Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual gramática devo utilizar para meus estudos de português?

Possuo a Nova Gramática do Português Contemporâneo (Celso Cunha e Lindley Cintra) e Nossa Gramática Teoria e Prática de Luiz Antônio Sacconi.

Pergunto porque encontrei divergências entre elas, tais como: – Voz. Flexão ou Aspecto Verbal? Entre outras coisas.

Resposta:

Poderá consultar e utilizar as duas gramáticas que refere, bem como qualquer outra. As gramáticas são obras que expõem as regras de uma língua. A nomenclatura é uma convenção, interessando essencialmente, em qualquer gramática, que ela nos ajude a compreender melhor o funcionamento da língua, pelo que a consulta de várias só é vantajosa.

Pergunta:

É legítimo o uso da expressão "ora bem"? Soa-me como castelhanismo.

Resposta:

É, sim, legítimo o uso dessa expressão.

O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa (2001), regista a expressão “ora bem” com estas duas acepções: “exclamação que exprime espanto” e “exclamação que introduz uma síntese, conclusão ou mudança de tópico”. Esta última vem abonada por A. Vieira, Eleito, p. 15: “Ora bem – preambulou Amenófis XXVIII, - Tu és, realmente, neto do sumo sacerdote.”

Pergunta:

Consultei o novo Dicionário da Academia das Ciências e fiquei admirada por não encontrar este vocábulo, o qual é muito usado na linguagem corrente.

Será que estamos a utilizá-lo erradamente?

Resposta:

Esse termo, efectivamente, não aparece registado em muitos dicionários, mas surge já em 1952 no Dicionário Geral e Analógico da Língua Portuguesa, por Artur Bivar, II volume, p. 1091, com a indicação de ser um adjectivo que significa “que se pode sobrepor”.

Pergunta:

Há ou não redundância na expressão "fratura exposta"?

Resposta:

Não, não há redundância. Exposta significa patente, à vista, manifesta.

Ora, há fracturas que são visíveis, que se notam ao olhar para o corpo, e há outras que não. Por exemplo, uma fractura aberta, em que o foco de fractura está em comunicação com o exterior, é uma fractura exposta, enquanto uma fractura longitudinal, na qual o traço de fractura é sensivelmente paralelo ao eixo do osso, não havendo deslocamento dos fragmentos, constituindo apenas uma fenda ou fissura, não é uma fractura exposta.

O Dicionário Médico Stedman (25.ª ed., 1996) apresenta a expressão “espressed skull fracture” com o significado de “fractura do crânio exposta; fractura com deslocamento para fora de um parte do crânio”.

Pergunta:

Sou escritor brasileiro.

Discordo da explicação dada quanto à prática para identificação do sexo no caso dos substantivos epicenos (setembro/2001). O complemento que se pospõe ao substantivo é um adjetivo (e não outro substantivo). Daí que se deve grafar: a cobra macha (e não macho), o tatu fêmeo (e não fêmea). A respaldar esse entendimento cercam-me bons autores, inclusive Aurélio Século XXI. Apreciaria receber seus comentários, esclarecido que sou assíduo leitor do Ciberdúvidas, ‘site’ que recomendo freqüentemente a pessoas de minhas relações.

Resposta:

Faço o comentário com todo o gosto, referindo desde já que o meu entendimento é diferente do seu.

O Dicionário Aurélio Século XXI (e não só) regista, efectivamente os vocábulos fêmeo, masculino de fêmea, e macha, feminino de macho. No entanto, os substantivos epicenos fazem a distinção entre masculino e feminino, usando os termos fêmea e macho (a fêmea do tatu ou o tatu fêmea; o macho da cobra ou a cobra macho). É desta forma que aparece como norma em qualquer gramática. Neste contexto, moderna e actualmente, macho e fêmea não flexionam em género, sendo usados como adjectivos classificando substantivos dos dois géneros. Apenas nos autores clássicos se encontram as variações macha e fêmeo.

Obrigada pelo apreço que manifesta em relação a Ciberdúvidas.

 

N. E. (09/04/2022) – É possível empregar macha e fêmeo com nomes epicenos, conforme se observa, por exemplo, no Dicionário Houaiss (2001), em anotações às respetivas entradas. Sobre macho, observa-se que estas são classificáveis como adjetivos que «[..] aceitam as flexões habituais da língua: javali macho, jacaré macho: toutinegra macha, formiga macha». Quanto a fêmea, o mesmo dicionário consigna a forma adjetival fêmeo, que [...] aceita as flexões habituais da língua: javali fêmeo, jacaré fêmeo, tatu fêmeo: toutinegra fêmea, formiga fêmea». Na observação referente a macho,  acrescenta-se que «por ser masculino na significação, o feminino (macha) do adjetivo é menos usado do que o substanti...