Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber como se escreve neuro psicomotor: se é junto, se tem hífen, ou se é separado.

Resposta:

A palavra neuropsicomotor deve ser grafada sem hífen, tudo junto.

Segundo o novo acordo, não se usa hífen nas palavras derivadas cujo prefixo ou radical de composição termina em vogal e o elemento seguinte começa por consoante, e sempre que não haja problemas de leitura.

Pergunta:

Solicito o favor de me informarem como deve ser escrita a palavra mal-informado à luz do Acordo Ortográfico de 1990.

Resposta:

A palavra mal-informado deve ser grafada com hífen.

Segundo o novo acordo, «emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h».

Pergunta:

Agradecia que me pudessem informar se ao abrigo do NAO se deve escrever num ofício, no local da assinatura, o título do subscritor (o Presidente, o Diretor, etc.) com letra maiúscula ou minúscula, sabendo de antemão que em texto é com letra minúscula.

Sou secretária de direção e preciso com urgência saber como escrever corretamente.

Resposta:

Ao abrigo do novo acordo, a letra minúscula inicial é usada «nos axiónimos: senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Abrantes, o cardeal Bembo».

Porém, nas observações da Base XIX, é dito que «As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas».

Esta redação final leva-nos a crer que poderá escrever-se opcionalmente «o diretor» ou «o Diretor»; «o presidente» ou «o Presidente».

Pergunta:

Qual destas frases está correcta?

– «Não se deve combinar pilhas novas e usadas.»

– «Não se devem combinar pilhas novas e usadas.»

Resposta:

Ambas as frases estão corretas, dependendo da interpretação do «se».

Observem-se os seguintes exemplos:

(1)a. O João deve vender casas / Casas devem ser vendidas pelo João.

b. Devem vender-se casas / Casas devem ser vendidas (por SE).

c. Deve-se vender casas --»Se indefinido (alguém deve vender casas).

d. Devem-se vender casas --» Se passivo (casas devem ser vendidas).

As frases acima contêm um único domínio oracional, logo, o verbo dever é considerado um verbo auxiliar. O SE pode ser interpretado quer como indefinido (frase 1c), quer como passivo (frase 1d).

Os exemplos que se seguem, pelo contrário, contêm dois domínios oracionais, logo, o verbo pretender NÃO é considerado um verbo auxiliar:

(2)a. O João pretende vender casas. / *Casas pretendem ser vendidas pelo João.

b. *Pretendem-se vender casas. / *Casas pretendem ser vendidas (por SE).

c. Pretende-se vender casas.

d. *Pretendem-se vender casas.

O contraste entre (2c) e (2d) mostra que o SE só pode ser interpretado como indefinido, e por isso, só podemos ter o verbo no singular.

Em conclusão, as frases «não se deve combinar pilhas novas e usadas» e «não se devem combinar pilhas novas e usadas» são ambas corretas, uma vez que o morfema SE pode ser interpretado quer como pronome indefinido (não se deve co...

Pergunta:

A análise feita na consulta A função de se na frase «Um ruído se fez ouvir» também se aplica a frases tais como: «Eu me fiz entender»; «nós nos fizemos entender»? Me e nos seriam então pronomes apassivantes?

Obrigado.

Resposta:

A análise feita na resposta A função de se na frase «Um ruído se fez ouvir» não se aplica às frases que apresenta, uma vez que o pronome se apassivante ocorre unicamente em estruturas passivas:

1. «Vendem-se casas.» = «Casas são vendidas.»

2. «Ouviu-se um ruído.» = «Um ruído foi ouvido.»

Em frases como «eu me fiz entender»; «nós nos fizemos entender», não estamos perante construções passivas, pelo que os pronomes me e nos não podem ser considerados morfemas passivos. Estes pronomes parecem comportar-se, sim, como partículas inerentes, ou seja, constituindo parte integrante do verbo fazer.

Segundo a gramática de Maria Helena Mateus, o se inerente é uma propriedade lexical do próprio verbo e distingue-se do se reflexo por não poder ser redobrado, ou seja, não poder coocorrer com expressões como «a mim/ti/si próprio(a)»:

3. * «Tu te ris a ti próprio.»

4. * «Eu me zango a mim própria.»

5. * «Eu me fiz entender a mim própria.»

6. * «Nós nos fizemos entender a nós próprios.»

Além do verbo pronominal fazer-se, encontramos também os pronomes inerentes em verbos como queixar-se, zangar-se, rir-se, arre...