Paulo J. S. Barata - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Paulo J. S. Barata
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Paulo J. S. Barata é consultor do Ciberdúvidas. Licenciado em História, mestre em Estudos Portugueses Interdisciplinares. Tem os cursos de especialização em Ciências Documentais (opção Biblioteca e Documentação) e de especialização em Ciências Documentais (opção Arquivo). É autor de trabalhos nas áreas da Biblioteconomia, da Arquivística e da História do Livro e das Bibliotecas. Foi bibliotecário, arquivista e editor. É atualmente técnico superior na Biblioteca Nacional de Portugal.

 
Textos publicados pelo autor
A «bala de prata» que mata <br> os «problemas da habitação»?!...
Um uso feliz e outro mais fruste

Em Portugal, agudiza-se a crise da habitação, e, a propósito, emprega-se a expressão «bala de prata» como metáfora da solução para o problema. Um apontamento do bibliotecário e especialista em arquivística Paulo J. S. Barata.

Pergunta:

Se existe o adjetivo social-democrata, não deveria escrever "Partido Social-Democrata", com hífen?

Obrigado.

Resposta:

Social-democrata é uma expressão formada pela justaposição das palavras social e democrata, ligadas por hífen, sendo um adjetivo composto, quando designa o que é relativo à social-democracia, ou um nome, quando identifica os seguidores da social-democracia ou os membros ou simpatizantes de um partido que perfilha essa ideologia. Perfilhando o Partido Social-Democrata (PSD) a social-democracia ou a ideologia social-democrata, e sendo os seus membros sociais-democratas, o partido que os representa terá de necessariamente designar-se Partido Social-Democrata, com hífen. Se um indivíduo é um social-democrata, a entidade coletiva que o representa, o partido, também tem de ser Social-Democrata.

As palavras social e democracia ou democrata vivem por si, mas para significar a «social-democracia» ou os seus partidários têm necessariamente de se ligar através de hífen. Só juntas representam a qualidade dos que a defendem, sejam indivíduos, os sociais-democratas, sejam estruturas coletivas, o Partido Social-Democrata, a Juventude Social-Democrata, os Trabalhadores Social-Democratas, os Autarcas Social-Democratas, as Mulheres Social-Democratas. É o que seria expectável que acontecesse em Portugal com o PSD e estruturas afiliadas, é o que parece que acontece quando se designam outros partidos que contêm Social-Democrata na sua designação, como o bem conhecido SPD Alemão (Partido Social-Democrata da Alemanha), e outros que, por exemplo, a 

Pergunta:

O termo lineatura (resolução da trama de impressão) existe e é usado pelo meio referido. No entanto não encontro o termo nos principais dicionários, apenas usado em literatura especializada.

O que vos oferece dizer sobre esta questão, existe? Deve-se usar? De que forma (entre aspas), etc.?

Desde já muito grato.

Resposta:

Lineatura é um termo usado nos socioletos, ou seja, nas linguagens técnicas, da impressão e das artes gráficas. Por ser um termo muito especializado só tem curso na literatura técnica relativa àquelas áreas, não tendo passado para a linguagem corrente e não constando, por isso, nos dicionários gerais que consultámos. Parece tratar-se de uma transposição direta do francês linéature,  que encontra cognatos – ou seja palavras semelhantes em termos de grafia, pronúncia e significado – noutras línguas, alguns deles com uma correspondência total, como acontece, por exemplo, no italiano (lineatura).

A palavra existe, ainda que viva apenas na linguagem técnica e, do ponto de vista formal, está conforme aos padrões morfológicos do português, pelo que poderá ser usada sem aspas. Acresce ainda existirem outras palavras aparentadas em uso no idioma e dicionarizadas, tais como: linear, linearizar, linearidade, lineamento, linearização, lineal, e outras. Não existe, que conheçamos, nenhum termo mais comum para a significar.

<i>Expletivo</i> = «palavrão»?!
Um caso de sinonímia inusitada

Na cobertura jornalística dos jogos da seleção de Portugal no Campeonato do Mundo de Futebol, no Catar, ocorre o termo expletivo, em eufemística referência a certos palavrões proferidos em campo. Um apontamento de Paulo J. S. Barata sobre este uso duvidoso da palavra expletivo.

Pergunta:

Hoje em dia há cada vez mais informação digitalizada que reproduz livros originalmente em papel.

Torre do Tombo mantém um enorme acervo deste tipo de arquivos. Muitas vezes a digitalização não é feita por transcrição mas sim, por mera fotografia. Por vezes, cada fotografia corresponde a uma única página de cada folha. Mas na maioria dos casos, cada fotografia inclui as duas páginas do livro quando aberto. A fotografia inclui, a página de verso da folha da esquerda e a página da frente da folha da direita. Quando me refiro a um destes casos, uso a palavra "fotografia".

Mas fico com a dúvida: existirá algum nome próprio que possa ser usado para designar esse conjunto de duas páginas? Quando olho para um livro ou jornal aberto, qual o nome daquilo que estou a ver?

Resposta:

Existem, tal como o consulente refere, cada vez mais documentos digitais na Internet quer em Bibliotecas Digitais, quer em Repositórios institucionais, quer simplesmente em sites, etc.

Nos documentos digitais, há os documentos nado-digitais, ou seja, aqueles que já nasceram em formato digital, como por exemplo um e-mail, um documento gerado e assinado digitalmente, ou um e-book, e os documentos digitalizados a partir de um suporte analógico, sobretudo o papel. Quanto a estes últimos, importa distinguir os documentos de arquivo, como por exemplo uma carta ou um ofício, e os documentos de biblioteca, como por exemplo um livro impresso. Em relação a estes, como o consulente refere e bem, as nossas mais importantes instituições patrimoniais, como o Arquivo Nacional da Torre do Tombo ou a Biblioteca Nacional de Portugal, promovem cada vez mais a digitalização de documentos e livros em formato papel dos respetivos acervos, quer por razões de divulgação quer por razões de preservação e conservação, uma vez que a cópia digital reduz o manuseamento dos originais.

A digitalização de livros é efetuada página a página ou em página dupla. Há formatos de visualização que permitem a leitura em página simples ou em página dupla, equiparando assim a visualização nos dispositivos eletrónicos à leitura e manuseamento dos livros em formato papel. Para esse conjunto de duas páginas não existe, que conheçamos, uma designação específica.

Ao folhear um livro, em formato papel ou eletrónico, o que por norma se visualiza é o verso de uma página par (a da esquerda) e o reto de uma página ímpar (a da direita). Porém, materialmente, às folhas dobradas dos livros que constituem cadernos, os quais são depois cosidos ou colados, chamamos bifólios. Estes bifólios são dobrados e encaixados uns nos outros, o q...