Luciano Eduardo de Oliveira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Luciano Eduardo de Oliveira
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Luciano Eduardo de Oliveira, poliglota, tradutor, professor de idiomas, formado em Letras na Unifac Faculdades Integradas de Botucatu.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Em consulta ao Aulete Dicionário Online, constato que excerto, significando «trecho de um texto, fragmento de uma escrita», pronuncia-se com o e fechado, conforme indica: [ê].

Todavia, tenho visto, no STF, julgamento do mensalão, o uso da palavra com o e aberto, ou seja, "é" como pronuncia aqui Edson Silva.

Afinal, qual a pronúncia correta?

Antecipadamente grato pela atenção.

Resposta:

O iDicionário Aulete, como se pode comprovar pelo registo áudio e indicação fonética que acompanham o verbete de excerto, apresenta a pronúncia excêrto, com e fechado, à semelhança de outros substantivos masculinos onde ocorre a mesma vogal em sílaba tónica (aperto, cebo, carreto, dedo). Este timbre é confirmado por dois dicionários produzidos em Portugal, o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, cujas transcrições fonéticas também mostram um e fechado (símbolo fonético [e]).

Deve, no entanto, assinalar-se que outros dicionários, quer de português europeu quer de português do Brasil, não confirmam claramente esta pronúncia. Com efeito, o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (português), o Dicionário Houaiss (edição brasileira) e o Aurélio XXI não dão indicação de e fechado para excerto. Note-se que na dicionarística do português é costume juntar uma indicação de pronúncia parcial quando se trata de assinalar tal vogal em sílaba tónica de substantivos masculinos, ficando os casos em que ocorre um e aberto tónico sem indicação. Dentro desta lógica, dir-se-ia que excerto tem e aberto, visto que os referidos dicionários são omissos sobre um e fechado.

Sendo assim, parece que excerto com e aberto não é forma ilegítima nem sequer condenável, e o mesmo se diga da forma com...

Pergunta:

Há sujeito na frase «Senhor, livrai-nos de todo mal»? Como identificar o sujeito em frases com vocativo?

Agradecido.

Resposta:

O vocativo não altera em nada a identificação do sujeito. O sujeito é aquele com que concorda o verbo na frase, «livrai», imperativo afirmativo do verbo livrar para a segunda pessoa do plural, vós. Portanto: vós é o sujeito (subentendido).

Pergunta:

Agradecia que me explicasse o que significa «Seu» antes do nome («Seu Jorge», por exemplo), no Brasil.

Muito obrigado e longa vida ao Ciberduvidas.

Resposta:

Extraído do Dicionário Houaiss (2009):

«Seu: s. m. senhor (tratamento respeitoso) [Empregado diante de nome de pessoa, ou de outro axiônimo, ou de palavra designativa de profissão.] <seu Joaquim> <seu doutor> <seu delegado> ¤ gram fem.: sinhá, sinha, siá, sia, senha ¤ uso empregado também com valor afetivo (seu bobinho!), de forma jocosa (p. ex.: aposto que seu Tiago saberá a resposta [sendo Tiago uma pessoa jovem]) ou disfêmica (seu pateta!), ou, ainda, com matiz interjetivo (tinha coragem de me enfrentar nada, seu!); nestes casos, há no Brasil os femininos sua, senha, sinha ¤ etimologia: ver em senhor»

Nota pessoal: nunca vi sinha, sia, senha. Sinhá e siá têm forte sabor rural.

Etimologia de senhor: «lat. senĭor, ōris, "mais antigo, mais velho", comparativo de senex, senis, "ancião, velho"; como tratamento, pode ocorrer na linguagem popular do Brasil sob as formas reduzidas siô, , sinhô, inhô, inhor, nhô, nhonhô, ioiô (e respectivos dim.) e ainda sob a forma seu e , sor, usado na língua em geral ¤ sinônimo/variante cavalheiro, seu, sinhô, siô, (os quatro últimos informais).»

Pergunta:

Eu e meu amigo acabamos discutindo sobre a frase abaixo fazer sentido ou não.

«Foram encontrados vários esqueletos em sua descoberta, a maioria femininos, o que levantou a teoria de que Machu Picchu fosse uma cidade de escolhidas pelo Inca.»

A ideia que estamos tentando passar é de que Machu Picchu fosse uma cidade de mulheres escolhidas, mesmo sem citar «mulheres» na frase, pois creio que o sentido fique implícito do jeito que está.

O motivo de «pelo Inca» estar no singular se dá ao fato de que não nos referimos aos Incas como povo, mas a uma pessoa ou entidade, cujo nome é Inca.

Mesmo a frase estando estranha, existe erro de português nela ?

Desde já agradeço.

Resposta:

Acredito que apenas o fato de não a ter entendido na primeira vez que a li já é sintomático. Além disso, não há antecedente feminino explícito no texto que preencha essa lacuna, e o adjetivo femininos não vale, por estar no masculino e referir-se a esqueletos, substantivo masculino plural. A frase, portanto, está errada no meu entender, devendo nela ocorrer a palavra em falta, mulheres («Foram encontrados vários esqueletos em sua descoberta, a maioria femininos, o que levantou a teoria de que Machu Picchu fosse uma cidade de mulheres escolhidas pelo Inca»).

 

 

Pergunta:

Como posso escrever?

«Neste bimestre, o aluno apresentou....»

«Nesse bimestre, o aluno apresentou....»

Obs.: Estou entregando aos pais um parecer do 3.° bimestre.

Resposta:

Se o parecer é do 3.° bimestre e ainda nos encontramos no mesmo bimestre, diz-se «neste bimestre». «Nesse bimestre» usa-se para referir um bimestre de que se falou, mas não aquele em que nos encontramos. Por exemplo, estamos no 3.° bimestre e dizemos: «No 2.° bimestre o aproveitamento do aluno caiu bastante. Nesse bimestre (ou seja, no segundo, mas já nos encontramos no terceiro) suas notas pioraram muito em comparação com as do 1.° bimestre.»