Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Por gentileza, preciso fazer um trabalho e responder as seguintes perguntas:

1 – O que é: língua, fala e escrita?
2 – Dialeto e idioleto, justificar o por que são importantes?
3 – O que são: variantes de prestígio, variantes estigmatizadas, variantes padrão e variantes não padrão?

Fico agradecida se puder me ajudar.

Obrigada.

Resposta:

Poderá consultar um dicionário de termos linguísticos, uma boa gramática e obras de introdução aos estudos linguísticos, que, em qualquer delas, encontra a explicação destes termos, bem como bibliografia útil.

Sumariamente, e de acordo com o Dicionário de Termos Linguísticos, da Associação Portuguesa de Linguística:

a) Língua é um sistema de comunicação verbal que se desenvolve espontaneamente no interior de uma comunidade. Na perspectiva de Saussure, a língua opõe-se à fala e designa o sistema de signos partilhado por uma comunidade de falantes.
b) Fala, na perspectiva de Saussure, é um termo que se opõe a língua e designa a realização individual de enunciados em situação de comunicação.
c) Escrita é um sistema de sinais convencionados por uma comunidade, destinado à fixação da linguagem num suporte material.
d) Dialecto – trata-se de cada uma das subdivisões que se podem aplicar a uma determinada língua, tomando por critério a região geográfica ou a camada social a que pertencem os falantes.
e) Idiolecto é o sistema linguístico de um indivíduo; são os hábitos discursivos de um indivíduo, realizados numa variedade específica, num dada período de tempo.
f) Variante é a forma linguística que representa uma das alternativas possíveis para a expressão, num mesmo contexto, de um determinado elemento fonológico, morfológico, sintáctico ou lexical. A variante pode ser prestigiada (valorizada, aceite como culta, respeitada), ou estigmatizada (considerada feia, reprovável, de mau gosto, de baixo nível), pode corresponder à norma padrão ou afastar-se dela.

Pergunta:

Olá, sou Cibélle, moro no RS e sou estudante do curso de Letras port./ing. da universidade de Santa Cruz do SUl – UNISC; também dou aulas de inglês.

Tenho um trabalho a fazer de Língua Portuguesa II, e gostaria que me ajudassem. Preciso fazer uma resenha sobre a importância da fonética e da fonologia para o professor de línguas. Se puderem me ajudar tanto com material para minha pesquisa, como também com um pequeno resumo sobre o assunto, desde já agradeço!

Resposta:

Poderá consultar qualquer gramática (os capítulos respeitantes à fonética e à fonologia) ou qualquer obra de introdução aos estudos linguísticos.

Poderei, por exemplo, referir-lhe uma obra clássica: Linguística e Ensino do Português, de Émile Genouvrier e Jean Peytard. A edição portuguesa é da Livraria Almedina, Coimbra, traduzida por Rodolfo Ilari, da Universidade de Campinas.

Pergunta:

Gramática de valências, o que é?

Resposta:

O Dicionário de Termos Linguísticos, da Associação Portuguesa de Linguística, apresenta a seguinte definição: modelo de análise da frase simples, em que o elemento fundamental se relaciona com um certo número de elementos estruturalmente dependentes que desempenham determinadas funções gramaticais. Este modelo foi desenvolvido inicialmente por Lucien Tesnière.

Pergunta:

Faz já anos que procuro uma tradução apropriada para "array".

1. Tenho usado "matriz", mas confesso que não gosto da tradução. É de toda a conveniência usar "matriz" apenas no seu sentido matemático. Assim, um "array" unidimensional pode ser usado para representar um vector e um "array" bidimensional pode ser usado para representar uma matriz, existindo ainda "arrays" de dimensão superior a dois sem equivalente na nomenclatura matemática (que eu conheça).

2. Pensei em "renque", que tem o mesmo significado de alinhamento de tropas da palavra "array". Foi dito numa resposta anterior relativa ao mesmo assunto que "renque" tem um significado demasiado linear, o que é verdade.

3. Pensei também em "arranjo", que tem a vantagem de ser usado também em castelhano ("arreglo"). Tem no entanto a desvantagem de o mesmo termo se usar em matemática (combinatória) num sentido muito diferente.

Numa resposta anterior foi dito que uma vantagem de "arranjo" era ter a mesma base etimológica de "array". Acontece que isso não é verdade!

Segundo o dicionário Merriam-Webster, "array" deriva do Latim "arredare", de "ad-" + uma palavra de origem germânica com o sentido de "arranged". As únicas palavras portuguesas que encontrei com a mesma origem são "arreio" e "arrear", que não parecem muito apropriadas neste caso...

Segundo o dicionário Porto Editora, "arranjo" deriva do francês "arranger", que por sua vez, segundo o dicionário Petit Robert, deriva de "ranger", ou seja, dispor em "rangs", sendo que "rang" deriva de "renc" (de onde vem o português "renque", segundo o dicionário Porto Editora), que por sua vez deriva do frâncico "hring", do alemão "Ring".

4. No Ciberdúvidas encontrei a sugestão "ordenação",...

Resposta:

Parece-me que essa palavra tem tantas hipóteses de ser a escolhida como qualquer das já referidas, como vir a adoptar-se ainda uma outra, como ainda adaptar-se ao português o próprio estrangeirismo “array”.

Explicando:

O consulente pretende uma tradução, melhor dizendo, uma palavra portuguesa que corresponda ao conceito da palavra “array”, ou seja, pretende que, no contexto da Informática, se encontre um hiperónimo para as palavras vector, matriz e ainda matriz de dimensão superior a dois.

Os problemas que levanta em relação às palavras até ao momento propostas (renque, arranjo, combinatória, ordenação, ordenamento) também se poderão colocar a propósito da palavra “formação”. Os próprios profissionais da área chegarão a uma solução, independentemente de a palavra ser ou não a mais adequada sob o ponto de vista semântico, e o seu uso dar-lhe-á corpo e existência. Repare que a palavra “array”, que significa “fila”, “lista”, continua a ser utilizada em inglês para os três tipos de “array”, independentemente da sua natureza unidimensional, bidimensional ou outra. E uma lista é só unidimensional...

Pergunta:

Gostaria de saber se o uso da próclise em "Paulo, me disse o professor, vai passar" é lícito. (um professor me disse que na língua culta é preferível usar a próclise à ênclise.)

Grato.

Resposta:

Em Portugal, a frase correcta seria: “O Paulo vai passar – disse-me o professor.” Também seria admissível, embora menos usada, a seguinte construção: “O Paulo – disse-me o professor – vai passar.”

A colocação normal do pronome em frase neutra intercalada é a enclítica.

No Brasil, no entanto, assiste-se à preferência pela próclise nas orações absolutas, iniciando-se mesmo as frases com o clítico, especialmente no caso da forma “me”.