Pergunta:
Mais uma vez, gostaria de contar com vossos valiosos préstimos para elucidar uma questão.
O professor Domingos Paschoal Cegalla, em seu Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, no verbete modismo, enumera algumas expressões, que, justamente por serem modismos de linguagem, deveriam ser evitadas.
Não consegui entender, no entanto, o que haveria de errado nestas expressões por ele citadas: «descartar uma hipótese», «filme ou espetáculo imperdível» e «para delírio da torcida».
Agradecendo desde já a atenção dispensada, cordialmente, despeço-me.
Resposta:
Modismos são modos de falar admitidospelo uso, mas que são ou parecem contrários às regras gramaticais da língua respectiva. Também assim se denominam os idiotismos, ou seja, construções próprias de determinadas línguas e que não se podem traduzir literalmente nas outras.
A respeito dos exemplos apresentasos na pergunta, poderemos dizer o seguinte:
1 – Descartar é um termo antigo na língua portuguesa que significa «rejeitar uma carta de um baralho (por não convir ao jogo)», «livrar ou aliviar alguém de alguma pessoa ou coisa inoportuna» e «tirar, privar, despojar de». Na expressão que apresenta, o significado de descartar é «rejeitar», como se a hipótese fosse uma carta de um baralho, constituindo o seu emprego uma generalização desse sentido restrito.
2 -– Imperdível é adjectivo antigo, registado, por exemplo, na 10.ª edição (1949-1958) do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de António de Morais Silva, com os significados de «que se não pode perder», «em que não pode haver prejuízo», «cujo ganho se tem por certo», tendo a palavra perder o significado de «sofrer uma derrota» (imperdível = não passível de sofrer uma derrota). Na expressão apresentada, o significado de imperdível não é este. A palavra ganhou um novo significado por analogia com o outro significado de perder: «ficar sem alguma coisa, deixar de ter, desperdiçar, desaproveitar». Trata-se de um desvio do sentido.
3 – Torcida é vocábulo registado no Vocabulá...