Pergunta:
A análise feita na consulta A função de se na frase «Um ruído se fez ouvir» também se aplica a frases tais como: «Eu me fiz entender»; «nós nos fizemos entender»? Me e nos seriam então pronomes apassivantes?
Obrigado.
Resposta:
A análise feita na resposta A função de se na frase «Um ruído se fez ouvir» não se aplica às frases que apresenta, uma vez que o pronome se apassivante ocorre unicamente em estruturas passivas:
1. «Vendem-se casas.» = «Casas são vendidas.»
2. «Ouviu-se um ruído.» = «Um ruído foi ouvido.»
Em frases como «eu me fiz entender»; «nós nos fizemos entender», não estamos perante construções passivas, pelo que os pronomes me e nos não podem ser considerados morfemas passivos. Estes pronomes parecem comportar-se, sim, como partículas inerentes, ou seja, constituindo parte integrante do verbo fazer.
Segundo a gramática de Maria Helena Mateus, o se inerente é uma propriedade lexical do próprio verbo e distingue-se do se reflexo por não poder ser redobrado, ou seja, não poder coocorrer com expressões como «a mim/ti/si próprio(a)»:
3. * «Tu te ris a ti próprio.»
4. * «Eu me zango a mim própria.»
5. * «Eu me fiz entender a mim própria.»
6. * «Nós nos fizemos entender a nós próprios.»
Além do verbo pronominal fazer-se, encontramos também os pronomes inerentes em verbos como queixar-se, zangar-se, rir-se, arre...