Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Está certo assim:
«Net shop tem tudo de que você precisa... »
Ou assim:
«Net shop tem tudo que você precisa...» 
Ou outra opção?

Resposta:

A construção correcta é «Net shop tem tudo o que você precisa.»

 

N. E. (4/10/2018) – Em Portugal, prefere-se usar precisar com regência construída com a preposição de quer associando este verbo a nomes e pronomes – «preciso de um esclarecimento/disso» – quer a orações não finitas –«preciso de esclarecer-te». No entanto, aceita-se a omissão da preposição em construções relativas, apesar de não ser o uso mais adequado: «Temos tudo o que precisa» ( «Temos tudo aquilo de que precisa» ou «Temos tudo do que precisa»). Nas orações completivas, é correto apagar a preposição, tal como sucede com o verbo gostar: «preciso que me ajudes» (cf. «gosto que me ajudes»).

Pergunta:

Tenho um trabalho para apresentar cujo tema é Linguística Aplicada ao Ensino. O meu objeto de análise são textos produzidos por alunos (interpretação de textos). Estes alunos estão na faixa de 16 a 17 anos. Como posso aplicar os conhecimentos da Linguística para análise destes textos?

Resposta:

As possibilidades que tem são muitas. Qualquer texto escrito pode ser analisado à luz dos mais diversos assuntos, cada um deles contendo várias rubricas. Por exemplo:

– situação de comunicação;
– registos de língua;
– sincronia e diacronia;
– funções da linguagem;
– tipologia textual;
– léxico e vocabulário;
– morfologia;
– sintaxe;
– semântica;
– estilística.

Pergunta:

Gostaria de saber se é correto usar o seguinte título para um programa de viagem:

"Do Pacífico ao Atlântico".

É correto usar preposição + artigo no início de uma frase?

Muito obrigada.

Resposta:

É correcto o uso da preposição a iniciar títulos e a iniciar frases. O título indica o assunto da obra, que pode ver enunciado em forma de circunstância. Quanto às frases, elas podem ser iniciadas por uma expressão de natureza adverbial, que é um elemento móvel dentro da oração, muitas vezes contendo uma preposição.

1. Exemplos de títulos iniciados por preposição:

– “No tempo dividido”, de Sophia de Mello Breyner Andresen;
Às cegas, de Fernando Pinto do Amaral;
– “Aos vinte anos”, de Aluísio Azevedo;
– “Da utilidade dos animais”, de Carlos Drummond de Andrade;
– “À ordem do chefe”, de Graciliano Ramos;
De Notícias e Não-Notícias faz-se a crônica, de Carlos Drummond de Andrade.

2. Exemplos de parágrafos começados por preposição:

– “Com as mãos tocando a parede branca, Joana respirou docemente.”, em “O Silêncio”, de Sophia de Mello Breyner Andresen;
– “No andar de cima da fachada há três janelas e uma varanda com grades de madeira.”, em “A casa do mar”, de Sophia de Mello Breyner Andresen;
– “Da sala, no entanto, vinha um ciciar de vozes subtil e íntimo.”, em Os Maias, de Eça de Queirós;
– “Ao outro dia, por uma radiante manhã de Julho...”, idem.
– “Do lado do mar subia uma maravilhosa cor de ouro pálido (...).”, idem.

Pergunta:

Bom dia! Sou aluna de doutoramento e precisava de saber se há alguém que tenha estudado equivalências semânticas entre várias frases para o Português. Ou seja, construções sintácticas diferentes, que levem à mesma interpretação. Julgo que o que eu procuro é trabalhos sobre construções parafrásicas no Português.

Obrigada.

Resposta:

Não tenho conhecimento de trabalhos publicados especificamente sobre este assunto. Sugiro a consulta dos sítios na “Internet” ou bibliotecas dos departamentos de estabelecimentos do ensino superior.

Serão, certamente, do seu conhecimento, obras como as seguintes:

1. ALMEIDA, Elísio Francisco Sá – A semântica das frases genéricas. Tese de mestrado em Linguística Portuguesa Descritiva, Universidade do Porto, 1996.
2. ALVES, Ana Teresa – Alguns aspectos da semântica das construções com diferente e mesmo. Tese de mestrado, Universidade de Lisboa, 1992.
3. AMARAL, Patrícia Matos – Do Paradigma ao Modelo: a relevância da metáfora para compreensão do processo interpretativo. Tese de mestrado em Linguística Geral, apresentada à F.L.U.C.
4. BRÉAL, Michel – Essai de sémantique: science des significations. Paris: Librairie Hachette, 1924.
5. CANDLER, Edmund – The paraphrase of poetry: a manual of scools. London: G. Bell, 1912.
6. CHOMSKY, Noam, et al. – Grammaire générative et sémantique. Paris : Seuil, 1984.
7. COSTA, Maria João Marques Alves – Os valores dos verbos “haver” e “ter” no português arcaico: estudo diacrónico de carácter sintáctico-semântico. Tese de mestrado em Linguística Portuguesa apresentada à F.L.U.C., Coimbra, 1998.
8. ECO, Umberto – As formas do Conteúdo. São Paulo: Perspectiva, 1974.
9. LOBO, Maria Antónia da Costa – As relações sintáticas, semânticas e pragmáticas: uma aplicação. Rio de Janeiro: M.A.C.Lobo, 1993.
10. MARTIN, Robert – Inférence, antonymie et paraphrase: éléments pour une théorie sémantique. Paris: Librairie C. Klincksieck, 1976.
11. PLÉNAT, M. et al. (textes réunis par) – L’empire du sens: structures linguistiq...

Pergunta:

   Há dias, enviei consulta, ainda não respondida, a respeito de presumíveis paralelos etimológicos entre as palavras "segredo" e "segregação". Não é meu hábito insistir, mas devo admitir que tenho alguma pressa na obtenção dessa informação, uma vez que estou elaborando um artigo no qual essa possível combinação etimológica, caso existente, poderia ser explorada para sustentar um argumento específico.

   Desculpem-me a "cobrança", e muitíssimo obrigado.

Resposta:

   Existe relação entre a palavra segredo e a palavra segregar.

   Segredo provém do latim secretu-. Em latim, esta palavra é o particípio passado de secerno, com o significado de separado, afastado de, que se conserva à parte, retirado, isolado, solitário, secreto, oculto, invisível, e também um substantivo com o significado de lugar retirado (cf. o termo português segredo na acepção de cela de presídio na qual se isola o sentenciado), coisa secreta, audiência particular, conversa secreta, meio secreto.

   Segregação provém de segregatio, onis, do verbo segrego, que significa isolar, separar, afastar, (etimologicamente, “separar do rebanho”). O verbo segrego é formado de se + grex. Grex, gregis é um substantivo que significa reunião de indivíduos da mesma espécie, rebanho, multidão, vulgo, grei.