Na generalidade dos substantivos que designam um ser animado (pessoa ou animal), o género gramatical (masculino ou feminino) corresponde a uma distinção de sexo (exemplos: «o menino», «a menina»; «o gato», «a gata»). O género gramatical (o estabelecido pelos morfemas da palavra) corresponde normalmente ao género natural (o que se fundamenta no sexo dos seres).
No entanto, muitos dos substantivos que designam animais (a maior parte) têm apenas uma forma (masculina ou feminina) para os dois sexos. São os substantivos epicenos, de que são exemplo a serpente, o sapo, a sardinha, o carapau, o abutre, a borboleta, o mosquito...
Tal acontece porque a informação sobre o sexo do animal perde importância aos olhos do homem (que é quem lhe atribui o nome) essencialmente por três motivos: menor semelhança com o homem; menor contacto com o homem (no caso da língua portuguesa, os portugueses); órgãos sexuais internos ou pouco visíveis.
Assim, sendo o homem um mamífero, podemos observar que, em português, muitos dos nomes dos mamíferos têm masculino e feminino, nomeadamente os daqueles que mais de perto privam com o homem: o cão, a cadela; o coelho, a coelha; o cavalo, a égua; o boi, a vaca. Os nomes de mamíferos que não têm marca de género designam normalmente animais que pertencem ao segundo grupo, aqueles que têm um menor contacto ou convívio com o homem, como, por exemplo, a girafa, a baleia ou a foca. Por estes mesmos motivos, os nomes dos animais que não são mamíferos raramente têm a marca do género (por exemplo, o tubarão, o milhafre, a coruja, a joaninha), excepção feita às aves de criação, com as quais, naturalmente, o homem tem mais contacto (por exemplo, o galo, o pombo, o pato, o pavão, todos com o respectivo feminino) e, caso pontual, o de um insecto com importância funcional, a abelha (masculino, o zângão).
Não é, pois, de admirar que, considerando os três critérios acima referidos, a generalidade dos nomes das aves e os nomes de répteis, de peixes e de invertebrados sejam normalmente epicenos: a águia, o gavião, o rouxinol; o crocodilo, o lagarto, a víbora; o salmão, o bacalhau, a corvina; a ostra, o polvo, a lula; a aranha, a mosca, o pirilampo...