Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Em "todos gostariam de fazer muitas atividades..." é possível considerar dois períodos (O. P. e O. Sub. Subs. O. D.) ou apenas um, tendo "gostar de fazer" como locução verbal?

Resposta:

Neste caso, não há uma locução verbal. O verbo gostar, um verbo regido pela preposição “de”, tem como complemento directo “fazer muitas actividades”. Trata-se apenas de um período.

Tradicionalmente, e genericamente, considera-se que o que caracteriza uma oração é a presença do verbo em forma finita, não constituindo oração o termo em que o verbo surja numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio e particípio passado), sendo esse termo considerado como pertencendo à oração em que se integra.

Modernamente, há gramáticos que consideram esses termos como orações reduzidas.

Assim, de acordo com a primeira perspectiva, temos neste período uma oração com os seguintes termos: sujeito – todos; predicado – gostariam de; complemento directo – fazer muitas actividades. De acordo com a segunda perspectiva, neste período temos duas orações: 1.ª oração – Todos gostariam de; 2.ª oração – fazer muitas actividades, constituindo a segunda uma oração substantiva com a função de complemento directo da primeira.

Pergunta:

Vivo em Cabo Verde. Trabalho numa empresa que faz sondagens e estudos de mercado e por isso trabalho muito com questionários. Assim gostaria de saber qual é a forma mais correcta de começar uma pergunta do tipo:

Em sua opinião...
Na sua opinião...

Obrigado.

Resposta:

Pode ser usada qualquer das expressões.

Se se tratar de um questionário destinado às pessoas em geral, deverá utilizar a expressão sem artigo (em sua opinião). O mesmo, se falar com uma pessoa que não conheça ou em relação à qual mantenha uma certa distância.

No caso de falar com alguém numa situação mais informal ou com quem tenha uma certa familiaridade, deverá usar a expressão com o artigo definido (na sua opinião).

Pergunta:

Qual a diferença entre "idioma" e "língua"?

Resposta:

Em muitos contextos, estas palavras são sinónimas. No entanto, a palavra língua tem um âmbito mais geral do que a palavra idioma. Um idioma é a língua de uma nação, a língua peculiar a uma região. Quando a palavra língua é usada no sentido de conjunto das palavras e expressões usadas por um povo, por uma nação, e o conjunto de regras da sua gramática pode ser substituída pela palavra idioma.

No entanto, a palavra língua tem muitas outras acepções, como, por exemplo, órgão do corpo, modo de expressão de um autor, linguagem, sistema linguístico, sons emitidos por animais, intérprete.

Pergunta:

«Sabes isso porque é que é?»

A minha dúvida é se esta frase está correcta, ou se correcta será «sabes porque é que isso é?»

Ou até se estão a duas correctas.

Resposta:

Como se trata de uma expressão descontextualizada, pode acontecer que haja alguma situação que eu não esteja a prever e que, portanto, a resposta não vá ao encontro da dúvida do consulente.

Na escrita, nenhuma das frases seria aceitável. Deveria escrever: «Sabes porque é que isso acontece?»

Qualquer das frases pertence ao domínio da oralidade. Mas, mesmo no discurso oral, apenas é aceitável a segunda frase.

A primeira frase está mal construída, pois o sujeito da oração integrante («isso») foi colocado fora da oração, ligado ao predicado da oração principal («sabes»). A pessoa quer perguntar se a outra sabe o motivo, a razão pela qual qualquer facto existe ou acontece, mas, com a frase assim construída, está, sim, a perguntar-lhe se ela sabe «isso», se ela conhece o facto em si.

Quanto à segunda frase, é usual na oralidade a utilização daquela forma verbal «é» no sentido de existe, acontece, pelo que pode construir-se a frase dessa forma. Mas trata-se de um discurso pouco cuidado.

Pergunta:

Gostaria de saber se podemos, ao fazer referência à cor de um vestido, usar a expressão em rosa: Trajava um belíssimo vestido em rosa.

Obrigada.

Resposta:

Não, não é uma construção portuguesa. Devemos dizer: “Trajava um belíssimo vestido cor-de-rosa.” E podemos substituir “cor-de-rosa” por “rosa”, palavra que sofreu uma derivação imprópria e, actualmente, é também um adjectivo.