Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Sou diplomado em biblioteconomia, e as Regras Portuguesas de Catalogação, da Biblioteca Nacional, do Ministério da Cultura, dizem expressamente que, na catalogação de monografias (livros), quando se faz a referência ao(s) autor(es) da(s) obra(s) a catalogar, deve-se seguir sempre a forma anglo-saxónica de referenciar os nomes dos autores (primeiramente o último apelido, com a excepção dos autores de origem espanhola, dos quais se devem referir os dois últimos apelidos, e somente depois o nome próprio). Exemplos:

Título: «A Balada da Praia dos Cães»;
Autor: Pires, José Cardoso.
Título: «Instituciones hiapanofilipinas del siglo XIX»;
Autor: Celdrá Ruano, Julia.
Título: «Aconteceu em Conímbriga»
Autor: Castel-Branco, Margarida.

O «Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa», de Magnus Bergstrom e Neves Reis (Editorial Notícias), na sua secção sobre o uso do sinal «hífen» na língua portuguesa, refere que qualquer conjunto de letras, formando um vocábulo, que esteja integrado numa frase, separado das outras palavras da mesma frase (desde que a frase tenha necessariamente mais do que uma palavra) por espaços entre si, é uma palavra independente. Serve isto para salvaguardar quatro excepções, que ocorrem na língua portuguesa, em que é usado o sinal «hífen»:

conjugações pronominais (exemplos: roubou-lhe, furtou-lhe);
palavras justapostas (exemplos: troca-tintas, vira-casacas, guarda-redes, guarda-sol, guarda-chuva);
apelidos onomásticos (exemplos: Corte-Real, Castel-Branco);
e ainda a excepção do anglicismo «xis-acto».

Conheço três pessoas famosas em Portugal que utilizam o apelido Castel-Branco:

Luísa Castel-Branco, apresentadora de televisão; Dr. Nuno Castel-Branco, médico diabetologista e de nutricionismo, da A...

Resposta:

As duas publicações de referência são as Regras Portuguesas de Catalogação, edição do Instituto Português do Património Cultural, Departamento de Bibliotecas, Arquivos e Serviços de Documentação, e as Anglo-American Cataloguing Rules.

O nome do autor Camilo Castelo Branco deverá ser catalogado desta forma: “CASTELO BRANCO, Camilo”. Isto aplica-se aos nomes de todos os autores conhecidos pelos chamados “apelidos compostos”, mesmo que não ligados por hífen. Na publicação portuguesa, além do exemplo acima referido, são apresentados ainda estes: “CORTE REAL, Jerónimo”, “ESPÍRITO SANTO, Humberto”, “PAÇO DE ARCOS, Joaquim”. Nas regras de catalogação anglo-americanas é apresentado o seguinte exemplo: “Machado de Assis, Joaquim Maria”.

Pergunta:

Tenho uma dúvida com relação à concordância verbal do verbo ler e da expressão verbal ser responsabilizado na frase seguinte:

O aluno, leia-se seus responsáveis, será responsabilizado por eventuais estragos.

Ou:

O aluno, leiam-se seus responsáveis, serão responsabilizados...

Resposta:

Deverá utilizar qualquer das formas verbais no singular.

O sujeito de “será responsabilizado” é o aluno.

A oração leia-se “seus responsáveis” é uma oração intercalada de sujeito indeterminado, em que “seus responsáveis” poderia estar entre aspas, para uma maior clareza.

Pergunta:

Estou deveras agradecido por ter merecido a resposta às minhas dúvidas. Porém, continuo ainda um pouco inseguro, pois entendi por sua explicação que a frase (1), "Eles vão superar a si mesmos", não está correta. De fato, pretendo que nessa frase a ação do verbo se reflita sobre o sujeito. E assim sendo, ela é equivalente à frase (2): "Eles vão superar-se". Defendo a correção da frase (1), pelo fato de um de nossos respeitáveis gramáticos (Evanildo Bechara, Lições de Português pela Análise Sintática) afirmar que no português padrão moderno não se admiti "ele" como objeto direto. Afirmação que, a meu ver, condena a frase "Eles vão superar eles mesmos", pois entendo que "eles mesmos", aí, funciona como objeto direto. Estou propenso a pensar que o que valida a frase "Eles vão superar a si mesmos" é o fato de "a si mesmos" funcionar como objeto direto preposicionado. Estou equivocado?
Peço-lhe desculpas do aborrecimento e espero merecer mais uma vez a atenção.

Resposta:

As dúvidas que apresenta levam-me a pensar não ter sido muito clara. Espero conseguir sê-lo agora.

1. Está correcta a frase “Eles vão superar-se a si mesmos.”, mas não, “Eles vão superar a si mesmos.” O verbo está conjugado reflexamente (superar-se) e admite, como reforço da forma átona do pronome (se), o emprego da sua forma tónica preposicionada (a si), constituindo um complemento directo pleonástico.

2. Está errada a frase “Eles vão superar eles mesmos.”, mas está correcta esta outra: “Eles vão superar as dificuldades, eles mesmos.” O pronome “ele” não preposicionado não é usado como complemento directo (dirá Evanildo Bechara, como qualquer outro gramático – é matéria consensual), pelo que a primeira destas duas frases está errada. Mas o mesmo não acontece com a segunda frase, em que o emprego de “eles mesmos” não é mais do que uma forma de realçar o sujeito, repetindo-o. Não se trata do complemento directo, mas do sujeito “eles”, repetido, ligado ao adjectivo “mesmo”, que significa que é o próprio, mencionado, dito, referido.

Pergunta:

A minha dúvida, ou antes indignação, prende-se com a pergunta com o título acima, levantada por outro cibernauta. Eu estou estupefacto com os disparates que todos os burros que apresentam noticiários ultimamente desataram a praticar, i.e., ofendem-se as regras da língua com constantes frases do género: "Não sabe como ele chama-se..."!
Onde é que vamos parar? Porque não mandam essas criaturas fazer cursos intensivos de Português?
Já não nos chegava a influência nefasta das telenovelas brasileiras? Pois as pessoas já começam a dizer o que a outra "falou" – a palavra dizer começa a deixar de se ouvir. Já nada se "diz", falou ...

Resposta:

Estes comentários do consulente são reveladores da preocupação pela defesa da língua enquanto elemento de cultura de um povo.

Sem pretender desculpar o mau uso da língua, deverei, no entanto, lembrar que os factores que contribuem para que tal aconteça são muitos e diversos, sendo por vezes os transgressores da norma mais vítimas do que responsáveis. Creio que todos gostariam de dominar a sua língua e que ninguém erra deliberadamente.

Pergunta:

   Gostaria de saber qual das frases está correta e porquê:

   Quero dizer que é o horário em que o museu se encontra aberto ao público.

   – Horário de visita do museu.
   – Horário de visita ao museu.
   – Horário de visita no museu.

Resposta:

   Dependendo no contexto, poderá utilizar as três preposições.

   1. Em – se pretender indicar o local onde se encontra a informação sobre o horário de visita, onde este se encontra disponível. Ex.: “No museu, o horário de visita está afixado à direita, na igreja, à esquerda.”

   2. De – se pretender referir a que entidade pertence o horário (é o horário deste museu e não de outro; a preposição “de” faz a ligação entre “horário” e “museu”). Ex.: “O horário de visita do museu varia em função das estações do ano, o da igreja, não.”

   3. A – se pretender referir a que local se destina a visita (a preposição “a” faz a ligação entre “visita” e “museu”). Ex.: “O horário de visita ao museu não agradou aos turistas.”

   Neste caso, trata-se do horário da visita dos turistas ao museu (visita de alguém a algum lugar).