Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Moto-quatro, moto quatro, motoquatro, ou moto 4?

Tentei procurar pela Internet, mas não encontro uma regra. Pedia que me explicassem qual é o termo que deve ser usado.

Já agora... e o plural?

Obrigada.

Resposta:

Não encontra uma regra, porque se trata de um termo formado para designar uma nova realidade (um neologismo), termo esse ainda não dicionarizado.

A renovação do léxico de uma língua ocorre por diversos processos, um dos quais a composição, que consiste em formar uma nova palavra a partir de duas ou mais. Essa junção de palavras autónomas origina uma outra, diferente, com significado próprio.

Ora, esse processo de formação de palavras não é instantâneo. Inicialmente as palavras são utilizadas na sequência uma da outra, justapostas, não unidas. Posteriormente, quando o novo termo tem um emprego tão frequente que se torna familiar e é sentido como uma unidade reconhecida, então, poderá ocorrer a ligação dos seus elementos por meio de hífen.

Hoje em dia, por vezes, surge a denominação de objectos, instrumentos, veículos, etc. por meio de um substantivo e um numeral, como o caso que apresenta.

Quer o termo venha a estar dicionarizado com hífen (procedimento normal de ligação de dois radicais que mantêm a sua autonomia na formação de nova palavra), quer se utilizem apenas os dois elementos justapostos sem ligação (situação que acontece quando, com ou sem hífen, o sentido do termo se não altera), o plural, esse, segue a regra seguinte: a palavra variável, o substantivo "moto", vai para o plural, mas a palavra invariável, o numeral "quatro", permanece no singular, precisamente por ser invariável.

Pergunta:

Manga-guia ou manga guia? Manga-guia escreve-se com ou sem hífen?

Vejo as duas formas frequentemente usadas e já não sei o que é que está certo.

Agradecia uma resposta e, se possível, a respectiva regra ortográfica.

Resposta:

A renovação do léxico de uma língua ocorre por diversos processos, um dos quais a composição, que consiste em formar uma nova palavra a partir de duas ou mais. Essa junção de palavras autónomas origina uma outra, diferente, com significado próprio.

Ora, esse processo de formação de palavras não é instantâneo. Inicialmente as palavras são utilizadas na sequência uma da outra, justapostas, não unidas, com ou sem preposição a ligá-las.

Posteriormente, quando o novo termo tem um emprego tão frequente que se torna familiar e é sentido como uma unidade reconhecida, então, poderá ocorrer a ligação dos seus elementos por meio de hífen.

É muito frequente hoje em dia a denominação de realidades, objectos, instrumentos, etc. por meio de dois substantivos ou de um substantivo e uma forma verbal, tendo o segundo elemento o valor de "que desempenha a função de" ou "do tipo de" ou "que serve de" ou "que é simultaneamente".

Esse novo termo ou vem a ser grafado com hífen, procedimento normal de ligação de dois radicais que mantêm a sua autonomia na formação de nova palavra, ou é constituído pelos dois elementos apenas justapostos sem ligação, situação que ocorre quando, com hífen ou sem ele, o sentido do termo se não altera.

O termo que apresenta não está dicionarizado como uma palavra autónoma com hífen.

Pergunta:

Gostaria de saber o que é:

* um dialeto geográfico;

* um dialeto social;

* um dialeto de idade;

* um dialeto de sexo;

* um dialeto histórico;

* um dialeto de função.

Resposta:

A consulente utiliza o termo dialeto (grafia brasileira) na acepção de variação linguística em geral. Ora, dialecto designa apenas cada uma das subdivisões que se podem aplicar a uma determinada língua, consoante a região ou a camada social a que pertencem os falantes.

Assim, a respeito das variações linguísticas relacionadas com factores geográficos, podemos referir que em Portugal se considera como norma o conjunto de usos linguísticos das classes cultas da região de Coimbra-Lisboa (hoje seguida pela generalidade dos falantes escolarizados), definindo-se três grupos de dialectos (os setentrionais, os centro-meridionais e os insulares) e que no Brasil, segundo Antenor Nascentes, há a considerar uma divisão dialectal entre o Norte (os subdialectos amazónico e nordestino) e o Sul (o baiano, o fluminense, o mineiro e o sulista).

Podemos ainda referir as variações linguísticas dos falantes de português dos novos países de língua oficial portuguesa, os pidgins e os crioulos de base portuguesa.

Quanto às variações de natureza social, temos não só os regionalismos (variações diatópicas), como as variações diastráticas, ou seja, as relacionadas com a classe social, profissional ou cultural dos falantes: um indivíduo com estudos superiores utiliza a língua de forma diferente da de um analfabeto. Alguns linguistas chamam sociolecto à variedade linguística partilhada por um grupo social que permite demarcá-lo de outros, como, por exemplo, as gírias.

Além disso, se considerarmos as pessoas de um sexo ou de uma determinada idade como um grupo com particularidades socioculturais, poderemos dizer que a variação que decorre dessas diferenças é uma variação diastrática.

Por outro lado, as pessoas de determinada idade (as pessoas ...

Pergunta:

A propósito da resposta de Maria Regina Rocha ao consulente Pedro Nunes, em 20/4/2001, gostaria que fosse analisado o sentido da conjunção "posto que" da última estrofe:   "Eu possa me dizer do amor (que tive):   Que não seja imortal, posto que é chama   Mas que seja infinito enquanto dure."   Dois problemas vejo nessa conjunção. Primeiro: em sendo concessiva, parece-me que causa um paradoxo com o que é dito na oração principal ("que não seja imortal", apesar de ser chama). Ora, daí se entenderia que a "chama" (do amor, ou qualquer outra chama) seria imortal? Mas uma das inerências da chama não é a possibilidade de apagar-se!? O segundo problema é o uso do verbo no presente do indicativo. Não soa bem, mas salva a métrica desse lindíssimo soneto. 

Obrigado.

Resposta:

É muito interessante a análise que faz dos versos finais deste lindíssimo (concordo!) soneto. A poesia é, efectivamente, portadora de plurissignificação e cada um de nós a lê conforme as suas vivências.

Seguindo a sua interpretação, e considerando "posto que" uma locução concessiva, poderei acrescentar que, nos textos dos nossos escritores, essa locução se utiliza muitas vezes com indicativo, como exemplifica Epifânio da Silva Dias na Sintaxe Histórica Portuguesa, em que refere a utilização do indicativo com as concessivas (à excepção de "embora"), quando se fala de "caso real" (e não "coisa suposta"). Nesta linha de pensamento, o paradoxo só não existiria se a palavra "chama" tivesse um valor intemporal de espírito, ideal, sonho.

No entanto, deverei dizer-lhe que não interpretei assim estes versos.   Em minha opinião, "posto que" tem aqui um valor causal, com o significado de "visto que", "já que", "uma vez que", decorrendo disso o uso do presente do indicativo. O poeta diz (assim o creio) que não espera que o amor seja imortal visto que é chama, precisamente porque é chama e, tal como a chama se extingue, assim acontece com o amor.   Justificando, creio estar aqui utilizado o particípio passado de pôr que introduz uma oração substantiva de "que". Assim, esse "posto" significaria "considerado", "verificado", "tendo em conta", "estando assente", "não se pondo em causa". Usamos vulgarmente "posto" neste sentido em expressões como "Posto isto, vamos embora!" = "Já que isto ficou decidido, vamos embora."

Pergunta:

Gostaria de saber mais informações sobre a "Importância do Português Instrumental", pois preciso realizar um trabalho sobre esse assunto, mas o material disponível na Internet e em livros é muito escasso. Seria possível me enviar 'sites' sobre o assunto ou arquivos?

Espero resposta.

Resposta:

Um trabalho com o título "Importância do Português Instrumental" poderá incidir em aspectos vários, consoante a perspectiva do seu autor, o auditório a que se destina e a extensão e dimensão pretendidas.

O domínio da prática da língua como acto de representação do pensamento, permitindo ao homem a sua individualidade na pluralidade de discursos da comunidade a que pertence, e como acto de comunicação entre falantes dessa comunidade é factor essencial da construção e reconhecimento do indivíduo enquanto ser social.

Na Internet poderá obter muita informação fazendo a pesquisa mundial, por exemplo, por meio de www.sapo.pt e introduzindo o termo "português instrumental", o que lhe proporcionará não só bibliografia como disciplinas e programas de diversas instituições e áreas de estudo.