esclarece acerca do sujeito, passemos a outros testes sintá{#c|}ticos:

(a) Teste da pronominalização em nominativo:

(3) «O João é o médico de serviço.»

(4) «Ele é o médico de serviço.»

(5)  ?? «O João é ele.»

Pela agramaticalidade de (5), podemos concluir que o grupo nominal «o João» é o sujeito da frase.

(b) Substituição do predicativo pelo pronome demonstrativo invariável -o. O predicativo do sujeito é a expressão que puder ser substituída por esse pronome.

(6) «A vida não são rosas, e o casamento também não o é.»

Dada a gramaticalidade desta frase, comprovamos que «rosas» é o predicativo do sujeito.

Aplicando este teste às frases que apresenta, verificamos que a expressão «os vencedores» é, e...

Pergunta:

Na frase «Eles comeram a refeição dos pastores», qual é a função sintáctica de «a refeição dos pastores»?

Resposta:

A expressão «a refeição dos pastores» tem a função sintáctica de complemento directo.

Esta é a função desempenhada por um grupo nominal, substituível por um pronome pessoal acusativo (-me, -te, -o/-a, -nos, -vos, -os/-as): «Eles comeram-na