Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Muitos autores escrevem a "lusoafricano" em vez de luso-africano, como me parece correta, à semelhança de luso-brasileiro. Já lusodescendente, com o novo Acordo, está correta sem hífen.

Gostaria de ter uma opinião sobre o assunto, sobretudo em relação a luso-africano/lusoafricano.

Resposta:

Segundo o novo Acordo Ortográfico, a palavra luso-africano deve ser grafada com hífen – tal como já se escrevia desde a reforma de 1945  –, uma vez que os elementos não autónomos que são gentílicos, ou seja, que designam naturalidade, quando combinados com outros gentílicos, são entendidos como encadeamentos vocabulares. Para além disso, luso é entendido neste composto como uma forma reduzida de lusitano.

Não é o que se passa com lusodescendente (gentílico luso + substantivo descendente).

 

Cf. Os luso-africanos

Pergunta:

Gostaria, por favor, que me fosse esclarecida a seguinte dúvida: qual é a forma de escrever correcta, «fora de série», ou fora-de-série?

Resposta:

Deve escrever-se «fora de série», sem hífen.

Pergunta:

Gostaria de pedir a gentileza de vocês para me esclarecerem o porquê de este se, na frase abaixo, ser classificado como sujeito:

«Um ruído se fez ouvir.»

Resposta:

A palavra se pode ter, em português, diferentes funções:

1. Pronome pessoal reflexo: «A noiva maquilhou-se sozinha.»

2. Pronome pessoal recíproco: «Os jogadores cumprimentaram-se no início do jogo.»

3. Pronome indefinido: «Não se pode fumar em espaços fechados.»

4. Conjunção subordinativa integrante: «Perguntaram-lhe se sabia falar espanhol.»

5. Conjunção subordinativa condicional: «Se for possível, entrega hoje o relatório.»

6. Partícula inerente: «O prisioneiro suicidou-se.»

7. Partícula apassivante: «Vendem-se apartamentos neste condomínio.»

Na frase que apresenta, o se parece comportar-se como uma partícula apassivante (também designado por se-passivo):

8. «Um ruído se fez  ouvir.» = «Um ruído se ouviu.»*

O se-passivo desempenha a função de agente da passiva, referindo uma entidade arbitrária, e, por isso, pode ser parafraseado por uma construção passiva:

9. «Um ruído foi ouvido (por alguém).»

Sendo identificado com o agente da passiva, não pode acumular outra função sintática, pelo que não pode ser classificado de sujeito. O elemento da frase que desempenha a função de sujeito é o grupo nominal «um ruído». Saliente-se que o sujeito de uma frase é o constituinte que desencadeia a concordância verbal, logo, se colocarmos o grupo nominal «um ruído» no plural, o verbo terá também de ser flexionado no plural:

Pergunta:

Gostaria de saber qual a forma correta para a grafia da palavra sociobiográfico, ou sócio-biográfico, na expressão «A ficha sociobiográfica do aluno».

Parabéns pelo vosso trabalho e muito obrigada pelo contributo que têm dado à língua portuguesa.

Resposta:

Em nome do Ciberdúvdas, agradeço as palavras amáveis que nos dirige!

Segundo o Acordo Ortográfico de 1990, não se usa hífen sempre que não haja problemas de leitura nas palavras derivadas cujo prefixo termina em vogal e a palavra-base começa por consoante (infravermelhos, agropecuária) ou por vogal diferente (socioeconómico, autoestrada, coautor). 

Apesar de os dicionários que consultei não registarem a palavra que apresenta, a mesma é, a meu ver, abrangida por esta regra, logo, deve ser grafada sem hífen: sociobiográfico.

Pergunta:

Qual a maneira correcta? Co-orientador, ou coorientador?

Resposta:

Segundo o novo Acordo Ortográfico, usa-se hífen nas palavras formadas por intermédio de um prefixo que termina em letra igual à que inicia a palavra-base, por exemplo: micro-ondas; contra-ataque; anti-inflamatório.

Há, porém, uma exceção a esta regra: os prefixos co-, re- e pre- aglutinam-se à palavra-base, mesmo que esta se inicie pelas vogais o ou e: cooperar; reeleger; preencher.

Por conseguinte, a palavra que apresenta insere-se nesta exceção, logo, deve escrever-se coorientador.