Paulo J. S. Barata - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Paulo J. S. Barata
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Paulo J. S. Barata é consultor do Ciberdúvidas. Licenciado em História, mestre em Estudos Portugueses Interdisciplinares. Tem os cursos de especialização em Ciências Documentais (opção Biblioteca e Documentação) e de especialização em Ciências Documentais (opção Arquivo). É autor de trabalhos nas áreas da Biblioteconomia, da Arquivística e da História do Livro e das Bibliotecas. Foi bibliotecário, arquivista e editor. É atualmente técnico superior na Biblioteca Nacional de Portugal.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Lo siento no hablo portugués pero visité el Palacio da Pena en Sintra y vi en su capilla una esfera armilar con la divisa SMIDME. ¿Podrían decirme que significa? He buscado en internet y bibliotecas pero no lo encuentro.

Obrigada.

Resposta:

A sigla SMIDME – «Spes mea in Deo Meo est» – é uma variante do mote da divisa de D. Manuel I, «Spes mea in Deo est» (SMIDE), ou seja, «A minha esperança está em Deus».*

* Agradeço ao Prof. Doutor Manuel J. Gandra a informação e a ajuda prestadas.

Pergunta:

Tenho uma dúvida com que me tenho confrontado, mas para a qual ainda não consegui encontrar resposta. Assim como nos referimos às décadas do século passado, por exemplo, como «anos 70» ou «década de 70», como devemos referir-nos à primeira década do presente milénio?

«Anos 00»? «Anos 2000»? «Década de 00»? «Década de 2000»?

Usa-se muito frequentemente a terminologia que se refere, por exemplo, aos anos 1970 ou 1980, mas essa forma não me parece correta, pois 1970 ou 1980 são anos concretos e não intervalos de tempo («anos 80» ou «década de 80» parece-me o mais adequado).

Muito obrigado.

Resposta:

As divisões temporais são convenções criadas para assegurar a compartimentação da História e facilitar a sua compreensão.

Designações como «anos 20», «anos 30» – ou «década de 20», «década de 30» – e outras são usadas por comodidade de periodização histórica para nos referirmos às respetivas décadas do século passado e assim caracterizar o segmento cronológico a que se referem. Algumas delas deram até origem a outras como, por exemplo, os «loucos anos vinte», expressão que é de imediato reconhecível e identificadora de um conjunto de valores, de uma organização social, de um estilo de vida.

Com o devir histórico, irão surgir outros «anos 20», agora já do século XXI, que porventura forçarão o surgimento de outras designações que caracterizem o respetivo período e procedam à desambiguação. Outro tanto acontecerá com expressões que refletem períodos históricos mais longos como os séculos, de que são exemplos: Quinhentos, equivalente de «século XVI», ou Oitocentos, equivalente de «século XIX», e das quais derivam palavras como quinhentismo e quinhentista, oitocentismo e oitocentista. Ainda que também se possa manter a homonímia, desempatando-se pelo contexto.

No caso das décadas, e além de «anos 20» ou «década de 20», tem-se generalizado a referência a «década de 1920», pressupondo-se que nos referimos ao período que começa em 1920 e termina em 1929. No fundo, referimo-nos ao período de «1920-1929» como «década de 1920», elidindo 1929.

Assim, para a primeira década deste século/milénio, «anos 00» afigura-se-nos algo confuso e ambíguo, sendo de evitar; «anos 2000», apesar de melhor, afigura-se-nos, ainda assim, de rejeitar pela confusão a que se presta; restando «década de 2000» como opção mais...

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem quanto à forma correta de citar imagens.

Muito grata.

Resposta:

Na sua questão, há que distinguir duas situações: a citação de imagens insertas em monografias (livros) e a citação de documentos iconográficos.

Relativamente à primeira, seguem-se as regras previstas na NP 405 – norma oficial portuguesa para a referenciação bibliográfica. Neste caso, a citação de uma imagem – fluxograma, organograma, gráfico, quadro ou fotografia – é muito semelhante à de uma citação textual. Faz-se apenas preceder a citação da obra em que a imagem se encontra dos elementos que a permitam identificar.

Exemplos:

(1) «O enfoque manipulativo das relações humanas». Fluxograma. In Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 221.

(2) «Organograma diagonal ou europeu». In Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 309.

(3) «Ciclos de vida de alguns produtos». Gráfico. In Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 288.

(4) «Componentes do vetor de crescimento». Quadro. In H. Igor Ansoff – Estratégia empresarial. São Paulo: McGraw-Hill, 1977, p. 92, cit. por Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 289.

(5) «Trotsky». Fotografia. In John Kenneth Galbraight – A era da incerteza: uma história das ideias económicas e das suas consequências. Lisboa: Moraes, 1980, f. intercalada a p. 144.

A menção do ...

Pergunta:

A dúvida prende-se essencialmente com o uso do ponto e vírgula (;).

Gostaria que me esclarecessem, com base nos exemplos abaixo constantes, o cenário mais correto.

«Objetivos Gerais:

– Divulgar e promover a bebida Bubble Tea na nossa Região.

– Dar a conhecer a história e o processo de produção do Bubble Tea.

– Criar Bubble Teas com produtos regionais.»

«Objetivos Gerais:

– Divulgar e promover a bebida Bubble Tea na nossa Região;

– Dar a conhecer a história e o processo de produção do Bubble Tea;

– Criar Bubble Teas com produtos regionais.»

[Há quem afirme] que, após a utilização de :, deve começar-se uma enumeração com letra maiúscula e no final a aplicação de um ponto. A minha versão é que, após a utilização de :, deve começar-se uma enumeração com letra maíuscula e no final a aplicação de um ponto e vírgula.

[Assim:]

– devo [pensar] que, quando se inicia uma enumeração com letra maiúscula, devo terminar a frase com um ponto?

– devo concluir que, quando se inicia uma enumeração com letra minúscula, devo terminar a frase com um ponto e vírgula?

É assim tão linear esta questão?

Todas as gramáticas que consultei, bem como a Constituição da República Portuguesa, art. 70.º, mencionam que cada alínea abre um parágrafo e começa com letra maiúscula e termina com um ponto e vírgula.

Obrigada.

Resposta:

A questão, como sugere, e bem, não é linear, encontra apoio bibliográfico pouco sólido e o que existe é díspar. As regras da legística, por exemplo – aludindo aqui ao exemplo que refere da Constituição da República Portuguesa – preconizam que: «na elaboração de um ato normativo, deve ser utilizada a letra maiúscula […] na letra inicial da primeira palavra de qualquer frase, epígrafe, proémio ou alínea ou subalínea» [alínea a) do n.º 1 do art.º 20.º do anexo II da Resolução do Conselho de Ministros n.º 29/2011, de 11 de julho], subentendendo-se, pela utilização do ponto e vírgula final no próprio articulado da norma, que o defendem para separar cada um dos itens enumerados. Há ainda outras fontes como gramáticas, manuais de estilo, manuais de redação, de revisão, de artes gráficas e afins, que defendem o uso da maiúscula inicial nas enumerações, sendo, porém, muitas vezes omissos no que diz respeito ao facto de cada um dos itens enumerados terminar em ponto final ou em ponto e vírgula, mas também as há que defendem a utilização da minúscula.

A prática em Portugal é, pois, variada, e admite vários critérios. Já a tradição francesa das artes gráficas, por exemplo, consagra algumas variantes. O Lexique des règles typographiques en usage à l’Imprimerie Nationale (Paris: Imprimerie Nationale, 1990, p. 39-40) refere que no começo de uma alínea, mesmo se esta não for início de frase, se usa a inicial maiúscula, quer a alínea se inicie logo pelo texto, por um número, ou letra, desde que seguidos por um ponto (1., 2., 3.; a., b., c.); mas, ao contrário, se o texto for antecedido de meia-risca ou de travessão, já preconiza a minúscula in...

Pergunta:

Há alguma diferença entre epíteto e cognome? Posso dizer que «o Conquistador» é o epíteto de D. Afonso Henriques, ou devo dizer apenas que é o cognome de D. Afonso Henriques? Há alguma regra que obrigue ao emprego da palavra epíteto ao invés de cognome, ou é apenas uma questão de opção?

Muito obrigada.

Resposta:

As expressões epíteto – do grego epítheton, pelo lat. epithĕton ou epithĕtum, i – e cognome – do latim cognomen, -inis – são sinónimas. Epíteto e cognome são nomes ou expressões acrescentadas aos nomes. Isto é o que grande parte dos dicionários regista e a língua em ato chancela, como o atesta no mesmo texto este exemplo recente:

«Habituámo-nos a esta guerra de números, como se fosse normal não se apresentarem valores sindicáveis da adesão a uma greve que ostenta o epíteto de "geral"» […] Podendo-se desde logo questionar se a greve, geral ou particular, ainda faz sentido como única "forma de luta" das chamadas classes trabalhadoras, parece inevitável concluir que só se deve convocar uma greve geral quando estão criadas as condições para que mereça o cognome (Fernanda Câncio – "E sindicar a greve?", Diário de Notícias, 25 de novembro de 2011).

Apesar disto, cognome parece ser sobretudo utilizado para qualificar nomes próprios. Facto a que não será alheio o uso originário da palavra. É que na Roma antiga o cognome era o nome de família. Ao passo que epíteto se usa de forma alargada e indiscriminada em nomes próprios e comuns. Epíteto assume-se como um qualificativo que se adiciona a um nome para melhor o definir. Na literatura, por exemplo, distinguem-se os epítetos de natureza, permanentes, imutáveis – como «mar salgado» – dos epítetos de circunstância, que caracterizam estados passageiros, transitórios – como «mar revolto». Ainda que também se use epíteto para qualificar nomes próprios como o atesta Camões, no canto X de