Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

O que são variantes linguísticas? Dê 4 exemplos.

Resposta:

Variante é uma forma linguística que corresponde a uma das alternativas de um dado conjunto num contexto determinado.

Podemos considerar as seguintes variantes:

   1.ª - Variante combinatória, condicional ou contextual: variante que pode ocorrer em qualquer dos domínios da língua e cuja escolha obedece ao contexto. Em fonologia e fonética, estes termos aplicam-se a cada um dos sons de um conjunto de sons semelhantes entre si, do ponto de vista acústico ou articulatório, que numa dada língua nunca se apresentam no mesmo contexto fónico.
   2.ª - Variante livre: variante cuja escolha não obedece a restrições do enunciado nem é previsível por situações contextuais.
   3.ª - Variante morfémica: variante de um morfema determinada pelo contexto. Ex.: amá-vel / ama-bil-idade.
   4.ª - Variante alofónica: variante fonética de um fonema. Os alofones ou variantes alofónicas de um mesmo fonema constituem as suas realizações fonéticas, sendo, na maior parte dos casos, predizíveis a partir do contexto e podendo ser descritas em termos de regras fonológicas.
   5.ª - Variante morfológica: cada uma das variantes estruturais ou gramaticais de um termo. Ex.: menino / menina / meninos / meninas.
   6.ª - Variante ortográfica: cada uma das grafias existentes para um termo. Ex.: aspeto / aspecto.
   7.ª - Variante sintáctica: cada uma das variantes de um termo complexo.
   8.ª - Variantes adiáforas: variantes que se apresentam ao editor de um texto crítico com uma correcção, uma autenticidade ou uma legitimidade que não parecem poder ser postas em causa.

Esta informação teve como fonte o Dicionário de Termos Linguísticos, da Associação Portuguesa de Linguística.

Pergunta:

Estou cursando o 2.º ano de letras e ainda encontro dificuldades com relação aos géneros textuais. Gostaria de receber mais informações sobre o assunto.

Resposta:

A dúvida que apresenta é tão vaga que não sei bem o que pretende. Como poderei dar-lhe "mais informações sobre" géneros textuais se não sei que conhecimentos tem sobre o assunto? Por outro lado, é matéria vasta que não cabe numa página destas. Assim, focarei de uma forma sucinta o conceito de género no que diz respeito ao texto literário e ao texto em geral.

A designação de género literário remonta à Antiguidade greco-romana. O aparecimento de formas literárias diversas levou às primeiras classificações, de que avulta a que definia três géneros ou tipos fundamentais: o género mimético ou dramático, próprio da tragédia e da comédia; o género expositivo ou narrativo, próprio do ditirambo e das composições líricas e o género misto, que combinava as características do dramático e do expositivo, e que era próprio da epopeia. Esta classificação foi adoptada por Aristóteles, que ditou um conjunto de regras e preceitos a respeito da tragédia que serviu de exemplo a formulações para outros géneros literários.

Com o Renascimento, os géneros literários foram definidos de uma forma rígida, cinco géneros de poesia e quatro de prosa. Os géneros de poesia eram os seguintes: o lírico, obras de revelação do mundo do eu, das emoções, dos sentimentos (a elegia, o epitalâmio, a canção, a ode, o soneto, etc.); o épico, narrativa em verso de aventuras heróicas e maravilhosas (o poema épico e o poema herói-cómico); o dramático, representação da vida em acção (a tragédia, a comédia); o didáctico, obras com a intenção de ensinar verdades de ordem moral ou física (a fábula, a epístola, a sátira, o epigrama, etc.) e o pastoral ou bucólico, poemas com diálogo e descrição (a écloga). Os géneros de prosa eram os seguintes: o oratório, cujo fim é o de persuadir; o histórico, narrativa verídica de factos da vida das nações, dos povos; o didáctico e filosófico, cujo objectivo é o ensino da verd...

Pergunta:

Na expressão: coordenação "visomotora", a palavra em destaque como é classificada? É uma palavra formada por hibridismo? Ou por derivação prefixal? O elemento "viso" existe como prefixo e como radical. O que considero? Como diferenciar? Está correta a união sem hífen?

Resposta:

O termo que utilizou não existe dicionarizado.

O Dicionário Médico de Stedman (25.ª edição, 1996) regista o termo "visuomotor" (p.1441) que designa a capacidade de sincronizar informações visuais com o movimento físico.

Quanto às dúvidas que apresenta:

   1. - a palavra viso existe como substantivo que significa visão, acto de ver, vista, os olhos;
   2. - existe ainda como prefixo, mas com o significado de "em vez de", "no lugar de", idêntico a vice-, na palavra antiga viso-rei, ou seja, trata-se de outro elemento;
   3. - existe o radical visuo (de visual), elemento que entra na composição de diversas palavras: visuoespacial, visuopsíquico, visuoscópio, visuognose;
   4. - a palavra visuomotor, no feminino visuomotora, é uma palavra composta por aglutinação dos adjectivos "visual" + "motor";
   4.1. – como ambos os elementos provêm do latim, não se trata de um composto híbrido;
   4.2. – na composição, a terminação –al passa a –o;
   5. - distinguem-se as palavras derivadas por prefixação das compostas por radicais consultando um dicionário etimológico;
   5.1. – poderá ainda familiarizar-se com os radicais eruditos consultando gramáticas ou prontuários, que os têm listados.

Pergunta:

Gostaria de saber por que se usa Maizena com z, pois consultando o dicionário só encontro maisena com s.

Seria um erro intencional?

Obrigado.

Resposta:

Existem ambas as palavras.

Maisena é um vocábulo de origem e uso comercial, de formação inglesa. Em inglês existe a palavra maize (milho) e maizena (maisena). A palavra Maizena começou por ser (e ainda é) uma marca comercial, criada no século XIX, mas vulgarizou-se como designação da farinha de milho fina.

Na 7.ª edição do Dicionário da Língua Portuguesa de António de Morais Silva, publicado em 1878, aparece registada a forma "maiz", a par de "mais", para designar o milho grosso, palavras estas de origem francesa (maïs).

Assim, Maizena é o nome da marca e maisena o vocábulo que designa um tipo de farinha fina, de milho, vocábulo este que teve origem no nome da marca, mas que tem grafia portuguesa actual.

Pergunta:

Minha língua nativa é o inglês e eu estou estudando português no Brasil. Não entendo se devo falar: eu vou à feira ou eu vou na feira. Qual está correto e porquê?

Resposta:

Deverá dizer: "Eu vou à feira."

O verbo ir no sentido de partir de um lugar para outro não se emprega com a preposição em, mas, sim, com as preposições a, para ou de, conforme exemplifico abaixo.

O verbo ir poderá ser utilizado com as seguintes preposições:

   a) a (ir por um período breve, limitado, prevendo um regresso próximo)
   Ex.: Ele foi a Lisboa.
   Ela vai às compras.
   b) para (ir para permanecer, para ficar)
   Ex.: Ele foi para o exército.
   c) de (ir de um lado para outro, de uma situação para outra, ou indicando o meio de transporte)
   Ex.: Ela vai de Paris para Roma.
   Ele vai de comboio.
   d) em (indicando o modo)
   Ex.: Ele vai em peregrinação a Fátima.
   e) com (com companhia ou indicando o modo) Ex.: Ela vai com a irmã.
   Ele vai com pressa.