Pergunta:
Gostaria de saber qual o valor expressivo da hipálage presente nos versos «(...) é que eu te falo das palavras/desamparadas e desertas/pelo silêncio fascinadas.», do poema O Silêncio, de Eugénio de Andrade.
Resposta:
Massaud Moisés, no seu Dicionário de Termos Literários, define a hipálage da seguinte forma:
«Constitui um expediente retórico segundo o qual um determinante (artigo, adjetivo, complemento nominal) troca o lugar que logicamente ocuparia junto de um determinado (substantivo) para associar-se a outro» .
A hipálage é uma figura de linguagem caracterizada pela atribuição de uma característica de um ser ou objeto a outro ser ou objeto que se encontra próximo ou relacionado com ele. Assim, é atribuído um adjetivo a um substantivo quando na realidade esse adjetivo se refere, lógica e naturalmente, a outro substantivo.
Este recurso tem como principal objetivo aumentar a expressividade da mensagem. São conhecidos estes exemplos:
«Fumando um pensativo cigarro.» (Os Maias, Eça de Queirós)
«O silêncio desaprovador dos meus colegas.» (A queda dum anjo, Camilo Castelo Branco)
«Sobre as aldeias tristes, sobre o silêncio humilde do fumo das lareiras...» (Manhã Submersa, Vergílio Ferreira)
Nos versos finais do poema O silêncio, «é que eu te falo das palavras/desamparadas e desertas//pelo silêncio fascinadas.», vemos que os adjetivos foram deslocados do sujeito poético para ou...