Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

E assim, quando mais tarde me procure, quem sabe a morte, angústia de quem vive, quem sabe a solidão, fim de quem ama.

Qual é o tipo e o sujeito do verbo procurar?

Resposta:

Estes versos pertencem a um célebre soneto de Vinicius de Moraes, o "Soneto da fidelidade".

Transcrevo-o, para compreendermos bem o sentido do trecho que o consulente seleccionou:

   De tudo, ao meu amor serei atento
   Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
   Que mesmo em face do maior encanto
   Dele se encante mais meu pensamento.

   Quero vivê-lo em cada vão momento
   E em seu louvor hei de espalhar meu canto
   E rir meu riso e derramar meu pranto
   Ao seu pesar ou seu contentamento.

   E assim, quando mais tarde me procure
   Quem sabe a morte, angústia de quem vive
   Quem sabe a solidão, fim de quem ama

   Eu possa me dizer do amor (que tive):
   Que não seja imortal posto que é chama
   Mas que seja infinito enquanto dure.

O sujeito do verbo procurar é um sujeito composto: a morte e a solidão. Como está colocado depois do verbo, este concorda com o elemento mais próximo; daí estar no singular. Repare-se que a expressão repetida "quem sabe" não é mais do que uma locução com valor adverbial (= talvez).

Para terminar, este sujeito composto também tem um aposto (ou continuado) duplo: angústia de quem vive (aposto a morte) e fim de quem ama (aposto a solidão).

Pergunta:

Como se considera a palavra "ouvide" do texto a Nau Catrineta?

Resposta:

Transcrevo a quadra inicial de "A nau Catrineta":

   Lá vem a nau Catrineta
   Que tem muito que contar!
   Ouvide, agora, senhores,
   Uma história de pasmar.

"Ouvide" é a 2.ª pessoa do plural do imperativo do verbo ouvir, forma antiga que evoluiu para ouvi.

Pergunta:

Gostaria que me informassem qual das duas colocações está correta.

   1) A mãe reclamou da conduta do funcionário e do procedimento adotado que não permitiram acompanhar sua filha para assistir ao filme.
   2) A mãe reclamou da conduta do funcionário e do procedimento adotado que não permitiram-na acompanhar sua filha para assistir ao filme.

Resposta:

A construção correcta é a seguinte: "(...) que não lhe permitiram acompanhar a filha para assistir ao filme."

Trata-se da forma pronominal "lhe" e não "a", porque é o complemento indirecto.

O possessivo sua é dispensado, pois no início da frase está expresso o vocábulo mãe, que o pronome lhe retoma semanticamente, não sendo necessário especificar de quem é a filha. Se a filha fosse de outra pessoa (de uma amiga, por exemplo), então, sim, teria que se especificar. Sendo daquela mãe, o possessivo sua é redundante.

Pergunta:

Gostaria de saber o que vem a ser exatamente a filologia e qual livro que eu poderia adquirir para um contato inicial.

Resposta:

Filologia é um vocábulo de origem grega que significa "amor à palavra". Designa o estudo da língua em toda a sua plenitude e o dos textos que ao longo dos tempos serviram para a documentar.

Qualquer enciclopédia ou dicionário tem o significado exacto do termo. A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira contém um verbete extenso sobre este assunto, explícito para um contacto inicial. Refere que filologia é a ciência das línguas ou de uma língua em particular, da sua história e da sua gramática e que, em sentido lato, o vocábulo designa não só o estudo de uma língua como também o da literatura do povo que fala essa língua, enquanto que, em sentido restrito, apenas significa o estudo da língua.

O Dicionário de Termos Linguísticos da Associação Portuguesa de Linguística define filologia como a disciplina histórica que reproduz ou reconstrói os textos do passado, identificando e definindo as suas coordenadas sincrónicas e diacrónicas, linguísticas e situacionais, culminando na crítica textual.

Para um contacto inicial, poderá ler os artigos de Francisco da Luz Rebelo Gonçalves (1907-1982) intitulados "Para a história da Filologia Portuguesa", "A Filologia Portuguesa Contemporânea" e "Filologia Portuguesa" (Obra Completa, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1995 e 1999, volume II, pp. 31 a 42, 43 a 61 e 63 a 76).

Pergunta:

Gostaria que, por favor, me enviassem uma resposta precisa do que vem a ser neologismo, gíria e empréstimos linguísticos, quais as diferenças, e que bibliografia me indicariam para eu fazer um trabalho monográfico sobre esse assunto.

Resposta:

A resposta a estas dúvidas está contida em diversos verbetes do Ciberdúvidas.
Sugiro a consulta das respostas em "Textos relacionados".

Veja ainda:

 

Como bibliografia, além da referida especificamente nesses textos, considero que será vantajosa a consulta de gramáticas históricas, de obras sobre história da língua e lexicologia e de duas das primeiras publicações sobre estrangeirismos: Aprendei a Língua Vernácula, de A. da Silva Túlio, Livraria Clássica de Alves & C., Rio de Janeiro, 1893 (selecta contendo "Os Galicismos") e Os Estrangeirismos, de Cândido de Figueiredo, Livraria Clássica Editora de A. M. Teixeira, Lisboa, 1902.