Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual o diminutivo de "lápis"?
Agradecia, igualmente, que me esclarecessem acerca da formação dos diminutivos em -inho: quando existe uma "vogal de ligação" esta é "z" ou "s"? (Costumo grafar "Teresinha" e “Lugarzinho", não sei se incorrendo em erro).
Grata pela atenção.

Resposta:

O diminutivo de lápis é lapisinho ou lapisito.
As palavras terminadas em -s ou -z fazem o diminutivo acrescentando -inho ou -ito: adeusinho (adeus + inho), piresinho (pires + inho), alferesinho (alferes + inho); narizinho (nariz + inho), narizito (nariz + ito), raizita (raiz + ita). A presença do -s ou -z intervocálico nestes casos decorre apenas da forma da palavra originária (não pertence ao sufixo): mantém-se o -s ou o -z com que a palavra terminava.
No que diz respeito às palavras Teresinha e lugarzinho, estão ambas correctas.
Os substantivos podem sofrer gradação (grau aumentativo ou diminutivo) por dois processos:
a) sintético, que consiste no acrescento de um sufixo (por exemplo, os sufixos -ão, -inho, -ito);
b) analítico, que consiste no emprego de um adjectivo que atribui ao substantivo essa marca gradativa (grande, pequeno).
Os sufixos -inho e -ito têm duas formas: -inho e -zinho; -ito e -zito. O emprego de uma ou outra não tem regras absolutas, estando por vezes essa selecção ligada ao ritmo da frase. Podemos, no entanto, referir alguns princípios:
1. Emprego da forma -inho (ou -ito):
a) As palavras terminadas em -s ou -z exigem esta forma -inho ou -ito: portuguesinho, portuguesito (português + inho / ito), rapazinho, rapazito (rapaz + inho / ito).
b) Nas palavras terminadas em vogal -a ou -o precedida de consoante, emprega-se predominantemente est...

Pergunta:

À pergunta da nossa consulente Vitália Rodrigues sobre a hifenização das palavras cônsul-geral e consulado-geral a consultora do Ciberdúvidas Regina Rocha respondeu de forma um pouco diferente do nosso consultor Rui Gouveia. Por isso, resolvemos colocar também em linha a resposta que nos enviou.

Ciberdúvidas

Inequivocamente as palavras cônsul-geral e consulado-geral grafam-se com hífen. Mas, porque insistentemente, mesmo em sítios oficiais, estas duas palavras aparecem escritas como palavras autónomas, gostaria que me esclarecessem se tenho ou não razão, para que eu possa esclarecer alguns diplomatas que, apesar de avisados, insistem em deixar a Língua Portuguesa ao critério de cada freguês, apesar de nos seus discursos jurarem a pés juntos que a promovem e defendem.

Resposta:

Os elementos de uma palavra composta por justaposição podem estar simplesmente justapostos, conservando cada qual a sua autonomia gráfica (Idade Média, Nosso Senhor, pai de família), podem estar ligados por hífen (segunda-feira, belas-artes, fim-de-semana) ou podem estar unidos (maldizer, passatempo).
A grafia das palavras vai evoluindo e alterando-se ao longo dos tempos. No caso das palavras compostas, há as que começaram por estar apenas justapostas, sem qualquer ligação, até se tornarem aglutinadas, como é o caso de embora, que tem origem em «em boa hora». A ligação por hífen é uma simples convenção ortográfica, que pode constituir um estádio intermédio entre a simples justaposição sem ligação e a união total dos elementos componentes da nova palavra.
No caso das palavras que refere, elas aparecem hifenizadas (cônsul-geral, consulado-geral) no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, pág. 213 (Imprensa Nacional de Lisboa, 1940), no Vocabulário Ortográfico Resumido da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, pág. 112 (Imprensa Nacional, 1947), no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, pág. 190 (2.ª ed., 1998) e no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Dezembro de 2001).
No entanto, em diversos dicionários portugueses actuais, nomeadamente no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, também da Academia das Ciências de Lisboa (2001), tais palavras não surgem ligadas por hífen.
Assim, não havendo uniformidade de registo nas próprias entidades que são usadas como referência no domínio da ortografia da língua, não poderei dizer que é incorrecto um ou outro registo.

Pergunta:

Participei de um concurso público para provimento de vagas a um dos cargos oferecidos pela Prefeitura local. Logicamente, a Língua Portuguesa foi uma das matérias de avaliação. Hoje, pela manhã, saiu o gabarito das provas e, ao conferir a minha prova, uma questão me suscitou dúvida, pois não concordei com a resposta apresentada pelo promotor das provas do concurso. De acordo com a resposta que os senhores me apresentarem, entrarei com um recurso junto ao instituto para que seja revista a resposta da questão.
Baseados em uma parte de um texto apresentado na prova, foi-nos dada a seguinte afirmativa: "Preservam-se a construção passiva e a correção gramatical ao se substituir 'O sigilo deve ser mantido' por 'Deve-se manter o sigilo'."
Eu respondi que estava errado, pois entendo que o correto deveria ser 'Deve manter-se o sigilo', pois eu entendo que a partícula 'se' deve ser atraída pelo verbo no infinitivo. Além disso, quem está na voz passiva é o verbo 'manter' e não o verbo 'dever'.
Infelizmente, o gabarito disse que a afirmativa estava correta, por isso perdi o ponto nessa questão.
Os senhores acham que eu devo recorrer? Meu pensamento está correto?
Conto com sua compreensão.

Resposta:

Caro consulente, há gramáticos que consideram que numa oração absoluta, independente (como é o caso em apreço), a partícula ou o pronome se tanto podem ligar-se ao infinitivo como ao verbo de que o infinitivo depende. No Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida (1981), por exemplo, surge o registo «Devem-se transformar as leis.» e explica-se que «quando apassivante, o se pode ficar entre o infinitivo e o verbo de que o infinitivo depende: ‘Deve-se repartir a herança’ – ‘Promete-se acabar com as injustiças’ – ‘Pode-se ver o que fez ele’ – “Peixes podem-se pescar...’».
Um conceituado autor português, Vasco Botelho do Amaral, no seu Novo Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa (1943) regista «devem-se comprar esses livros» e refere o seguinte: «Lembremos que é indiferente escrever ‘as cidades podem-se tomar’, ‘a fortuna parecia dever-se inclinar’ ou ‘podem tornar-se’, ‘dever inclinar-se’, etc. Cf. a pág. 152 da Gramática Portuguesa Elementar de Epifânio Dias.»
Na Moderna Gramática Portuguesa de Evanildo Bechara (1999), admite-se a ligação do pronome não só ao auxiliar como ao verbo principal, considerando-se, no entanto (e cita-se o Prof. Martinez de Aguiar), que, por um factor lógico se liga o pronome ao infinitivo, e não ao verbo auxiliar.
Há mesmo autores que consideram que, numa locução verbal em que o verbo principal está no infinitivo, deve ocorrer sempre a ênclise ao infinitivo, ou seja, o pronome deve colocar-se após o infinitivo e a ele ligado. Tal é a posição de Celso Cunha e Lindley Cintra, na sua Nova Gramática do Português Contemporâneo (1997).
Do exposto, caro consulente, decorre que, em princípio, tanto se pode defender a correcção...

Pergunta:

Tenho uma dúvida: Podem-me indicar quais os verbos irregulares terminados em "ear"? Já pesquisei nas respostas anteriores mas sem sucesso.

Resposta:

A irregularidade de um verbo pode ocorrer no radical ou na flexão. Um verbo denomina-se irregular quando apresenta mais do que um radical ou quando não recebe a desinência normal de uma determinada pessoa.
A primeira conjugação (= verbos terminados em -ar) é a que apresenta maior número de verbos, mas a mais pobre em verbos irregulares.
Os verbos terminados em -ear pertencem à primeira conjugação e são um exemplo de uma determinada irregularidade: todos estes verbos recebem a vogal i depois do e nas formas rizotónicas. Isto significa que a semivogal i forma com o e do radical um ditongo que é o núcleo da sílaba tónica nas três pessoas do singular e na terceira do plural do presente do indicativo e do conjuntivo e na segunda pessoa do singular do imperativo: passeio, passeias, passeia, passeiam; nomeie, nomeies, nomeie, nomeiem; norteia.
Exemplos de verbos terminados em -ear: aformosear, arrotear, cercear, enfrear, desenfrear, falsear, frear, golear, ladear, marear, montear, nomear, nortear, passear, refrear, sapatear, tourear.

Pergunta:

Como se escreve correctamente a frase:

"Se tiver os documentos em ficheiro, gostaria que mos enviasse por ‘email’."

Isto parece-me aquilo que ouço mais, mas acho que não está correcto. O verbo "enviasse" tem que indicar "o quê" (os ficheiros) e "a quem" (a mim). Se fosse no presente seria "poderia enviar-me-los"?

Não sei se o verbo "enviasse" está exactamente no condicional, mas tenho muitas dúvidas em conjugar verbos neste tempo verbal com pronomes "-me", "-lhe" e partículas "-se", "-los", etc.

Muito obrigado!

Resposta:

Esta frase consiste num pedido em que está utilizado o verbo gostar no condicional (gostaria) com o valor de «pedir», «solicitar», «agradecer». É o caso em que o condicional é utilizado como forma de delicadeza, de polidez, reveladora de um desejo.

Esse condicional vai exigir, na oração integrante que se lhe segue (oração começada pela conjunção integrante que), um imperfeito do conjuntivo (enviasse).

Quanto ao pronome mos, trata-se da contracção de dois pronomes: me, complemento indirecto, que significa «a mim», «para mim», e os, complemento directo que substitui a palavra documentos. É correcta a forma mos, e não se utiliza “me-los”, nunca.

A frase «Poderia enviar-mos.» forma-se com o verbo poder no condicional, o infinitivo do verbo enviar e os dois pronomes contraídos.

Quanto à dúvida que apresenta no final a respeito dos pronomes, poderá seguir as seguintes regras:

1. Me, te, lhe, lhes contrai com o, a, os, as: mo, ma, mos, mas; to, ta, tos, tas; lho, lha, lhos, lhas.
2. Nos e vos não contrai com o, a, os, as: no-lo, no-la, no-los, no-las; vo-lo, vo-la, vo-los, vo-las.
3. Se nunca se associa a o, a, os, as, mas apenas a me, te, lhe, nos, vos, lhes: quando antes do verbo, os dois pronomes conservam a sua autonomia (se me, se te, se lhe, se nos, se vos, se lhes), quando depois do verbo, ligam-se por hífen (se-me, se-te, se-lhe, se-nos, se-vos, se-lhes).

Seguem-se alguns exemplos de construções com os pronomes que refere: