Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Li um artigo no Diário de Notícias [em linha], datado de 23 de Março e intitulado «Estudantes chineses estão a aumentar», no qual me deparo com a seguinte frase: «A Escola Básica do 1.º Ciclo n.º 26 não fecha aos sábados, como a maioria das outras. Enche-se de meninos que vêm aprender mandarim, porque é ali que funciona a Escola Chinesa de Lisboa.»

Causa-me uma certa "impressão" a conjunção como na frase. Embora perceba que a escola em questão não fecha aos sábados contrariamente às outras, ao tentar analisar a frase surgiu-me uma dúvida.

1) «A Escola Básica do 1.º Ciclo n.º 26 não fecha aos sábados, como [o faz] a maioria das outras»?

Ou

2) «A Escola Básica do 1.º Ciclo n.º 26 não fecha aos sábados, [tal] como a maioria das outras»?

Ou seja, a escola em questão está aberta ao sábado, contrariamente às outras (frase 1), ou a escola em questão está aberta ao sábado do mesmo modo que as outras (frase 2)?

Muito obrigado.

Resposta:

Esta é uma pergunta muito interessante, reveladora do espírito de observação de quem a formula.

Em rigor, o que se diz na frase é que a Escola Básica do 1.º Ciclo n.º 26 não fecha aos sábados e que a maioria das outras também não fecha nesse dia da semana. Efe{#c|}tivamente, a conjunção como é usada para estabelecer uma comparação, uma analogia, no sentido de «tal como», «da mesma maneira que», «do mesmo modo que», «à semelhança de», «tal como acontece com», indicando, pois, que o segundo elemento que vai surgir, por ela introduzido, é equivalente, análogo, semelhante ao primeiro.

Ora, do que se conhece da organização escolar no século XXI em grande parte das regiões do mundo (creio que também em Macau), a maioria das escolas fecha ao sábado. Assim, talvez o emissor dessa frase tenha querido dizer que a escola referida não fecha aos sábados, ao contrário das outras, que, na sua maioria, fecham nesse dia da semana. Se a situação foi essa, então, não deveria ter sido usada a conjunção como.

Quanto às duas frases apresentadas («A Escola Básica do 1.º Ciclo n.º 26 não fecha aos sábados, como o faz a maioria das outras» e «A Escola Básica do 1.º Ciclo n.º 26 não fecha aos sábados, tal como a maioria das outras»), elas significam o mesmo: a escola indicada está aberta aos sábados; as outras, também. Efe{#c|}tivamente, a situação referida e retomada é «não fecha», e não apenas «fecha», pois o advérbio de negação faz parte integrante do predicado.

Para expressar a ideia de contraste entre o que se passa naquela escola e o que se passa nas outras, poderiam ser usados outros elementos de ligação, tais como ao contrário de, contrariamente a, diferentemente de.

O termo ensino possui a raiz latina sign-, presente nas palavras signo, significar, significado; mas também em sinal, assinalar, assinar, sina, sino e sinete. Aquele que ensina, verdadeiramente, deixa uma marca, um sinal, em quem aprende, marca-lhe, algum modo, a sina.

E quem aprende adquire o conhecimento. Aprender é um verbo formado de apreender (do mesmo étimo latino apprehendere), com o significado de «abarcar com o espírito», «abranger com o entendimento».

Palavras que identificam os seus naturais

«Na palavra Portugal, a vogal o pronuncia-se u, mas na palavra Porto, na sílaba inicial, pronuncia-se ô.  (...) Ou ó  nas palavras porta e roda, por exemplo. Porquê?» Artigo de Maria Regina Rocha, no Diário do Alentejo de 10 de Julho de 2009.

A palavra dita, falada, pronunciada, é poderosa.

Artigo de Maria Regina Rocha, no Diário do Alentejo de 19 de Junho de 2009, esclarecendo uma recorrente hesitação (e erro sistemático)  no emprego do singular ou do plural. Ou seja, quando se trata do verbo viver ou da interjeição de saudação «Viva!». Uma situação  similar à do emprego da conjunção  disjuntiva seja.

Pergunta:

Perante um texto literário em inglês americano em que o narrador autodiegético caminhava na Georgia Avenue, eu teria a tendência para traduzir para português como «Avenida "da" Geórgia», mas alguém alvitrou «Avenida Geórgia». Qual destas formas seria uma melhor tradução, se é que assim se pode dizer?

Muito obrigado pelo aconselhamento.

Resposta:

Em Portugal, a tradução recomendada é Avenida da Geórgia,1 como Avenida da Índia ou Avenida do Brasil. Na designação de avenidas, de ruas ou de praças, observam-se as situações que se referem de seguida.

1. Em geral, utiliza-se a preposição de a ligar a palavra rua, avenida, praça, etc. à designação da mesma. É a forma tradicional de construir estas denominações. Tal acontece, nomeadamente, nas designações que incluem:

a)    Topónimos (nomes de locais, de cidades ou de países). Ex.: Rua de Aveiro, Rua de Macau, Praça de Espanha;
b)    Substantivos que designam conceitos, sentimentos, cargos, situações, características. Ex.: Avenida da Liberdade, Rua da Alegria, Avenida da Boavista;
c)    Substantivos comuns. Ex.:...