Pergunta:
Numa fábula que li aparece a seguinte frase: «A hiena é meu empregado e faz o que lhe mando.»
A minha dúvida prende-se com o género do adjectivo relativamente ao nome que é epiceno.
Resposta:
Esta dúvida é muito interessante, pois, aparentemente, parece que há um erro de concordância, mas, tratando-se de uma fábula escrita, como poderia surgir tal erro? Incorrecção, ou não?
Em primeiro lugar, esclareçamos que a palavra empregado nesta frase não é um adjectivo, mas um substantivo, o que se pode ver pelo uso do possessivo («meu empregado»).
Vou começar por esclarecer a dúvida — que julgo ser a seguinte: «Como hiena é uma palavra feminina, deverá empregar-se o masculino (meu empregado), ou o feminino (minha empregada)?» —, passando, depois, à justificação.
Assim, deverei dizer que há contextos em que a construção «a hiena é meu empregado» se aceita.
Para se compreender a minha afirmação, vou focar, então, três aspectos:
1.º – Os substantivos epicenos e a diferença entre género natural e género gramatical;
2.º – O contexto em que a frase surge;
3.º – A concordância com substantivos epicenos.
1.º Os substantivos epicenos, o género natural e o género gramatical
Nos substantivos (ou nomes) que referem um ser animado (pessoa ou animal), o valor de género corresponde, em geral, a uma distinção de sexo: a palavra professor designa uma pessoa do sexo masculino, e professora, uma do sexo feminino; a palavra leão designa um animal do sexo masculino, e leoa, um do sexo feminino. O género gramatical (o estabelecido pelos morfemas da palavra) corresponde normalmente ao género natural (o que se fundamenta no sexo biológico dos seres).
Uma das excepções é a dos substantivos epicenos. O substantivo epiceno designa um animal e tem só uma forma gramatical (masculina ou feminina) para o...