Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber qual a forma correcta: «... cujas cópias se anexa» ou «... cujas cópias se anexam»?
Grata pela colaboração.

Resposta:

A construção correcta é «cujas cópias se anexam», o que significa «cujas cópias são anexadas» ou «cujas cópias estão anexadas».
Trata-se de uma das formas de realização da voz passiva em português, com a partícula apassivante «se».
Em português pode-se fazer a voz passiva por meio do verbo auxiliar «ser» ou da partícula apassivante «se».
Com o verbo auxiliar «ser», a expressão poderia ser a seguinte: «as cópias são anexadas por mim». Com a partícula apassivante, a expressão correcta é «anexam-se as cópias». Em qualquer das situações, o sujeito é «as cópias»; daí o verbo ter de ir para o plural. Usa-se a partícula apassivante normalmente quando o sujeito é um objecto ou ser incapaz de praticar a acção verbal, sofrendo tal acção, recebendo tal acção (sendo paciente dessa acção), e não se pretende referir quem praticou a acção, não se pretende expressar o agente da passiva.
Este é um caso idêntico ao das conhecidas expressões «vendem-se casas», «arrendam-se apartamentos», «alugam-se barcos», «dão-se explicações», em que o predicado – o verbo – tem de ir para o plural, pois o sujeito está no plural: casas, apartamentos, barcos, explicações.
Trata-se de uma construção existente no latim clássico. Existe uma relação estreita entre a passiva portuguesa com a partícula apassivante «se» e a passiva latina, que não é formada com um verbo auxiliar, mas com a desinência «-r», que os filólogos defendem ser o que resta de um partícula pronominal «se» que evoluiu para «re» pela posição intervocálica. Por exemplo, «escrevem-se» (livros) provém de scribuntur (<– scribunt + se, com um -u- de ligação). É conhecido o exemplo «Louva-se a virtude», que em latim se dizia ‘virtus laudatur’ (<– laudature <–

Pergunta:

Continuo a ouvir os jornalistas da rádio e da televisão (e, não raro, até vejo nos jornais!) esse erro da “precaridade”. Peço, por isso, de novo a intervenção de quem existe para tirar dúvidas a quem, está visto parece não as ter!...

Resposta:

É como diz o consulente: em vez de “precaridade” deverá dizer-se (e escrever-se) precariedade, pois esta palavra pertence à mesma família do adjectivo precário.

Há outras palavras com esta terminação, a respeito das quais se pode estabelecer a mesma relação, como, por exemplo, contrariedade e contrário, arbitrariedade e arbitrário, impropriedade e impróprio, notoriedade e notório, obrigatoriedade e obrigatório, sobriedade e sóbrio, variedade e vário, solidariedade e solidário...

Algumas destas palavras já estavam formadas no latim (‘contrarietatem, varietatem’), outras formaram-se já no português, com o sufixo -dade, usado na formação de substantivos abstractos a partir de adjectivos, como, por exemplo, precariedade e solidariedade.

Não confundir, obviamente, com complementaridade.

Pergunta:

Em Portugal se diz, por exemplo:
"Recomenda-se que o arroz se substitua por batatas"
No Brasil, se diz:
"Se recomenda que o arroz substitua-se por batatas"
A minha pergunta é:
Quais são as regras em Portugal, para saber onde colocar o "se"?
Muito obrigado.

Resposta:

Antes de responder propriamente à sua pergunta, caro consulente, gostaria de me referir à frase que apresenta, que está construída de uma forma pouco elegante, dada a repetição do pronome «se» e sequência dos sons “s”, traduzindo-se num conjunto sonoro a evitar. A mesma ideia poderia ser expressa por uma das seguintes formas:
Recomenda-se que o arroz seja substituído por batatas.
Recomenda-se a substituição do arroz por batatas.
Independentemente da sua função sintáctica, as regras de colocação da partícula «se» são as seguintes:
O «se» coloca-se depois do verbo (posição enclítica), quando pertence a uma oração principal ou independente na forma afirmativa: «Recomenda-se a substituição», «Diz-se que vai chover», «Eles casaram-se», «Ele feriu-se».
O «se» coloca-se antes do verbo (posição proclítica) nas seguintes situações:
Nas orações subordinadas: «Penso que ele se feriu», «Queria que ele se casasse», «Quando se recomenda uma substituição, é preciso conhecer o assunto», «Como ele se foi embora, não sei onde estão os papéis».
Em frases negativas (com advérbios ou pronomes de valor negativo como não, nunca, jamais, nada): «Não se recomenda a substituição», «Ele nunca se feriu», «Eles não se

Pergunta:

Como classificar a palavra "terráqueo" quanto ao processo de formação?

Resposta:

Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, a palavra terráqueo provém do latim medieval ‘terraqueus’ (que tem terra e água), sendo assim, em português, uma palavra primitiva.

Pergunta:

Qual é o feminino de dragão?

Resposta:

O Dicionário Houaiss regista o termo dragoa como a fêmea do dragão.
A generalidade dos dicionários não regista o feminino deste substantivo, considerando-o um substantivo epiceno. Nesta perspectiva, se se pretender referir o seu feminino, poderá utilizar-se a expressão o dragão-fêmea.

 

N.E. O autor escreve segundo a Norma de 1945.