José Neves Henriques (1916-2008) - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Neves Henriques (1916-2008)
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Professor de Português. Consultor e membro do Conselho Consultivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Antigo professor do Colégio Militar, de Lisboa; foi membro do Conselho Científico e diretor do boletim da Sociedade da Língua Portuguesa; licenciado, com tese, em Filologia Clássica pela Universidade de Coimbra; foi autor de várias obras de referência (alguns deles em parceria com a sua colega e amiga Cristina de Mello), tais como Gramática de hojeA Regra, a Língua e a Norma A Regra, Comunicação e Língua PortuguesaMinha Terra e Minha Gente e A Língua e a Norma, entre outrosFaleceu no dia 4 de março de 2008.

CfMorreu consultor do Ciberdúvidas

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

As frases que transcrevo do "Correio da Manhã" (edição de 26 de Abril) estão correctas? Pode-se escrever «aproveitar a» e «aproveitar de» no contexto referido?
«Investigação portuguesa só aproveita aos outros».
«Apenas os alemães e, em parte, os espanhóis aproveitaram da investigação realizada pelos portugueses».

Resposta:

Ambas estas sintaxes são correctas, mas aproveitar a significa dar proveito, ser útil, ser proveitoso; e aproveitar de significa tirar proveito, lucrar.

Pergunta:

Volto ao mesmo assunto porque me pareceu não estar a ser dado ao termo «reactivo» o sentido que na minha mensagem anterior pretendi dar-lhe e é já comummente usado na terminologia de Gestão.
«Proactivo» seria assim o que age antes, prevenindo os acontecimentos; «reactivo» o que reage aos acontecimentos; aliás, este termo não é novo (ao contrário de proactivo), encontrando-se dicionarizado; quem tem esta característica não olha para trás, para tentar compreender os motivos que originam a situação perniciosa, de modo a evitar a sua repetição, limita-se a tentar resolver as consequências e, provavelmente, fa-lo-á tantas vezes quantas vezes tal situação se lhe depare.
Sendo este o sentido do termo, não me parece que «retroactivo» se possa considerar antónimo adequado a «proactivo».

Resposta:

Estas duas palavras não podem deixar de ser antónimas, porque o prefixo retro- significa para trás, e o prefixo pro- significa para a frente. São palavras de significações opostas.

Imaginemos o ponto A e o ponto B.

O ponto A indica «as coisas» em evolução para dar as respectivas consequências no ponto B.

Suponhamos que em A «as coisas» se estão desenvolvendo negativamente, de tal modo que vão dar consequências nefastas em B. Tem de haver no ponto A uma acção retroactiva, isto é, «activa» «para trás» (retro-), a fim de se evitarem consequências nefastas em B.

Suponhamos agora que em A «as coisas» não se desenvolvem negativamente. Tem de haver um acção proactiva em A, isto é, «activa» «para a frente», guiando «as coisas» para o ponto B a fim de que as consequências sejam as que se pretendem.

Pergunta:

O nome colectivo «fio» existe? Se existe, é ou não correcto utilizá-lo para indicar um conjunto de atuns?

Resposta:

A palavra fio nunca é nome colectivo. Poderá significar «alinhamento de objectos ou animais». Neste caso, porém, é preferível enfiada - enfiada de atuns.

Mas com o significado de conjunto, sem ser em linha, não é correcto, como se compreende.

Pergunta:

Por indução do inglês "Mauritius", muitos portugueses (nas rádios, na TV, agentes de viagens...) chamam «Maurícias» à Maurícia. Não seria preciso, vá lá, mas, se pensassem, por ex., no francês ("Maurice"), iriam por outro caminho.
Isto vem a propósito de "Fernão do Pó", que acabo de ver no Ciberdúvidas.
Estarei correcto?

Resposta:

Sim, o nome da tal ilha é Maurícia. Provém do inglês "Mauritius" ou do francês "Maurice". Diz-se no feminino para concordar com ilha - ilha Maurícia. Foi descoberta pelos portugueses em 1508.

José Neves Henriques clarifica a sua anterior resposta sobre este tema – acolhendo os argumentos do consulente A. Mendes da Costa, com o texto Em defesa de deslocalizar. Uma controvérsia, esta que contou ainda com a participação de Amílcar Caffé com o texto Contra a «deslocalização».