Paulo J. S. Barata - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Paulo J. S. Barata
Paulo J. S. Barata
40K

Paulo J. S. Barata é consultor do Ciberdúvidas. Licenciado em História, mestre em Estudos Portugueses Interdisciplinares. Tem os cursos de especialização em Ciências Documentais (opção Biblioteca e Documentação) e de especialização em Ciências Documentais (opção Arquivo). É autor de trabalhos nas áreas da Biblioteconomia, da Arquivística e da História do Livro e das Bibliotecas. Foi bibliotecário, arquivista e editor. É atualmente técnico superior na Biblioteca Nacional de Portugal.

 
Textos publicados pelo autor

Falava-se de exames, de ensino, de retenções, de dificuldades em língua portuguesa, da necessidade de ditados para conhecer e fixar a grafia, e eis senão quando aparece a legenda: «A partir do momento em que acaba o ciclo dos primeiros quatro anos, ou o aluno sabe, ou vai andar cocho» ("Princípio da Incerteza", RTP3, 13-02-2015), (...)

Pergunta:

Lo siento no hablo portugués pero visité el Palacio da Pena en Sintra y vi en su capilla una esfera armilar con la divisa SMIDME. ¿Podrían decirme que significa? He buscado en internet y bibliotecas pero no lo encuentro.

Obrigada.

Resposta:

A sigla SMIDME – «Spes mea in Deo Meo est» – é uma variante do mote da divisa de D. Manuel I, «Spes mea in Deo est» (SMIDE), ou seja, «A minha esperança está em Deus».*

* Agradeço ao Prof. Doutor Manuel J. Gandra a informação e a ajuda prestadas.

Pergunta:

Tenho uma dúvida com que me tenho confrontado, mas para a qual ainda não consegui encontrar resposta. Assim como nos referimos às décadas do século passado, por exemplo, como «anos 70» ou «década de 70», como devemos referir-nos à primeira década do presente milénio?

«Anos 00»? «Anos 2000»? «Década de 00»? «Década de 2000»?

Usa-se muito frequentemente a terminologia que se refere, por exemplo, aos anos 1970 ou 1980, mas essa forma não me parece correta, pois 1970 ou 1980 são anos concretos e não intervalos de tempo («anos 80» ou «década de 80» parece-me o mais adequado).

Muito obrigado.

Resposta:

As divisões temporais são convenções criadas para assegurar a compartimentação da História e facilitar a sua compreensão.

Designações como «anos 20», «anos 30» – ou «década de 20», «década de 30» – e outras são usadas por comodidade de periodização histórica para nos referirmos às respetivas décadas do século passado e assim caracterizar o segmento cronológico a que se referem. Algumas delas deram até origem a outras como, por exemplo, os «loucos anos vinte», expressão que é de imediato reconhecível e identificadora de um conjunto de valores, de uma organização social, de um estilo de vida.

Com o devir histórico, irão surgir outros «anos 20», agora já do século XXI, que porventura forçarão o surgimento de outras designações que caracterizem o respetivo período e procedam à desambiguação. Outro tanto acontecerá com expressões que refletem períodos históricos mais longos como os séculos, de que são exemplos: Quinhentos, equivalente de «século XVI», ou Oitocentos, equivalente de «século XIX», e das quais derivam palavras como quinhentismo e quinhentista, oitocentismo e oitocentista. Ainda que também se possa manter a homonímia, desempatando-se pelo contexto.

No caso das décadas, e além de «anos 20» ou «década de 20», tem-se generalizado a referência a «década de 1920», pressupondo-se que nos referimos ao período que começa em 1920 e termina em 1929. No fundo, referimo-nos ao período de «1920-1929» como «década de 1920», elidindo 1929.

Assim, para a primeira década deste século/milénio, «anos 00» afigura-se-nos algo confuso e ambíguo, sendo de evitar; «anos 2000», apesar de melhor, afigura-se-nos, ainda assim, de rejeitar pela confusão a que se presta; restando «década de 2000» como opção mais...

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem quanto à forma correta de citar imagens.

Muito grata.

Resposta:

Na sua questão, há que distinguir duas situações: a citação de imagens insertas em monografias (livros) e a citação de documentos iconográficos.

Relativamente à primeira, seguem-se as regras previstas na NP 405 – norma oficial portuguesa para a referenciação bibliográfica. Neste caso, a citação de uma imagem – fluxograma, organograma, gráfico, quadro ou fotografia – é muito semelhante à de uma citação textual. Faz-se apenas preceder a citação da obra em que a imagem se encontra dos elementos que a permitam identificar.

Exemplos:

(1) «O enfoque manipulativo das relações humanas». Fluxograma. In Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 221.

(2) «Organograma diagonal ou europeu». In Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 309.

(3) «Ciclos de vida de alguns produtos». Gráfico. In Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 288.

(4) «Componentes do vetor de crescimento». Quadro. In H. Igor Ansoff – Estratégia empresarial. São Paulo: McGraw-Hill, 1977, p. 92, cit. por Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 289.

(5) «Trotsky». Fotografia. In John Kenneth Galbraight – A era da incerteza: uma história das ideias económicas e das suas consequências. Lisboa: Moraes, 1980, f. intercalada a p. 144.

A menção do ...

Pergunta:

A dúvida prende-se essencialmente com o uso do ponto e vírgula (;).

Gostaria que me esclarecessem, com base nos exemplos abaixo constantes, o cenário mais correto.

«Objetivos Gerais:

– Divulgar e promover a bebida Bubble Tea na nossa Região.

– Dar a conhecer a história e o processo de produção do Bubble Tea.

– Criar Bubble Teas com produtos regionais.»

«Objetivos Gerais:

– Divulgar e promover a bebida Bubble Tea na nossa Região;

– Dar a conhecer a história e o processo de produção do Bubble Tea;

– Criar Bubble Teas com produtos regionais.»

[Há quem afirme] que, após a utilização de :, deve começar-se uma enumeração com letra maiúscula e no final a aplicação de um ponto. A minha versão é que, após a utilização de :, deve começar-se uma enumeração com letra maíuscula e no final a aplicação de um ponto e vírgula.

[Assim:]

– devo [pensar] que, quando se inicia uma enumeração com letra maiúscula, devo terminar a frase com um ponto?

– devo concluir que, quando se inicia uma enumeração com letra minúscula, devo terminar a frase com um ponto e vírgula?

É assim tão linear esta questão?

Todas as gramáticas que consultei, bem como a Constituição da República Portuguesa, art. 70.º, mencionam que cada alínea abre um parágrafo e começa com letra maiúscula e termina com um ponto e vírgula.

Obrigada.

Resposta:

A questão, como sugere, e bem, não é linear, encontra apoio bibliográfico pouco sólido e o que existe é díspar. As regras da legística, por exemplo – aludindo aqui ao exemplo que refere da Constituição da República Portuguesa – preconizam que: «na elaboração de um ato normativo, deve ser utilizada a letra maiúscula […] na letra inicial da primeira palavra de qualquer frase, epígrafe, proémio ou alínea ou subalínea» [alínea a) do n.º 1 do art.º 20.º do anexo II da Resolução do Conselho de Ministros n.º 29/2011, de 11 de julho], subentendendo-se, pela utilização do ponto e vírgula final no próprio articulado da norma, que o defendem para separar cada um dos itens enumerados. Há ainda outras fontes como gramáticas, manuais de estilo, manuais de redação, de revisão, de artes gráficas e afins, que defendem o uso da maiúscula inicial nas enumerações, sendo, porém, muitas vezes omissos no que diz respeito ao facto de cada um dos itens enumerados terminar em ponto final ou em ponto e vírgula, mas também as há que defendem a utilização da minúscula.

A prática em Portugal é, pois, variada, e admite vários critérios. Já a tradição francesa das artes gráficas, por exemplo, consagra algumas variantes. O Lexique des règles typographiques en usage à l’Imprimerie Nationale (Paris: Imprimerie Nationale, 1990, p. 39-40) refere que no começo de uma alínea, mesmo se esta não for início de frase, se usa a inicial maiúscula, quer a alínea se inicie logo pelo texto, por um número, ou letra, desde que seguidos por um ponto (1., 2., 3.; a., b., c.); mas, ao contrário, se o texto for antecedido de meia-risca ou de travessão, já preconiza a minúscula in...