Pedro Mateus - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Pedro Mateus
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Pedro Mateus, licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa; mestrado em Literaturas Românicas, na área de especialização Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea pela mesma Faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Quais são as regras que explicam a forma como pronunciamos os ss?

Aqui no Algarve é comum ouvir pessoas a pronunciar os ss como j no final das palavras, não só quando a palavra seguinte começa por consoante sonora, mas também quando começa por som vogal, em vez do som z que as outras utilizam.

Mas também reparei que, pelo menos aqui, a maioria das pessoas ocasionalmente utiliza a outra forma que não aquela que utilizam por regra. Facto que achei curioso, e que gostaria de saber se existe alguma explicação para essa variação ou se apenas aleatória, e já agora, se haverá alguma regra geral para a pronúncia do s, que possa indicar que forma é que deve ser utilizada na situação que enunciei.

Resposta:

No que diz respeito a regras gerais ao nível do português europeu, podemos, de forma sumária, dizer o seguinte:

o s apresenta o som [s] em início de palavra. Ex.: «sal»;

o s soa ch [ʃ] no fim de sílaba, antes de consoante surda, ou, em fim de palavra, quando a palavra seguinte começa por consoante surda (p, t, qu, f, s, ch e x). Ex.: «pastas pretas»;

o s lê-se z entre vogais ou, em fim de palavra, quando a palavra seguinte começa por vogal. Ex.: «transitivo»; «olhos azuis»; «casa»; Note-se que o som [s] entre vogais é representado por ss, ç, cEx.: «assar», «aço», «face»; 

o s corresponde ao som [Ʒ], isto é, j, a fechar sílaba, antes de consoante sonora, ou, em fim de palavra, quando a palavra seguinte se inicia por consoante sonora (b, d, g, j, l, lh, m, n, nh, r, v, z). Ex.: «mesmo»; «casas distantes».

Porém, e indo de certa forma ao encontro do exposto pelo nosso consulente, valerá a pena dizer que, por razões de pronúncia regional, o som [s], em determinados dialectos portugueses, apresenta, nas posições mencionadas, apenas duas realizações: o ch [ʃ], antes de consoantes surdas, e o [Ʒ], isto é, j, antes de consoantes sonoras e vogais.  

Fonte: Dic...

Pergunta:

Qual a etimologia de cedástico?

Resposta:

O adjectivo cedástico é utilizado em contextos muito específicos, relacionados sobretudo com a área da estatística, por ex.: curva cedástica.

Sérgio de Carvalho Pachá, professor de Língua Portuguesa e lexicógrafo-chefe da Academia Brasileira de Letras, esclarece: cedástico «provém do étimo grego do radical scedast-, que é o adjetivo skedastós», significando «que não pode ser dispersado» (Arquivo da Lista de Discussão da Associação Brasileira de Estatística).

Tenho reparado que começa a ser preocupantemente corriqueira, na língua portuguesa, a utilização de conjunções e locuções subordinativas concessivas — como embora, ainda que, mesmo que — com o modo verbal indicativo, e não com o conjuntivo, como o seu uso, na maior parte das vezes, exige.

Para provar o que acabo de referir, aqui transcrevo dois exemplos recentes da autoria de dois jornalistas bastante conhecidos e de quem tenho, aliás, a melhor opinião.

Pergunta:

Gostaria que me esclarecesse esta dúvida: a palavra certa é conceitual, ou conceptual? Existem as duas? Será que muda o sentido?

Mas vem de conceito, não é, e não de "concepto"?

Tenho a impressão de que os brasileiros só usam a palavra conceitual, mas queria saber qual é a regra na língua portuguesa agora com o acordo ortográfico.

Agradeço-lhe desde já.

Resposta:

As palavras conceitual e conceptual são consideradas sinónimos, encontrando-se ambas registadas, por exemplo, na Infopédia, ou no Dicionário Eletrônico Houaiss 2009. Porém, há que valorizar o facto de, neste último, na entrada referente ao termo conceitual, para além da definição «relativo a, formado por ou que consiste em conceitos» — 100% compatível, portanto, com a definição de conceptual —, surgir uma outra, isto é, «em que há conceito (dito engenhoso); espirituoso, conceituoso», considerada diacronismo antigo.

Quanto à sua etimologia, têm os dois termos origem no latim, sendo que conceitual deriva de «conceito sob a forma conceitu- (com -u do tema da 4.ª declinação latina) + -al», e conceptual, de «concepto sob a forma latina conceptu- (com -u do tema da 4.ª declinação latina) + -al». O Novo Dicionário Aurélio acrescenta ainda esta importante nota: as palavras conceitual e conceptual derivam ambas «do latim medieval conceptuale», sendo que a primeira chega até nós por via popular, e a segunda por via erudita.

Confirmo ainda que em todos os dicionários brasileiros consultados surgem entradas referentes às duas palavras em análise, o que, à partida, sugere que os dois termos são utilizados no Brasil.

O novo acordo ortográfico (AO) prevê que «Quando precedem um t, ç ou...

Pergunta:

Ao nível linguístico, qual a diferença entre erro e desvio? Poderiam explicar-me e dar-me algum exemplo para compreender melhor?

Resposta:

Fazendo minhas as palavras de Edite Prada, consultora do Ciberdúvidas, nesta resposta que eu considero exemplar para uma melhor compreensão do tema em análise, «a questão que coloca é bastante relevante, mas de resposta assaz difícil, pois, para ser cabalmente respondida, seria necessário produzir um tratado sobre norma, desvio e mudança linguística». Por outro lado, José António Fernandes Camelo, neste artigo, dá-nos conta também de que «A questão da norma linguística associada à determinação do que deve ou não ser considerado erro é terreno movediço falho de um poder regulador».

Posto isto, não me atreverei a alongar-me demasiado sobre a temática em apreço, já que, como compreenderá o nosso consulente, não será este o local adequado para reflexões deste grau de profundidade. Assim, limitar-me-ei a tecer breves considerações sobre o tema em análise.

No fundo, falamos aqui de duas perspectivas diferentes sobre a língua: uma, a chamada normativa, que entende que «uma gramática que pretenda registar e analisar os factos da língua deve fundar-se num claro conceito de norma e de correcção idiomática» (Cintra e Cunha, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, p. 5); outra, a chamada descritiva, que defende a ideia de que «(...) o desvio, embora sendo uma ruptura da norma (...), não é uma ruptura do código, mas todo o contrário disso, ele está previsto nas regras de manipulação desse código, porque o código linguístico é (...) aberto, dotado de produtividade: aliás, é da produtividade que decorrem os riscos das inovações positivas (acertos) e das inovações negativas (erros). Em definitivo, a língua é um código aberto e produtivo que se distingue pelo facto de, ao mesmo te...