Maria Eugénia Alves - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Maria Eugénia Alves
Maria Eugénia Alves
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Professora portuguesa, licenciada em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com tese de mestrado sobre Eugénio de Andrade, na Universidade de Toulouse; classificadora das provas de exame nacional de Português, no Ensino Secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Queria que me ajudassem a respeito dos significados dos seguintes provérbios: «Quem o alheio veste na praça o despe», «Quem não tenta não inventa», «Quem não tem força não levanta peso», «Quem não se dá com os seus não se dá com ninguém», «Quem não se contenta com o pouco o muito não apanha».

Obrigada.

Resposta:

1. Quem o alheio veste na praça o despe – forma rimada de carácter moralizante, como muitos outros provérbios portugueses. E qual é a moral? Alguém que usurpa alguma coisa indevidamente, mais tarde ou mais cedo vem a ser descoberto por todos, publicamente.

2. Quem não tenta não inventa – este não faz parte dos provérbios portugueses. Significa que aquele que se acomoda à situação, que não arrisca, não será nunca alguém que inova, que descobre, que inventa. Poderá corresponder a Quem não arrisca não petisca ou Quem nunca se aventurou não perdeu nem ganhou, in Provérbios & Adágios populares, Cláudia Ribeiro, Planeta Editora.

3. Quem não tem força não levanta peso – também não encontramos este na listagem dos provérbios portugueses, mas tem correspondência, por exemplo com este: Quem não tem panos não arma tendas ou Quem não tem unhas não toca guitarra, significando que alguém com fracos recursos fica limitado à sua situação, não podendo ir mais longe.

4. Quem não se dá com os seus não se dá com ninguém – também esta sentença não faz parte do conjunto de provérbios portugueses: parece significar que o privilégio das relações humanas vai para a família, e que quem não faz isso não o faz com mais ninguém.

5. Quem não se contenta com o pouco o muito não apanha – neste (encontrado em Dicionário de Ditados (Provérbios) e frase...

Pergunta:

Gostaria de saber se a palavra sacada é utilizada em Portugal como varanda pequena ou se apenas é utilizada a palavra varanda, independentemente se a varanda for pequena ou não.

Obrigada.

Resposta:

   O Dicionário Infopédia dá como definição «varanda pequena», mas para o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, é o «Balcão de uma janela que ressai da parede», não fazendo qualquer referência à dimensão da estrutura arquitetural.

   De facto, de uma forma generalizada, o termo emprega-se usualmente, sem ter em conta esse detalhe da dimensão. Diz-se sacada ou varanda, independentemente do tamanho que possa ter.

Pergunta:

Qual a lógica de «expressão plástica» para nos referirmos à pintura, à escultura...

Obrigada. 

Resposta:

    Plástico, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, é o «que se pode modelar com os dedos e receber diferentes formas. = dúctil, maleável, moldável». Acrescenta ainda «que é relativo a ou provoca reação estética causada pelas formas (ex.: artista plástico; obra plástica).»   

       As artes plásticas usam técnicas de produção que manipulam materiais para construir formas e imagens, para dar a conhecer expressões que podem ser apresentadas em diversos suportes.

     O artista plástico manuseia papel, tinta, gesso, argila, madeira, metais, etc., e com estes materiais forma objetos que, quando exibidos, provocam uma reação estética. Logo, o seu trabalho resulta de dar expressão artística a materiais que moldou criativamente, a tal «expressão plástica», referida pela consulente.

     Por outro lado, esta ductibilidade é própria de um «tipo de resina sintética, modelável, de grande importância industrial»¹, de que é feito, por exemplo, o saco de plástico. 

      Ainda sobre a maleabilidade referente aos materiais das artes plásticas, com o intuito de moldar, dar forma, estendeu-se o conceito a um certo tipo de cirurgia que tem por objetivo a reconstituição de uma parte do corpo humano por razões médicas ou estéticas, «a cirurgia plástica». 

¹Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

Pergunta:

Qual a classificação do verbo «passar» em «passar de»? E qual a classificação sintática do termo que lhe é posterior em frases como «Você não passa de um safado» e em «Você passou de cama ontem»?

À luz da semântica, parecem-me, respectivamente, um verbo de ligação com um predicativo do sujeito. Em «Você passou de cama», parece-me «Você passou acamado».

O que lhes parece?

Resposta:

 O uso de não passar de é bastante generalizado, cuja intenção é dar uma ênfase à expressão que lhe é negada quando se diz apenas o verbo ser, semanticamente correspondente.

 De facto, o Dicionário da Academia diz que «não passar de significa ser apenas, não ser senão. Exemplo: «A doença dela não passa de uma constipação

Tendo em conta esta definição, a locução verbal adquire um valor de verbo copulativo, selecionando, por conseguinte, um predicativo do sujeito.

Então, na frase «Você não passa de um safado», um safado seria o predicativo do sujeito.

Sabemos, no entanto, que o grupo dos verbos copulativos é restrito, mas, segundo a Gramática do Português, da Fundação Calouste Gulbenkian, vol.II, p.1301, poderão fazer parte desta lista os verbos que, cumulativamente, possuam duas propriedades: «(i) a possibilidade de o verbo ocorrer com qualquer tipo semântico de sujeito e (ii) a possibilidade de o verbo ocorrer num sintagma verbal em combinação única e exclusiva com um adjetivo.»

Exemplo:

(i) «O gato não passa de um safado.»

(ii) «O gato não passa de esquisito.»

(iii) «O livro não pas...

Pergunta:

Estou com uma dúvida relativamente às funções sintáticas na seguinte frase: «A Sandra levou o carro de casa para a oficina.» Qual é a função sintática de de casa e de para a oficina?

Resposta:

No caso de de casa, esta locução desempenha a função de complemento oblíquo, uma vez que se trata de «um constituinte exigido pela regência do verbo que, para completar o sentido, necessita de uma expressão introduzida por uma preposição, ou de um advérbio.»¹

Relativamente a para a oficina, trata-se do modificador do grupo verbal, pois a expressão «designa uma circunstância acessória da ação».²

 

¹ in Gramática de Português, p. 119, de Maria Regina Rocha, Porto Editora, 2017

² in Gramática de Português, p. 122, de Maria Regina Rocha, Porto Editora, 2017