É muito interessante a análise que faz dos versos finais deste lindíssimo (concordo!) soneto. A poesia é, efectivamente, portadora de plurissignificação e cada um de nós a lê conforme as suas vivências.
Seguindo a sua interpretação, e considerando "posto que" uma locução concessiva, poderei acrescentar que, nos textos dos nossos escritores, essa locução se utiliza muitas vezes com indicativo, como exemplifica Epifânio da Silva Dias na Sintaxe Histórica Portuguesa, em que refere a utilização do indicativo com as concessivas (à excepção de "embora"), quando se fala de "caso real" (e não "coisa suposta"). Nesta linha de pensamento, o paradoxo só não existiria se a palavra "chama" tivesse um valor intemporal de espírito, ideal, sonho.
No entanto, deverei dizer-lhe que não interpretei assim estes versos. Em minha opinião, "posto que" tem aqui um valor causal, com o significado de "visto que", "já que", "uma vez que", decorrendo disso o uso do presente do indicativo. O poeta diz (assim o creio) que não espera que o amor seja imortal visto que é chama, precisamente porque é chama e, tal como a chama se extingue, assim acontece com o amor. Justificando, creio estar aqui utilizado o particípio passado de pôr que introduz uma oração substantiva de "que". Assim, esse "posto" significaria "considerado", "verificado", "tendo em conta", "estando assente", "não se pondo em causa". Usamos vulgarmente "posto" neste sentido em expressões como "Posto isto, vamos embora!" = "Já que isto ficou decidido, vamos embora."