Miguel Moiteiro Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Miguel Moiteiro Marques
Miguel Moiteiro Marques
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Ingleses) pela Faculdade Letras da Universidade de Lisboa e mestrando em Língua e Cultura Portuguesa na mesma faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Posso dizer «realizar teste de diagnóstico»? Ou só «realizar teste diagnóstico»?

Resposta:

Poderá utilizar as duas formas.  Embora a palavra diagnóstico pertença a classes gramaticais diferentes em cada uma das expressões, o significado é equivalente quando for usado no mesmo contexto.

Qual é a diferença entre os dois casos? Em «teste de diagnóstico», temos um substantivo que funciona sintaticamente como complemento determinativo de teste, indicando o tipo de teste em questão; em «teste diagnóstico», temos um adjetivo que funciona sintaticamente como modificador nominal restritivo, ou seja, limita o domínio de referência da expressão nominal teste a um género particular de teste.

Assim, visto que o termo diagnóstico não é aplicado somente na área da medicina e o seu uso já se estendeu a outros domínios, desde a didática até à informática, poderemos ter frases como «Vamos fazer um teste de diagnóstico ao sistema operativo do computador» e «Vamos fazer um teste diagnóstico ao sistema operativo do computador», ambas com o mesmo significado.

Importa referir ainda que a Academia Brasileira das Letras atesta também a existência da palavra composta teste-diagnóstico, usada na variante do português do Brasil, mas o Portal da Língua Portuguesa não reconhece esta forma na variante europeia do português.

Pergunta:

Gostaria de saber se «agência reguladora» e «agência regulamentadora» são expressões sinónimas, ou se há diferenças no seu uso. Creio que tem havido uma grande confusão em Portugal no uso destas expressões, assim como no uso dos verbos regular e regulamentar.

Resposta:

No caso específico apresentado pelo consulente, as expressões «agência reguladora» e «agência regulamentadora» não são sinónimas, mas podem ter alguma coincidência no campo semântico, ou seja, parte do significado de uma palavra coincide com a área de significado da outra palavra.

O termo «agência reguladora» é utilizado legalmente no Brasil para designar um organismo que regula e controla um campo de atividade delimitado. É o caso da Anatel, Agência Nacional de Telecomunicações, que regula as telecomunicações no Brasil. Em Portugal, o termo é também utilizado para designar o mesmo tipo de organismos, sobretudo a um nível genérico e sem especificar a instituição, a qual poderá ter uma designação oficial diferente, ainda que com as mesmas competências. É o caso da Anacom, Autoridade Nacional de Comunicações, com o mesmo tipo de atribuições e competências que a sua congénere brasileira. Se aceitarmos que ambas são agências reguladoras, poderemos também dizer que ambas são agências regulamentadoras?

 

De acordo com o dicionário Priberam, o verbo regular, do qual deriva o adjetivo reguladora, significa «estabelecer regras ou regulamento», mas também «conter dentro de certos limites», «agir e dirigir segundo o espírito do regulamento». Por sua vez, o verbo regulamentar, do qual deriva regulamentadora, é «estabelecer regulamento ou norma» e é dado como sinónimo de regular. O dicionário Priberam vai mais longe – demasiado longe, talvez – do que, por exemplo, o

Pergunta:

Como já se passaram 10 anos desde esta vossa resposta, em virtude da qual alguma coisa poderá ou não ter mudado para melhor, gostava de saber se o sinal (euros) deve ser colocado antes ou depois da quantia. Especificando: escreve-se 25,00 €, ou escreve-se €25,00?

Resposta:

De facto, passados dez anos, houve uma alteração – ou uma fixação – da posição do símbolo do euro. Segundo o Código de Redação Interinstitucional da União Europeia, um regulamento interno que estipula as regras e as convenções de escrita harmonizada que devem ser utilizadas pelo conjunto das instituições, órgãos e organismos da União Europeia, «o código EUR ou o símbolo colocam-se depois do montante, separados por um espaço: um total de 30 EUR ou um total de 30 €». Nos textos de língua inglesa, o símbolo coloca-se antes dos dígitos, à semelhança do que acontece com o símbolo da libra ou do dólar, como é da tradição anglo-saxónica.

O referido código deverá servir de referência para a questão levantada pelo consulente, não só por o símbolo ter sido criado pela União Europeia, mas porque este regulamento interno, ao abrigo da aplicação do direito da União Europeia, parece fazer parte do direito derivado que «inclui os atos jurídicos vinculativos (regulamentos, diretivas e decisões) e não vinculativos (resoluções e pareceres) previstos no TFUE, assim como toda uma série de outros atos, como é o caso dos regulamentos internos das instituições e dos programas de ação».

Pergunta:

É correcto dizer predi-lo? Ou deve-se usar outra forma do verbo predizer, ou talvez utilizar prever?

Resposta:

Embora os dois verbos sejam semelhantes, não são sinónimos. Repare-se na formação dos verbos com o prefixo pre-, o qual acrescenta, neste caso, o significado «antecedência», mantendo-se o paradigma de conjugação dos verbos originais (ver e dizer). No caso de pre- + ver, temos o ato de «alcançar o conhecimento de fatos futuros; adivinhar, profetizar, antever» (Dicionário Houaiss); quanto a pre- + dizer, significa «anunciar antecipadamente antes de acontecer» (Priberam), ou seja, aquilo que irá ou poderá acontecer é comunicado a outro ou a terceiros.

Dos significados acima apresentados, decorre que podemos prever um evento futuro sem o anunciarmos (e. g. «Ele previu o desfecho do caso, mas não disse a ninguém»), embora também se possa dizer que alguém previu um evento e que o comunicou, sem ter de usar o verbo predizer (por exemplo, as frases dos treinadores antes dos jogos: «Prevejo que vamos ter dificuldades, mas vamos dar o melhor para vencer o jogo»). No fundo, há uma formalização da predição quando esta é dita ou enunciada, o que é próprio do caráter da linguagem e está presente em muitas situações (veja-se a força da palavra na religião, na magia ou até nos denominados atos da fala – ações realizadas linguisticamente – como a frase «Declaro-vos marido e mulher»).

Quanto ao uso da forma verbal predi-lo, ela está correta. O verbo conjuga-se prediz na 3.ª pessoa do singular d...

Pergunta:

É correto, ou não, usar-se a grafia cincoenta para o numeral 50, ou só cinquenta? Porquê?

Resposta:

A grafia correta para referir o numeral 50 é cinquenta. Nem o Portal da Língua Portuguesa nem a Academia Brasileira de Letras atestam a existência da palavra "cincoenta".

Como é referido aqui, a evolução da palavra cinquenta revela a manutenção de uma grafia próxima do étimo latino. Por outras palavras, manteve-se uma ortografia mais próxima da forma como se escrevia 50 em latim (cinquaginta), com qu, em vez do atual numeral cinco, com co.