Pedro Mateus - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Pedro Mateus
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Pedro Mateus, licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa; mestrado em Literaturas Românicas, na área de especialização Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea pela mesma Faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual é o nome da fêmea do jacaré (jacaré fêmea, ou jacaroa)?

 

Resposta:

Jacaré é um substantivo epiceno, isto é, trata-se do nome de um animal que possui «um só género gramatical para designar um e outro sexo» (Celso Cunha, Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 196).

Assim, «quando há necessidade de especificar o sexo do animal, juntam-se então ao substantivo as palavras macho e fêmea: crocodilo macho, crocodilo fêmea; o macho ou a fêmea do jacaré» (Cunha e Cintra, op. cit.).

Pergunta:

Por diversas vezes, principalmente na televisão, ouço dizer que «... determinada coisa é condizente com o estabelecido...», mas de facto o correto não seria dizer que «... determinada coisa é condissente com o estabelecido...»? Isto no sentido em que está de acordo, que condiz. Isto é, «... determinada coisa está em linha/é compatível/está de acordo com o estabelecido».

Resposta:

De facto, está correta a grafia utilizada. Trata-se do adjetivo de dois géneros condizente.

Em termos de formas simples, os tempos do verbo condizer que apresentam dois [s] são o pretérito perfeito do indicativo («Eu condisse»), o pretérito mais-que-perfeito do indicativo («Eu condissera»), o pretérito imperfeito do conjuntivo («Se eu condissesse») e o futuro do conjuntivo («Se eu condisser»).

Pergunta:

Gostaria de saber se jardim zoológico é substantivo comum e composto.

Resposta:

Sim, trata-se efetivamente de um composto e de um substantivo comum (leia-se esta resposta de Carlos Rocha).

Pergunta:

Qual (quais) das construções está correta?

«... seja um carro, um imóvel ou uma TV.»

«... seja um carro, seja um imóvel, seja uma TV.»

«... seja um carro, um imóvel, seja uma TV.»

Resposta:

Do meu ponto de vista, qualquer uma das três formulações sugeridas pelo consulente é válida.

Na primeira, o verbo ser tem automaticamente escopo sobre os três elementos enumerados na frase, sendo que se encontra elidido antes de imóvel e de TV;

Na segunda, opta-se por lexicalizar o verbo ser antes de cada um dos elementos elencados, o que é perfeitamente legítimo;

Na terceira, repesca-se o verbo ser antes do último elemento elencado, o que também pode fazer sentido, se se pretender, por exemplo, sobretudo ao nível da oralidade, fazer recair a tónica do discurso no primeiro e no último elemento presentes na enumeração proposta.

Acrescentaria, apenas, que o conetor coordenativo ou poderia, talvez, encontrar-se sempre presente antes do último elemento da enumeração, como forma de a concluir.

Pergunta:

Relativamente à utilização de hífen e travessão na língua portuguesa, as diversas exposições neste site são esclarecedoras contudo algumas dúvidas subsistem.

Segundo depreendo, o hífen deve ser utilizado em prefixos, sufixos, compostos e translineação, não devendo ser colocado espaço nem antes nem depois do mesmo. Mas relativamente ao travessão fica a dúvida...

Se tomarmos o nosso travessão como sendo o americano em dash (?) [inserido com Alt + 0151, no Word, Alt + Ctrl + Num- (hífen do teclado numérico)], tal figura não deve ser antecedida nem sucedida por espaços, como se indica em diversos sites americanos. Será que na língua portuguesa a regra é a mesma?

Relativamente ao americano en dash (Alt + 0150, no Word, Ctrl + Num-) desconheço como se designa em português e, como tal, desconheço também como deve ser utilizado. Será que pode ser chamado de traço? Utiliza-se como na língua inglesa em intervalos de valores? Com ou sem espaço antes e depois?

Para aumentar um pouco a confusão, o sinal menos é um dos 3 sinais anteriores – hífen, en dash, travessão – ou outro distinto? Inserível no Word escrevendo 2212 seguido de Alt + x.

Resposta:

Em português, dever-se-á sempre deixar espaço depois do travessão (ou do travessão duplo). No caso de este se encontrar no interior de um enunciado, dever-se-á deixar sempre um espaço antes e outro depois.

Ex.:

« Ele não quer responder.

Mas por quê?»;

« Acho e retomou o discurso que já assustámos demais o nosso jovem amigo.»

(Lindley Cintra, Celso Cunha, Nova Gramática do Português, pp. 662-663).

De facto, tem razão o caro consulente quando afirma que, na língua inglesa, ao contrário do que, genericamente, sucede com o português, é comum não deixar qualquer tipo de espaço antes ou depois da colocação de um travessão. Veja-se, por exemplo, este excerto retirado do clássico de Emily Brontë, Wuthering Heights (O Monte dos Vendavais), edição de 1994, da Penguin Classics:

«when he saw my horseʼs breast fairly pushing de barrier he did put out his hand to unchain it, and then sullenly preceded me up the causeway, calling,as we entered the court"Joseph, take Mr Lockwoodʼs horse; and bring up some wine."»

Porém, esta não parece ser uma regra rígida, pois nem sempre assim é, sendo que, mesmo noutras edições desta mesma obra, são deixados espaços antes e depois da utilização de travessões.

Leia-se, por exemplo, os seguintes...