Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Contestando a tese contrária – cf. Textos Relacionados –. Maria Regina Rocha considera que «à distância» é a expressão correcta por três razões.

 

 

Deverá dizer-se «ensino à distância», ou «ensino a distância»?

Considero que «ensino à distância» é a construção correcta.

A expressão «à distância» ou constitui uma locução adverbial (ex.: «À distância, o general observava atentamente a movimentação das tropas»), ou faz parte de uma locução prepositiva (ex.: «Estavam à distância de 200 metros do quartel»).

Pergunta:

Porque é que em relação a alguns animais não se marca o género?

Resposta:

Na generalidade dos substantivos que designam um ser animado (pessoa ou animal), o género gramatical (masculino ou feminino) corresponde a uma distinção de sexo (exemplos: «o menino», «a menina»; «o gato», «a gata»). O género gramatical (o estabelecido pelos morfemas da palavra) corresponde normalmente ao género natural (o que se fundamenta no sexo dos seres).

No entanto, muitos dos substantivos que designam animais (a maior parte) têm apenas uma forma (masculina ou feminina) para os dois sexos. São os substantivos epicenos, de que são exemplo a serpente, o sapo, a sardinha, o carapau, o abutre, a borboleta, o mosquito...

Tal acontece porque a informação sobre o sexo do animal perde importância aos olhos do homem (que é quem lhe atribui o nome) essencialmente por três motivos: menor semelhança com o homem; menor contacto com o homem (no caso da língua portuguesa, os portugueses); órgãos sexuais internos ou pouco visíveis.

Assim, sendo o homem um mamífero, podemos observar que, em português, muitos dos nomes dos mamíferos têm masculino e feminino, nomeadamente os daqueles que mais de perto privam com o homem: o cão, a cadela; o coelho, a coelha; o cavalo, a égua; o boi, a vaca. Os nomes de mamíferos que não têm marca de género designam no...

Pergunta:

Numa fábula que li aparece a seguinte frase: «A hiena é meu empregado e faz o que lhe mando.»

A minha dúvida prende-se com o género do adjectivo relativamente ao nome que é epiceno.

Resposta:

Esta dúvida é muito interessante, pois, aparentemente, parece que há um erro de concordância, mas, tratando-se de uma fábula escrita, como poderia surgir tal erro? Incorrecção, ou não?

Em primeiro lugar, esclareçamos que a palavra empregado nesta frase não é um adjectivo, mas um substantivo, o que se pode ver pelo uso do possessivo («meu empregado»).

Vou começar por esclarecer a dúvida — que julgo ser a seguinte: «Como hiena é uma palavra feminina, deverá empregar-se o masculino (meu empregado), ou o feminino (minha empregada)?» —, passando, depois, à justificação.

Assim, deverei dizer que há contextos em que a construção «a hiena é meu empregado» se aceita.

Para se compreender a minha afirmação, vou focar, então, três aspectos:

    1.º – Os substantivos epicenos e a diferença entre género natural e género gramatical;
    2.º – O contexto em que a frase surge;
    3.º – A concordância com substantivos epicenos.

1.º Os substantivos epicenos, o género natural e o género gramatical

Nos substantivos (ou nomes) que referem um ser animado (pessoa ou animal), o valor de género corresponde, em geral, a uma distinção de sexo: a palavra professor designa uma pessoa do sexo masculino, e professora, uma do sexo feminino; a palavra leão designa um animal do sexo masculino, e leoa, um do sexo feminino. O género gramatical (o estabelecido pelos morfemas da palavra) corresponde normalmente ao género natural (o que se fundamenta no sexo biológico dos seres).

Uma das excepções é a dos substantivos epicenos. O substantivo epiceno designa um animal e tem só uma forma gramatical (masculina ou feminina) para o...

Pergunta:

Pode dizer-se, em português, que «uma coisa é ligeiramente diferente», que é «muito diferente» ou «um pouco diferente», mas está correcto dizer-se que «uma coisa é mais ou menos diferente do que outra»? E porquê? A mim não soa bem dizer «mais diferente», mas quando recorro à gramática para tentar perceber porquê, não encontro explicação.

Obrigada.

Resposta:

Os adjectivos podem ser modificados por advérbios, mas a ligação de um determinado advérbio a um adjectivo tem que ver com o valor semântico deste. Assim, há adjectivos que permitem a variação em grau, nomeadamente no grau comparativo, em que se utilizam os advérbios mais e menos («mais bonito do que»; «menos paciente do que»), mas outros há que não permitem tal variação.

O adjectivo diferente pode sofrer modificação por um advérbio de quantidade e grau, como, por exemplo, muito, pouco, bastante, bem, ou por um advérbio de modo, também ele com valor de intensidade, como, por exemplo, ligeiramente, demasiadamente.

Exemplos:

1. «Esta casa é bastante diferente da nossa.»

2. «Esta receita é ligeiramente diferente da da minha mãe.»

No entanto, o adjectivo diferente não permite a comparação por meio das partículas «mais... do que», «menos... do que», pois este adjectivo não caracteriza um atributo comparável.

Por exemplo, o adjectivo simpático permite uma comparação, pois uma pessoa pode ser portadora de simpatia em maior ou menor grau do que outra: na frase «A Rita é ainda mais simpática do que a irmã», a simpatia é comum às duas pessoas referidas, mas uma possui-a em maior grau do que a outra.

Ora, quanto ao adjectivo di...

Pergunta:

Gostaria de saber por curiosidade qual a origem da expressão tropa-fandanga.

Obrigada.

Resposta:

O termo tropa-fandanga é formado de duas palavras: o substantivo tropa e o adjectivo fandanga.

Tropa é um termo oriundo do francês troupe, redução de troupeau, «rebanho» (final do séc. XII), provavelmente do latim turba, «multidão em desordem ou movimento». Começou por designar um bando de animais e uma grande quantidade de pessoas juntas, uma multidão. No século XV, já a palavra era utilizada como designação de conjunto de homens de armas: este significado permanece, coexistindo, ao longo dos séculos, com o de grande quantidade de pessoas. No plural (as tropas), o termo passa a designar essencialmente os corpos militares que compõem o exército, o próprio exército, enquanto no singular tem várias acepções, da qual importa aqui a de «bando, multidão». Por curiosidade, refira-se que esta palavra é da família de trupe (tem a mesma etimologia), que significa conjunto de artistas, de comediantes, de pessoas que actuam em conjunto e, ainda, na gíria coimbrã, um grupo de estudantes trajados dispostos a exercer a praxe.

A palavra fandanga é a forma feminina do adjectivo fandango, formado do substantivo que designa a conhecida dança popular sapateada, termo este que entra em Portugal, vindo de Espanha, apenas no século XVIII. Pela conjugação da vivacidade da música, do ritmo, do barulho provocado pela dança e dos que nela participavam, o substantivo fandango passa a ser usado, em sentido figurado, na acepção de «balbúrdia». Surge, então, o adjectivo