Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

   Sou estudante do curso de Letras da Universidade Braz Cubas, localizada na cidade de Mogi das Cruzes. Estou cursando o 2.° semestre.

   No curso que estou fazendo existe uma disciplina chamada Língua Latina, na qual estou estudando a matéria Gramática Histórica.

   No dia 29 de setembro de 2001 realizei uma prova sobre a evolução da língua portuguesa. Nesta prova havia uma questão bastante polêmica e segundo minha interpretação permitia dupla resposta. A referida questão está descrita abaixo:

   1 – Quanto ao uso uma língua pode ser___________________

   A resposta dada por mim foi a seguinte:

   Quando ao uso uma língua pode ser literária (usado pelos artistas da palavra, pelo povo culto, ensinada nas escolas e nas academias) ou popular (usada pelo povo inculto e despreocupado, que não observa os preceitos gramaticais).

   A resposta dada por mim, tinha como base às afirmações propostas por Serafim da Silva Neto e descritas por Dolores Garcia Carvalho e Manoel Nascimento no livro Gramática Histórica, Editora Ática, São Paulo, 6ª edição, 1970, página 13. Segundo Carvalho e Nascimento estes são os dizeres do senhor Serafim da Silva Neto: "Uma língua tem dois empregos distintos: o literário, quase sempre escrito, usado pelos artistas da palavra e pela sociedade culta, difundido nas escolas e academias - e o popular, falado quase sempre, de que se serve o povo despreocupado e inculto."

Ao meu ver o termo "emprego" citado por Serafim, pode ser substituído por um sinônimo, que a palavra "uso" (Uma língua tem dois usos distintos ...). Diante desta substituição de termos ficou claro que quanto ao uso uma língua...

Resposta:

   Este assunto está fora do âmbito de Ciberdúvidas.

   Apenas lhe poderei dizer o seguinte:

   1 – A sinonímia entre as palavras “uso” e “emprego” não é uma sinonímia total e absoluta, pois em determinados contextos pode não ser possível a comutabilidade, e o valor conotativo pode ser diferente.

   2 – As classificações são convencionais, sendo os próprios especialistas de cada área ou domínio do saber os que sabem a que é que convencionalmente determinaram denominar desta ou daquela forma. Determinados termos que na utilização comum da língua são permutáveis não o são num determinado contexto linguístico, literário, artístico, científico, técnico ou outro.

   3 – A correcta formulação de uma pergunta está directamente relacionada com o contexto. Pode acontecer que, em determinada situação, uma pergunta seja ambígua, e noutra não.

   4 – Desconheço a forma como o estudo dessas rubricas foi orientado; no entanto, sendo as duas palavras utilizadas pelo mesmo autor na mesma obra, a escassas três páginas de diferença, para caracterizar uma língua, era natural que se exigisse a distinção entre o que era abrangido por um termo ou pelo outro.

Pergunta:

Gostaria de obter informações teóricas e bibliográficas sobre o gênero historiográfico, em especial o relato histórico.

Resposta:

Há perspectivas diversas sobre a historiografia ou arte de escrever a História. Os historiadores e especialistas em História é que as dominam.

O relato histórico é, essencialmente, um texto narrativo não ficcional.

Um texto narrativo consiste num discurso que integra uma sucessão de acontecimentos de interesse humano na unidade de uma acção.

Se não houver sucessão de acontecimentos, não há texto narrativo, mas, por exemplo, descrição (se os objectos do discurso estiverem associados numa continuidade espacial), dedução (se eles se implicarem uns aos outros), efusão lírica, etc. Se não houver integração na unidade de uma mesma acção, também não haverá narrativa, mas somente cronologia, enunciação de uma sucessão de factos desligados. Por fim, se o interesse humano não estiver implicado, ou seja, se os acontecimentos relatados não tiverem sido produzidos por agentes e sofridos por pacientes antropomórficos, não poderá haver narrativa, porque é somente em relação a um projecto humano que os acontecimentos têm sentido e se organizam numa sequência temporal estruturada.

Seis constituintes devem estar reunidos, para que se possa falar de texto narrativo, de relato:

1. uma sucessão de acontecimentos;
2. uma unidade temática;
3. alteração de situações, transformação das realidades;
4. integração dos acontecimentos numa unidade (relações entre os acontecimentos e percepção do seu contributo para a unidade geral);
5. a causalidade: a narrativa explica, coordena, mostra a ordem causal, e não apenas o encadeamento cronológico;
6. uma avaliação final, explícita ou implícita: mesmo quando todos os factos são apresentados, permanece sempre o problema da sua interpretação, num acto de julgamento que contribui para a percepção de que fazem parte ...

Pergunta:

O Clube da árvore, programa de educação ambiental desenvolvido pelo Instituto Souza Cruz, fornece sementes e materiais educativos, incentivando atividades ligadas à preservação do meio ambiente.

Diante do excesso de ofertas e dos preços na venda da safra, os agricultores buscam novas opções.

AES Uruguaiana luta para cumprir contratos com as distribuidoras.

Energia eólica ganha viabilidade econômica e solar, ainda cara, encontra mercado no setor de telecomunicações.

Com vôos de três companhias aéreas, será inaugurado hoje um dos mais modernos e "inteligentes" aeroportos do país.

Restaurador ensina técnica de recuperação de peças antigas, com resgate da aparência original da peça.

Prédios antigos recuperados e reutilizados comprovam as possibilidades de aproveitamento dessas construções.

Resposta:

A análise de todas estas frases (7) ultrapassa o âmbito de Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Não se trata de uma dúvida, mas de todo um trabalho. Assim, vou tentar orientá-la na análise da primeira frase, constituindo modelo para a das outras. Vou utilizar a nomenclatura tradicional portuguesa e a nomenclatura gramatical brasileira.

1. Quatro pontos prévios:
1.1. É preciso saber o que vai considerar como oração, visto haver diversas perspectivas a este respeito:
a) apenas se considerarem orações as construções gramaticais que contêm uma forma verbal em tempo finito;
b) além das da alínea anterior, considerarem-se também orações aquelas construções em que o verbo está no infinitivo com sujeito próprio;
c) considerarem-se ainda orações as que contêm o verbo em qualquer das formas nominais (infinitivo pessoal e impessoal, gerúndio e particípio).
1.1. Vou considerar como oração as que refiro na alínea b), excluindo, pois, os termos que contenham o verbo nas restantes formas nominais.
1.2. Por outro lado, quando se fala em análise sintáctica, é preciso clarificar o âmbito, natureza e profundidade do que se pretende:
a) apenas dividir o período em orações e classificá-las?;
b) referir e classificar os elementos constituintes de cada oração (os termos essenciais, integrantes e acessórios)?;
c) decompor cada um dos termos também nos seus constituintes?
1.1. A análise varia em função da profundidade do estudo em causa e do nível de ensino.
1. Quando iniciar a análise, em primeiro lugar, observe os verbos e as sequências entre vírgulas.

2. Esta primeira frase apenas tem um verbo em forma não nominal (fornece), e não há nenhum verbo no infinitivo pessoal. Estamos, pois, perante uma oração.

3. Poderá aqui fazer a tradicional pergunta “Quem fornece?”, obtendo como resposta o sujeito:...

Pergunta:

Faço o 1.º período de pedagogia, a professora pediu para fazer um trabalho sobre linguagem oral e escrita, e explicar suas diferenças. Só que não estou achando nada sobre este assunto. Será que vocês podem me ajudar?

Resposta:

Nos verbetes abaixo indicados, encontra referências bibliográficas que poderão ser úteis. Poderá, ainda, consultar a obra de Emília Amor, Didáctica do Português – fundamentos e metodologia, da Texto Editora.

Nesta obra, a autora equaciona os principais traços diferenciadores entre o oral e o escrito, que se situam a nível da dependência contextual, da planificação e controle, das manobras de reforço e correcção, das prescrições formais e da distância discursiva.

1. A dependência do contexto é mais acentuada no oral do que no escrito. A ela correspondem, no oral, a menor precisão e organização das referências e dos mecanismos de co-referência (recursos paralinguísticos, anáforas pronominais, deícticos situacionais), o uso de um léxico de características anafóricas apenas compreendido em situação (“coisa”, “objecto”, “isso”, “fulano”, etc.), as elipses, as holofrases, os implícitos discursivos, etc.

2. A menor planificação do oral é visível nos fragmentos e rupturas (de palavras, de sintagmas, de enunciados), nas antecipações e retrocessos, nas inversões e mudanças bruscas de tópicos, nas repetições, nas pausas, nos bordões linguísticos, etc.

3. As manobras de reforço e correcção tanto existem no escrito como no oral, mas o texto escrito já nos é apresentado na sua forma final, não sendo visíveis as revisões e reformulações que o discurso sofreu, o que não acontece no oral, em que a correcção é visível por parte do interlocutor. Por outro lado, as repetições, as intensificações de sentido e as precisões metalinguísticas usadas no oral também ocorrem no escrito, quando se exige que seja explícito e redundante, como condição de ser informativo.

4. As prescrições formais, a normalização, é uma característica do escrito, que confere à linguagem uma r...

Pergunta:

Gostaria que me ajudassem quanto à grafia (é com hífen, mesmo?) e quanto à concordância de gênero e número do adjetivo preto-e-branco.

Sapatos preto-e-branco?

Duas gatinhas pretas-e-brancas? Preto-e-brancas?

Resposta:

O termo com hífen vem registado no Dicionário Aurélio Século XXI, referido ao aparelho de TV que reproduz a imagem sem colorido e a trabalhos produzidos apenas com a cor preta e suas gradações até ao branco, como trabalhos impressos, filmes, cópias fotográficas. Utiliza-se normalmente com a preposição “a”: filme a preto-e-branco, fotografia a preto-e-branco, etc.

Para referir que uns sapatos, uma gatinha ou um vestido têm as duas cores, o preto e o branco, não deverá usar o hífen. No plural, flexionam-se os dois adjectivos: sapatos pretos e brancos, gatinhas pretas e brancas.